Se já se torna difícil concorrer com a grande leva de modelos chineses que não param de ser lançados, imagine em um Salão na capital do país. Claro que muitas das novidades visam o próprio mercado interno de 26 milhões de unidades por ano (10 vezes maior que o brasileiro).
Toda essa volúpia de lançamentos, no entanto, esconde um risco que os fabricantes locais não gostam de comentar. A capacidade instalada é aproximadamente o dobro da demanda. Isso obriga a oferecer descontos crescentes e a exportar a qualquer custo, em grande parte coberto por subsídios do governo pouco transparentes para dizer o mínimo.
Há pelo menos 40 novidades na exposição iniciada em 25 de abril até 4 de maio. Várias marcas e modelos são desconhecidos no Ocidente a exemplo de Arcfox Alfa S5, Fangchengbao Speedster Super 9, Lynk&Co 07, Mengshi M-Hunter, Qiyuan E07, Hongqi HQ9, Hyper SS9, Denza Z9 GT, Zeekr Mix, Avatr 1, Haval Raptor, Geely Galaxy e até o exótico carro conceitual voador Xpeng, entre outros.
Um dos que mais chamam atenção é o Xiaomi SU7, primeiro produto da fabricante chinesa de celulares, smart TVs e tablets. Sem nenhuma experiência em produzir automóveis apelou para a BAIC que, além de produzir os Mercedes-Benz na China, tem seus próprios modelos.
Fabricantes ocidentais tiveram presença discreta. Honda Ye GT, P7 e S7 (os dois últimos crossovers); Lamborghini Urus SE (híbrido plugável); BMW Série 4; Mazda EZ6; Mercedes-AMG GT 63 S E Performance e Classe G elétrico; MINI Aceman; Toyota bZ3X; VW ID Code.
As duas marcas que vão produzir aqui, primeiro GWM e depois BYD, também sobressaíram. O SUV híbrido Tank 400 (importado inicialmente), Haval H6 reestilizado (primeiro produto de Iracemápolis (SP) e depois a picape Poer) e Haval H4 são os destaques da GWM no Salão.
A BYD expôs o carro-conceito Ocean M visando o mercado europeu, a picape média Shark e o sedã médio-compacto King. O plano de negócios da segunda marca chinesa prevê começar a produção no início de 2025 em Camaçari (BA). Estão confirmados os hatches Dolphin e Dolphin Mini, além do SUV Song Plus, a Shark e provavelmente o SUV Yuan Pro.
Ao completar 25 anos, coluna vê passado e futuro da indústria
Um quarto de século sem falhar nenhuma semana. Em primeiro de maio de 1999 esta coluna estreou em 11 jornais. Hoje o número de publicações na internet domina o cenário editorial: 72 sites/blogs e 8 impressos. O ano de 1999 marcou referências históricas importantes. A exemplo do Novo Regime Automotivo (NRA). Criado em 1996, teve seus efeitos benéficos concluídos em 1999.
Desde o início dos anos 1950 já havia fabricantes instalados no Brasil, mas se limitavam a montar conjuntos mecânicos importados. Somente em 1956 a Romi e a Vemag começaram a produzir com baixo conteúdo local, na época chamado de índice de nacionalização e, hoje, índice de localização.
Foi um começo difícil e crises tiveram que ser superadas. O Brasil voltou a autorizar a importação de veículos em 1990 (proibidas desde 1976), mas faltava uma visão de futuro. Houve uma demora até o governo sentir que devia atrair mais fabricantes.
O NRA alcançou seus objetivos: a produção de veículos aumentou de 1,6 milhão em 1997 para 2,4 milhões em 2000. As exportações cresceram bastante, de US$ 3,5 bilhões em 1997 para US$ 8,5 bilhões em 2000. Instalaram fábricas neste período Honda, Renault, Mitsubishi (Souza Ramos), Toyota, Chrysler, Mercedes-Benz e VW/Audi.
O ano de 1999 foi movimentado por sete lançamentos no Brasil: A3, Brava, F250, Astra sedã, Gol III, Parati III e Golf IV (foto).
No exterior dois fatos marcaram o ano de 1999: Ford comprou a Volvo e Daimler-Benz que havia anunciado uma “fusão de iguais” com a Chrysler no ano anterior, deixou às claras em 1999 que na realidade havia adquirido a marca americana. As culturas das duas empresas eram muito diferentes. O casamento não deu certo e em 2007 a marca alemã “empurrou” a Chrysler para o desconhecido grupo americano Cerberus.
Aqui o Governo Federal criou o Inovar-Auto (2013 a 2017), seguido pelo Rota 2030 (2018 a 2023) e agora o Mover que prevê novas exigências. No exterior, a ascensão da China e seus carros elétricos marcarão o ritmo dos próximos anos, porém fabricantes de outros países ainda terão tempo para reagir.
Neste mês dos 25 anos da coluna, um fato positivo e outro negativo. Finalmente, tramita em Brasília na Câmara dos Deputados o projeto de lei de Darci de Matos (PSD-SC) que deve pôr fim a um dos maiores absurdos. Multas não incluídas no Renavam na data da transferência deverão ser cobradas do proprietário anterior. Hoje, o novo dono é obrigado a pagar pelo que não cometeu, simplesmente porque o órgão de trânsito atrasou a atualização das multas.
Um ponto negativo da regulamentação da reforma tributária é o enquadramento sugerido dos automóveis no novo imposto seletivo. Já existe obrigação de reduzir emissões ou eliminá-las no futuro, mas o Governo Federal quer manter automóvel no Brasil como o mais taxado do mundo.