O Brasil está na final da Copa América. A vitória sobre o Peru, no péssimo gramado do Nilton Santos, diz muito sobre uma equipe que depende das ações de camisa 10 para desequilibrar a partida e do conservadorismo do treinador para garantir o resultado positivo.
Nesta Copa América, Neymar teve sete participações em gols do Brasil. Richarlison e Paquetá tiveram, cada um, três. Os três construíram a jogada do gol da vitória e são destaques da competição até aqui. Vale também uma menção à defesa, o maior trunfo de Tite até aqui: foram apenas dois gols sofridos em seis jogos.
Defensivamente, trata-se de um time seguro — é claro, frente a adversários mais fracos. Uma coisa é enfrentar Lapadula, Vargas e Borja e outra é jogar contra Lukaku, Kane e Cristiano Ronaldo. Ou seja, dizer que o Brasil, no aspecto defensivo, está pronto para a Copa do Catar ainda é um pensamento muito precipitado.
É preciso, contudo, reconhecer: está bem! O Brasil leva poucos sustos na defesa, e apresenta variações em suas linhas defensivas. No segundo tempo, embora tenha sido uma atuação muito ruim para os brasileiros — porque apostaram no contragolpe — deu pra ver uma linha de cinco muito bem montada à frente da zaga. O Peru encontrou um meio-de-campo congestionado.
Só que era o Peru, e não dá para o Brasil jogar fechado contra o maior freguês da Era Tite. A Seleção fez um primeiro tempo muito bom, cujo placar não foi maior por causa do goleiro peruano. A surpresa foi Cebolinha aberto pela direita, quando na verdade eu esperava a equipe armada com dois atacantes — Richarlison atuaria como um lança e Éverton Ribeiro poderia exercer a função de um quarto meia.
O “lança”, ou o que teve a função mais próxima disso, foi Neymar. Com Richarlison e Cebolinha abrindo a zaga peruana pelas pontas, o camisa 10 brasileiro até teve mais espaço para criar. Paquetá também tinha mais liberdade para chegar ao ataque, porque Fred fazia a contenção. Ainda assim, vejo mais variações na defesa do que no ataque para surpreender os adversários.
Também vale destacar o lance do gol. Além dos três defensores peruanos marcando Neymar, o gramado jogou contra a Seleção. É interessante como os jogadores se adaptaram para um campo tão ruim. Arrastando a bola, que mal rolava direito, o craque do PSG consegue se livrar e encontrar Paquetá.
Outro destaque em relação ao gramado é um lance envolvendo o peruano Lapadula. Sozinho, ele foi dominar uma bola, escorregou e torceu o pé. Felizmente, não foi nada grava; mas a situação diz muito sobre as condições oferecidas para sediar o torneio.
Enfim, o Brasil fez um bom primeiro tempo e teve uma péssima atuação na etapa complementar. Não sou contra o conservadorismo, acho necessário em algumas situações, mas não contra o Peru. A Seleção já era muito favorita a decidir a Copa América.