Em janeiro desse ano, pela 28ª rodada do Brasileiro 2020, o Palmeiras atropelou o Corinthians e bateu o arquirrival por 4 a 0, no Allianz Parque. Após aquele clássico, ficou explícita a diferença entre uma equipe bem formada, com padrão de jogo definido, e um time limitado, que precisava de uma reformulação.
Passados três meses, a diferença ainda é drástica. Hoje, Palmeiras e Corinthians se reencontraram em Itaquera, decidindo vaga na final do Paulista. Nove jogadores, de cada lado, atuaram naquela partida e também estiveram em campo nesta tarde na Arena alvinegra. O placar foi diferente, mas o futebol foi o mesmo.
Corinthians 0 x 2 Palmeiras
O Palmeiras podia ter matado o jogo ainda no primeiro tempo, mas pecava nas finalizações. Enquanto perdia chances claras, o Corinthians seguia vivo, respirando por aparelhos, mas com uma possível recuperação.
Depois do primeiro gol, o time de Abel Ferreira se fechou e apostou nos contragolpes. Assim, estava mais próximo de marcar o segundo gol do que de sofrer o empate. Os comandados por Mancini tinham mais posse de bola, trocavam passes na intermediária ofensiva e tinham claras dificuldades para se infiltrar na defesa adversária.
Sem Fagner, Vital e Mosquito, o Corinthians dependia de Luan. O 7 alvinegro tinha marcação dupla de Felipe Melo e Patrick de Paula e foi anulado. Otero, ineficiente, e Cauê, absolutamente apagado, deixaram o ataque ainda mais frustrante.
Do outro lado, Luiz Adriano era a peça chave para a criação do alviverde. O 9 que joga com 10 era inteligência pura no ataque palmeirense. Era quem acionava Rony, como um ponta de lança, para se infiltrar na defesa adversária e sair na cara do gol — quase deu certo, em lance salvo por Jemerson.
Só que o problema do Corinthians ia além da técnica. Era também emocional. O nervosismo dos defensores era nítido, e abria discussões sobre o peso de atuar com tantos jogadores jovens num clássico decisivo, com pressão de torcedores — mas fazer o quê se os veteranos são piores? Erros de domínio e de saída de bola ilustravam um time abalado emocionalmente.
No intervalo, Mancini insistiu em um erro que já era previsível antes mesmo da partida começar, e Abel seguiu à risca um velho ditado: “em time que está ganhando não se mexe”. O treinador alvinegro tirou Cauê e Mandaca para as entradas de Vital e Mosquito — dupla que era esperada como titular. Manteve Otero — esse foi erro. Abriu o venezuelano pela direita — na tentativa de apostar em cruzamentos, o que não ocorreu. De resto, eu não entendi mais nada que ele tentou promover na equipe.
Abel não tinha tanta necessidade em mudar. Tirou Raphael Veiga por cansaço; Victor Luís porque se machucou. As entradas de Danilo e Danilo Barbosa, naturais pelo andar da carruagem.
Até metade da etapa complementar, era nítido que para o Palmeiras marcar o segundo gol seria questão de tempo, de tanto que o Corinthians errava. E foi justamente dos pés de Otero, sozinho, numa vergonhosa saída de bola, que o alviverde armou o contragolpe e deu números finais à partida.
Teve o pênalti que deu ainda mais drama ao Corinthians, e além disso as expulsões: uma tirou Zé Rafael da final estadual e a outra manchou a atuação de João Victor, o que estava melhor pelo lado alvinegro.
O Palmeiras fez o mínimo para vencer o Corinthians. Se repetisse o mesmo placar do clássico de janeiro deste ano não seria nenhuma surpresa.
Mancini demitido
O treinador caiu por insistir nos mesmos erros. Os veteranos não eram mais apostas, e se apoiar às próprias teses custaram as eliminações na Sul-Americana e no Paulista.
Algumas variações táticas, para mim, eram incompreensíveis. Frente ao Peñarol, montou uma linha de quatro na defesa, o adversário abriu 2 a 0 no placar, consertou a formação recuando um volante e jogando com três zagueiros, mas depois voltou à formação inicial: perdeu de 4 a 0.
Já contra o Palmeiras, seguiu com interessante esquema com três zagueiros, mas que era formado por Gabriel, Ramiro e Otero — o que gerava cada vez mais passes horizontais e pouca eficiência ofensiva. Esse problema era evidente em outros jogos do Corinthians. Hoje foi ainda mais preocupante com os jovens zagueiros se lançavam ao ataque como laterais. No contragolpe, o alviverde tinha superioridade numérica. Sem contar o número de vezes que Vital, Mosquito e Otero invertiam de posição. Era um time perdido.
Para o futuro
O perfil do próximo treinador segue indefinido, mas algumas conclusões já podem ser tomadas: o Corinthians não buscará um técnico caro, muito menos alguém que exija reforços — vai contra a realidade do clube. Também não se cogita a aposta em um profissional jovem para o cargo.
Sendo assim, imagino que não haverá nada de muito novo sob o sol.