Hoje não quero falar de futebol. Estou triste, muito triste. Faleceu Wilson Fittipaldi, o mestre das transmissões de automobilismo, o primeiro amigo que fiz ao chegar ao Brasil. E o homem com que, décadas e décadas a fio, dividi, no vitorioso microfone da Rádio Panamericana antes, Jovem Pan depois, satisfações e decepções da Fórmula 1 e de tantas outras corridas.
Desde seu ínício, ligou-me ao velho “Barão”, o apelido carinhoso com que era conhecido, a mesma paixão pelo automobilismo, o progressivo conhecimento de sua maravilhosa família, desde os tempos em que Emerson me chamava de “senhor” e eu ainda era solteiro e, acreditem, tinha cabelo. E com o passar dos anos esta amizade foi se solidificando, imune ao tempo, e dando a meu subconsciente a impressão de que jamais materialmente acabaria. Embora racionalmente soubesse que, um dia, a bandeira quadriculada vai ser agitada para cada um de nós.
Com essa visão, fiquei particularmente satisfeito quando, por ocasião do lançamento do meu livro, Emerson sugeriu que telefonassemos ao pai. E ouvir as palavras de amizade do “Barão”, que logo se comoveu como eu, foi um grande presente. Um presente que se robusteceu e completou quando ele leu o livro, e certamente terá dado boas gargalhadas pelos “casos” que conto e que o envolviam diretamente. Como quando, em Jacarepaguá, ao término de um GP do Brasil em que Emerson foi segundo, com seu Copersucar, ele falou brevemente ao microfone e depois o deixou na mesa dizendo-me “se vira, Claudio”. Com a clara e mais que justificada intenção de ir comemorar o feito com toda a família.
Se há um Paraiso dos automobilistas, hoje o “Barão” lá está, reencontrando tantos amigos, de Landi a Fangio, a Gogliano que com ele inventou a “Mil Milhas”, e milhares de outros que seria impossível aqui lembrar. E provavelmente, conhecendo seu espirito brincalhão, reclamando “meu comentarista está atrasado”…desta vez, efetivamente, eu estou atrasado.