
Foto: Reprodução/Twitter @McLarenF1
Chega ao fim uma das temporadas de Fórmula 1 mais disputadas e menos previsíveis dos últimos anos. De 2017 a 2020 vimos a hegemonia da “Fórmula Hamilton” e, entre 2021 a 2024, tivemos um outro rei coroado 4 vezes consecutivas na “Fórmula Verstappen”. Em 2025, pela primeira vez em mais de uma década, chegamos à última prova do campeonato com 3 pilotos e 2 equipes diferentes com chances de faturar o título.
Confesso que nunca gostei dessa estória de um piloto vencer sozinho mais da metade das corridas da temporada com o pé nas costas só porque está sentado no melhor carro e sua equipe segue a regra geral de não colocar dois leões dentro da mesma jaula para evitar disputas internas que posam levar à perda de campeonatos praticamente ganhos, como já aconteceu mais de uma vez no passado. É por isso que 2025 foi interessante: tivemos 2 pilotos mais ou menos do mesmo nível (nada espetaculares, diga-se) dentro da equipe mais competitiva, enquanto aquele que é reconhecidamente o melhor piloto da atualidade extraía o máximo de sua limitada Red Bull, fazendo o mundo inteiro acreditar em uma virada histórica que por muito pouco não se concretizou – uma pena, pois teria sido merecidíssimo para Verstappen.
Os trapalhões e as trapalhadas da McLaren
Na primeira metade da temporada a balança pendia mais para o lado de Piastri – ele se mostrava um piloto mais consistente e maduro do que Norris, que, apesar de estar sentado no mesmo carro, não demonstrava a mesma capacidade de converter a superioridade de seu equipamento em resultados concretos. E ainda por cima cometeu erros primários como a tentativa atabalhoada de ultrapassar seu companheiro no final do GP do Canadá, que acabou lhe custando a corrida e por pouco não provocou o mesmo a Piastri.
E as trapalhadas dos “McLaren boys” prosseguiram ao longo do ano: na Hungria foi o australiano que, por muito pouco, não tirou seu companheiro e a si próprio no final do grande prêmio em uma tentativa precipitada de ultrapassagem no final da reta dos boxes. Já na corrida sprint nos Estados Unidos, na primeira curva Piastri se deixou tocar por Hulkenberg, atingiu o carro de Norris e lá se foram outros preciosos pontos para ambos…..Como se já não bastasse, um erro crasso de estratégia de troca de pneus da McLaren custou uma vitória garantida a seu piloto australiano no Qatar, enquanto Verstappen se aproveitava desses erros bobos e acumulava cada vez mais vitórias. A Fórmula 1 estava separando os meninos dos homens na reta final do campeonato.
Por muito pouco Lando Norris não amargou o mesmo fim que tiveram Nigel Mansell e Nelson Piquet pela Williams em 1986, assim como Lewis Hamilton e Fernando Alonso pela McLaren em 2007: todos eles estavam a bordo do melhor carro disparado mas, por causa de desavenças internas na equipe, deixaram o título escapar pelos dedos na última corrida do ano em favor de outro piloto que guiava um carro notoriamente inferior.
A reação de Norris e o sprint final de Verstappen

Lando Norris e Oscar Piastri no GP da Itália de 2025 (Foto: Reprodução/F1.com)
A última vitória de Piastri foi em 31 de agosto no GP da Holanda; de lá para cá parece que o australiano teve um apagão e sua energia para lutar pelo título simplesmente foi diminuindo corrida a corrida (saliente-se sua aceitação resignada da inversão de posições com Norris no GP da Itália ordenada pela equipe). Enquanto isso, estando em um melhor momento, seu companheiro venceu no México e no Brasil além de acumular pontos suficientes no último terço do campeonato não só para superá-lo como também para abrir uma vantagem confortável, que lhe permitiu conquistar seu primeiro título apenas administrando a diferença até a corrida final em Abu Dhabi.
Porém o grande destaque do ano indiscutivelmente vai para Max Verstappen, que, apesar de estar ao volante de um carro menos competitivo do que as McLaren de seus adversários, teve um sprint final digno de Usain Bolt e venceu seis das 10 últimas provas do ano incluindo a do último domingo, explorando ao máximo tanto seu equipamento como também cada ponto desperdiçado nos erros da McLaren e de seus dois pilotos. Aliás, se o campeonato tivesse só mais uma corrida, podem estar certos de que o holandês iria faturar seu quinto título consecutivo – feito conquistado por apenas um piloto na história da Fórmula 1 até hoje: Michael Schumacher entre os anos de 2000 a 2004. Nem mesmo o mestre Juan Manuel Fangio e o competente Lewis Hamilton conseguiram tal façanha.
A menor diferença de pontos da história
Quem conhece a Fórmula 1 das antigas vai imediatamente cravar que isso ocorreu em 1984, quando Niki Lauda venceu seu terceiro título por mísero meio ponto a mais do que seu companheiro na McLaren Alain Prost. O austríaco terminou o campeonato com 72 pontos contra 71,5 do francês – isso se deveu à controversa interrupção do GP de Mônaco daquele ano pouco antes da sua metade devido à chuva torrencial, a mando do ex-presidente da FIA Jean-Marie Balestre a fim de evitar a iminente ultrapassagem de um certo novato chamado Ayrton Senna sobre Prost, seu compatriota que liderava a corrida desde o início. Por ironia do destino, se Balestre tivesse deixado a prova transcorrer até o final e o francês tivesse chegado em segundo, teria marcado 6 pontos ao invés dos famigerados 4,5 que representavam metade dos 9 atribuídos ao vencedor naquela época. Ou seja, se a corrida não tivesse sido precocemente interrompida por essa “patriotada” francesa, Prost teria terminado a temporada com 73 pontos (1 a mais do que Niki Lauda), teria 5 títulos ao invés de 4 e Senna teria uma vitória a mais em seu currículo…..

Verstappen finalizou o campeonato em 2º lugar (Foto: Andy Hone/Getty Images/RBCP)
Em 2025 Lando Norris sagrou-se campeão com 423 pontos, contra 421 de Max Verstappen. Dois pontos são uma diferença maior do que meio ponto? Depende… Na aritmética simples sim. Mas e proporcionalmente?
423 é quase seis vezes mais do que 72 (pontuação de Niki Lauda em 1984). Se seguirmos essa mesma proporção e multiplicarmos aquela diferença de 0,5 ponto por seis, vai dar 3. Em outras palavras, no sistema de pontuação atual, a diferença de 2 pontos entre Norris e Verstappen é proporcionalmente menor ainda do que aquela de 0,5 ponto entre Lauda e Prost 41 anos atrás.
Pois é, senhoras e senhores. Pode-se dizer que acabamos de assistir a conquista de título mais apertada de toda a história da F-1 até hoje…..
Venceu o melhor?
Não quero aqui diminuir o mérito de Lando Norris pela conquista do seu primeiro título. Foi merecido e inclusive faz bem para a renovação do esporte ver novos nomes quebrarem hegemonias que se mantêm há anos. Pessoalmente, acho que foi uma mistura de competência, equipamento e sorte; o inglês acordou a tempo, amadureceu e ganhou consistência na segunda metade da temporada, e soube aproveitar seu melhor momento em relação a seu companheiro de equipe que, ao contrário dele, vinha em curva descendente.
Mas não necessariamente ele foi o melhor piloto do ano, e tudo bem se isso for verdade. Afinal de contas, nos esportes em geral quantas vezes já tivemos aquela sensação de que o resultado final não foi justo ou não premiou aquele que teve melhor desempenho, não é mesmo?
Em uma de suas várias frases de efeito, certa vez Ayrton Senna disse: “todo ano tem-se um vencedor, mas nem todo ano tem-se um campeão”. Acho que essa frase de certo modo retrata bem o resultado final do campeonato mundial de pilotos de 2025.
No esporte e na vida, espera-se que vença o melhor. Que bom que o esporte e a vida podem ser imprevisíveis e muitas vezes nos surpreendem!
Boas Festas e até 2026!
