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Já abordei os problemas na Europa e outros específicos da Itália. Com o fim do crédito fiscal do governo americano para compra de carros elétricos, em 30 de setembro último, pairam dúvidas sobre como reagirá o mercado nos próximos anos. Análise do site Yahoo Finance, após ouvir várias fontes, aponta previsões otimistas demais feitas até o momento. Veículos elétricos (VEs) são cerca de US$ 9.000 (R$ 49.000) mais caros, em média, do que modelos a gasolina comparáveis. A diferença era quase toda coberta pelo subsídio federal agora cancelado.
Há quatro anos, Ford, GM e Stellantis afirmaram em comunicado conjunto que aspiravam atingir até 2030 uma participação de mercado de VEs de 40% a 50%, incluindo híbridos plugáveis (meu comentário: estes não são exatamente elétricos, contudo somados como se fossem, uma “invenção” da China que distorce os números de produção e vendas de VEs).
Jim Farley, CEO da Ford, afirmou agora: “Acredito que será uma indústria vibrante, porém muito menor do que pensávamos. Não me surpreenderia se as vendas de VEs caíssem para 5% do total da indústria já neste mês de outubro”. A consultoria J.D. Power projeta que VEs poderão alcançar até 20% das vendas em 2029. Já a Ernest & Young prevê atingir 50% em 2039, cinco anos depois do previsto anteriormente.
Outra consultoria, iSeeCars, foi incisiva. VEs vão bem em estados de clima quente, como Califórnia e Flórida, e em uso urbano. Todavia, só se consolidarão quando os preços forem iguais aos carros de motores a combustão, puderem rodar 800 km com apenas uma carga e recarregarem em menos de 10 minutos. Algumas marcas enfrentam pressões financeiras motivadas por investimentos fracassados em veículos elétricos e foram forçadas a adiar ou cancelar projetos.
A agência de notícias Reuters relembrou um estudo conjunto de professores das universidades da Califórnia, Berkeley, Duke e Stanford: emplacamentos de VEs podem cair 27% sem o crédito fiscal federal. Alguns estados seguem a Califórnia e mantêm seus subsídios para sustentar a demanda. Até quando, ninguém sabe.
・ BYD anuncia primeiro híbrido plugável flex
A oportunidade surgiu pela realização, de 10 a 21 de novembro próximos, em Belém (PA), da COP (Conferência das Partes, na sigla em inglês), um fórum da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A BYD enviará para o evento 30 unidades dos protótipos do SUV médio Song Pro Híbrido Plugável com o primeiro motor flex que a marca vem desenvolvendo no Brasil. Lançamento previsto para abril de 2026. Até o momento apenas a Toyota comercializa um híbrido pleno (não plugável) cujo motor pode funcionar com etanol ou gasolina puros ou misturados em qualquer proporção.
O modelo chinês, na prática, teve seu peso institucional somado à segunda “inauguração” da nova fábrica da BYD, em Camaçari (BA), desta vez com presença do presidente da República. Na realidade a produção começa por juntar as primeiras peças importadas no regime SKD (sigla em inglês para unidades semidesmontadas). Numa segunda etapa passará ao regime de unidades desmontadas vindas da China e integração de alguns componentes produzidos no Brasil, prevista para 2026 (prensas, soldagens e pintura, talvez em meados do ano). A conterrânea GWM, em Iracemápolis (SP), já tem armação, pintura e montagem desde agosto último.
Nesta primeira fase, investiram-se R$ 5,5 bilhões e a capacidade de produção será de 150.000 unidades anuais que a empresa espera alcançar “em menos de três anos”. A área construída atual é de 270.000 m² e numa segunda etapa a capacidade será aumentada para produzir 300.000 unidades anuais. Em cinco anos espera vender 600.000 unidades/ano (nacionais e importadas) e assumir a liderança absoluta de vendas no Brasil.
Até agora a BYD errou em suas projeções. Pretendia vender 120.000 unidades no ano passado, depois revisou para 100.000 e no fechamento de 2024 foram 77.000 (23% a menos).
O Brasil tem uma fábrica fechada (CAOA Chery, em Jacareí-SP) e outra a ser desativada (Toyota, em Indaiatuba-SP) ainda sem data confirmada. Há uma subutilizada da JLR, em Itatiaia (RJ). E a fábrica da Stellantis, em Porto Real (RJ), também subutilizada, passará a produzir o Jeep Avenger já em 2026.