BMW R18 (Foto: Divulgação/BMW)
Quando pensamos em motos custom, uma imagem costuma dominar a mente: a icônica Harley-Davidson. Com seu ronco inconfundível, cromados reluzentes e uma herança que se confunde com a própria história das estradas, a marca americana é a rainha incontestável desse segmento. Até aí, nada de novo. Mas e essa BMW R18? Sim, da mesma marca que faz os motores boxer que conquistam o mundo nas Big Trails e Touring. Por que a BMW decidiu colocar sua impressão digital nesse território tão “americano”?
Para entender melhor tudo isso, decidimos avaliar a BMW R18, uma moto que, desde o seu lançamento, tem gerado mais conversas do que muitos lançamentos recentes. “BMW não faz custom!”, “Se é pra ter uma custom, que seja uma Harley!” – essas são as frases que mais se ouvem quando o assunto é a R18. Seria essa a prova de que até marcas gigantes podem dar um tiro no pé, ou a BMW está pavimentando um novo caminho para as customs, com sotaque alemão? Vamos desvendar essa máquina que é para mim uma obra de arte sobre duas rodas!
A BMW em Território Inimigo?
Para muitos, a BMW é sinônimo de engenharia precisa, performance, tecnologia de ponta e, principalmente, motos touring e adventure que devoram continentes. A imagem do boxer alemão está ligada à funcionalidade, eficiência e viagens longas.
Então, quando a BMW apresentou a R18, uma moto que abraça o estilo custom clássico, com para-lamas largos, pouca carenagem e um design que remete às motos dos anos 30 (como a lendária BMW R5), a surpresa é grande. O purista da BMW pode sentir falta da alta tecnologia visível e da agilidade de uma GS. Já o purista da custom (leia-se, muitas vezes, fã de Harley) pode questionar a “autenticidade” de uma custom alemã. Essa dualidade gera a percepção de que a BMW, ao se aventurar fora de sua fortaleza, estaria cometendo um erro estratégico. Será?
BMW R18 (Foto: Divulgação/BMW)
R18: Um Boxer para a Estrada Aberta – Paixões e Pontos Fracos
Deixando de lado as discussões sobre “o que uma BMW deveria ser”, vamos focar na máquina em si. A R18 é uma moto linda que, acima de tudo, busca evocar emoção.
As qualidades que fazem o coração acelerar:
・ O Gigante Big Boxer 1800cc: É impossível falar da R18 sem começar pelo seu motor. O maior motor boxer já produzido pela BMW, com 1.802 cc. Não é sobre cavalos (embora tenha respeitáveis 91 cv), mas sobre torque. São impressionantes 158 Nm (ou 16.1 kgfm) disponíveis já em baixíssimas rotações, proporcionando uma sensação de força e pujança em cada acelerada. O ronco, embora diferente de um Harley, é profundo, grave e tem personalidade própria, vibrando na medida certa para a proposta da moto. Pena que o modelo novo o trocou por um “normal” Akrapovic reto, que estragou totalmente o design e não conversa com o resto da moto.
・ Design Clássico e Exclusivo: A R18 é uma aula de design retrô. Amei o design. Ela é linda sob qualquer lado que se olhe. Cada detalhe, do tanque “lágrima” ao eixo cardã exposto, passando pela suspensão traseira do tipo hardtail (mas com monoshock escondido para o conforto, que sejamos francos, é duro pacas), é um aceno às motos clássicas. Ela não tenta imitar ninguém; ela celebra a própria herança da BMW de uma forma que poucos esperariam. É uma moto que atrai olhares e rende fotos por onde passa. E como chama a atenção!
・ Qualidade de Construção BMW: Mesmo com o foco no estilo retrô, a qualidade de construção é inegável. Materiais premium, acabamento impecável e a famosa precisão alemã estão presentes em cada componente da R18, transmitindo uma sensação de robustez e durabilidade.
・ Prazer em Pilotar (para o Estilo): Ao contrário do que se pode pensar, a R18 é surpreendentemente suave e fácil de pilotar para seu porte, uma vez em movimento. O motor boxer, com seu centro de gravidade baixo, contribui para uma boa estabilidade. É uma moto para curtir o passeio, sem pressa, sentindo o asfalto e a paisagem. É uma viagem no tempo. Tipo “restomod”.
・ Tecnologia Discreta e Funcional: A BMW soube integrar a tecnologia sem comprometer o visual clássico. A R18 conta com modos de pilotagem (“Rain”, “Roll” e “Rock”), controle de tração, ABS, e até assistência de ré (elétrica, para ajudar a manobrar). Tudo isso está lá, mas de forma discreta, sem painéis digitais gigantes que destoem da proposta. Creio que a “nova” também tenha perdido a ré elétrica, além de pintarem as tampas de cabeçote com um black piano de gosto extremamente duvidoso, para sermos elegantes…
BMW R18 (Foto: Divulgação/BMW)
Os “Defeitos” e Pontos que Geram Discussão:
・ Peso e Volume: A R18 é uma moto grande e pesada. Com mais de 345 kg em ordem de marcha, manobrá-la em baixíssimas velocidades ou estacionar pode ser um desafio e tanto, exigindo força e atenção.
・ Ângulo de Inclinação Limitado: O famoso motor boxer, com seus cilindros proeminentes, acaba limitando o ângulo de inclinação em curvas mais fechadas. As pedaleiras e as tampas dos cilindros podem raspar no chão com certa facilidade, o que para quem gosta de um ritmo mais esportivo pode ser frustrante. É uma moto para “cruisar”, não para “raspar o joelho”.
・ Ergonomia Específica: A posição de pilotagem, com as pedaleiras mais para trás e “travadas” sob os cabeçotes, faz com que seja muito difícil se adaptar logo de início. Como o motor é grande, foi necessário fazer um projeto “long&low”, e aí a ergonomia ficou bem prejudicada. Para poder andar com as pernas “pra frente” como é o ideal em uma custom, o piloto ficaria longe demais do guidão. Então a posição é estranha e os joelhos ficam para cima, numa posição não confortável para fazer longos passeios. Mesmo com acessório para colocar em cima dos cabeçotes para você poder apoiar os pés, não fica ideal.
・ Preço Premium: Como esperado de uma BMW, a R18 inicialmente foi posicionada com um preço que a coloca no topo do segmento custom, o que afastou potenciais compradores. Entretanto, o mercado se ajustou e o preço real está mais baixo (falamos mais disso à frente no texto).
・ Branding: não é um defeito do produto, mas uma questão de posicionamento, que está na mente do consumidor. É difícil para alguns aceitar uma custom que não seja Harley. Isso não é um problema da R18 em si, mas do estigma que a cerca.
BMW R18 (Foto: Divulgação/BMW)
R18 vs. Harley-Davidson: A Batalha das Filosofias
Quando se compara a R18 com uma Harley-Davidson, não se trata de qual é “melhor”, mas de qual filosofia de engenharia e design combina mais com o piloto. A Harley tem sua alma americana, seu motor V-Twin que pulsa e seu legado inquestionável. A R18 oferece uma reinterpretação dessa experiência, com a engenharia alemã por trás do grande motor boxer, um design impecável e uma sensação de condução própria.
A R18 não veio para “roubar” clientes da Harley, mas para oferecer uma alternativa sofisticada e única para quem busca uma custom com um toque europeu de precisão e uma herança rica, mas diferente da americana. É para o motociclista que aprecia o clássico, mas com uma dose de exclusividade e a engenharia de uma marca premium.
Veredito: Erro Estratégico ou Jogada de Gênio?
Chamar a BMW R18 de “erro estratégico” seria ignorar a capacidade, ainda que limitada dentro de um nicho, para atrair um novo público para a marca e em mostrar a versatilidade da engenharia BMW. O que pode parecer um desvio de rota para alguns, é, na verdade, uma expansão audaciosa do portfólio.
A R18 é uma declaração. Ela mostra que a BMW está disposta a desafiar convenções, a explorar novos nichos e a celebrar sua própria história de uma maneira inesperada. Ela expande a definição de “o que é uma BMW” e oferece uma opção distinta no mercado custom. As vendas, embora não sejam as de um modelo GS, demonstram que existe um público cativo para essa proposta. Mas não nos enganemos: é nicho.
Para a BMW, a R18 é uma aposta calculada e bem executada. Ela solidifica a presença da marca em um segmento de alto valor, atrai entusiastas do design clássico e, de quebra, reforça a capacidade de inovação e adaptabilidade da engenharia bávara. Não é uma moto para todos, mas para quem busca uma custom com personalidade marcante, DNA premium e um motor que é uma obra de arte, a R18 é, sem dúvida, uma escolha fascinante.
A R18 não é para qualquer pessoa!
A BMW R18 é uma moto que faz você repensar o que uma custom pode ser. Ela não tem medo de ser diferente e, talvez por isso, seja tão cativante. Se você é um daqueles que torcem o nariz, meu conselho é o mesmo de sempre: monte nela! Sinta o torque do Big Boxer, admire o design e deixe a moto falar por si. Afinal, o “look&feel” é o melhor modo para avaliar uma moto!
O Veredito Final: eu compraria?
A R18 não é uma escolha racional. É uma compra emocional, que deve ser sentida com o coração e não pensada com os neurônios.
Tem o conforto de uma Harley Road King? Não, nem de longe. Vibra? Bastante. É dura? Sim. Mas ela é uma obra de arte e por isso mesmo desperta sentimentos fortes em quem a olha. Não há como não se entusiasmar com o motor boxer enorme e com o design minimalista dela. E o escapamento? Jesus, que coisa linda. Parabéns ao designer e minhas mais profundas críticas a quem achou que seria interessante trocá-lo por um Akrapovic e também pintar as tampas do cabeçote de black piano.
Você acha ela cara para o teu bolso? Vai atrás de uma usada; tem várias no mercado com baixo km e preço muito bom. Aliás, se procurar acha dealer querendo fechar meta do mês e vendendo a zero km por 90-95k.
Moto é emoção e não razão para mim. Então eu afirmo sem medo: eu a teria na minha garagem dos sonhos, nem que fosse apenas para admirá-la todos os dias e andar apenas de vez em quando.
E não esqueça nunca o nosso mantra: pilote sempre com responsabilidade. Mas jamais esqueça que o capacete ouve os demônios de tua cabeça, o escapamento grita o que tua garganta não consegue gritar, a suspensão aguenta os teus altos e baixos emocionais. E a moto te leva a lugares reais e imaginários que nenhum outro veículo te leva. E junto com os cachorros, ela é o melhor amigo do Homem, sempre.