Venho frequentemente tratando de informações de mercado, e algo que sempre me questionam é a diferença entre os veículos elétricos e como eles podem ajudar no processo de descarbonização. Longe de querer esgotar o tema com estes parágrafos enxutos, mas a ideia é poder explicar as diferenças e contribuir para a melhoria do entendimento médio do brasileiro que curte automóvel.
Antes de qualquer coisa, temos que entender o que representa a palavra “híbrido”. Pelo dicionário Aurélio, quando se diz respeito a tecnologia significa “equipamento ou sistema que combina características ou componentes de diferentes origens, como um carro híbrido, que utiliza motores elétricos e a combustão”.
Pelo Michaelis, no sentido figurado, temos a seguinte definição: “que ou o que é composto de elementos distintos ou disparatados”. Já a Localiza Meoo diz com clareza: “um carro híbrido é um veículo que utiliza duas fontes diferentes de energia para locomoção: motores a combustão (gasolina, etanol ou diesel) e eletricidade”.
Por “plug-in”, “plugin” ou simplesmente “plugado” (termo quase nunca utilizado) deve-se entender que o veículo pode ser conectado à rede elétrica. Com estes dois critérios, podemos entender a existência de: (1) motores distintos (2) que podem ou não ser plugados à rede de energia elétrica no processo de locomoção do veículo automotor.
Face o exposto, temos os seguintes tipos de motores: combustão Interna, combustão interna bicombustível, híbridos, híbridos plugáveis, elétricos, alcance estendido, alcance estendido plugável, células de combustível, células de combustível plugáveis e os híbridos suaves. Ou seja, apenas com os dois critérios acima citados, temos 10 diferentes tipos de motores.
Quais são as diferenças?
O motor a combustão interna (ICE ou Internal Combustion Engine) é o motor mais tradicional que conhecemos, com uma câmara de combustão, cilindros, pistões, bielas, cabeçote, bloco, virabrequim, ignição e injeção de combustível. É o que tudo mundo conhece, e foi apresentado à indústria automotiva em 1878 por Otto (sim, o mesmo do ciclo Otto). A diferença deste motor para o de combustão interna bicombustível é que este pode funcionar com mais de um combustível.
O motor elétrico (EV, Electric Vehicle, BEV ou Battery Electric Vehicle) é o tipo que foi reapresentado ao mundo recentemente. Sim, reapresentado, pois este tipo de motor já existe na indústria automotiva desde 1888. Pois é. Naquele ano, a Flocken Elektrowagen, empresa de Andreas Flocken, criou o que é considerado o primeiro carro elétrico da história.
A principal diferença em relação ao motor de combustão interna consiste na utilização das baterias para a geração da energia necessária para a movimentação dos veículos (nos carros a combustão esta energia é proveniente da queima do combustível). Tecnicamente, os veículos elétricos têm uma complexidade fabril menor, são mais eficientes e produzem mais torque e potência em relação aos veículos a combustão.
Destes dois principais conceitos, temos os que são decorrentes deste entendimento: os híbridos (HEV ou Hybrid Electric Vehicle) e os híbridos plugáveis (híbridos plug-in, PHEV ou Plug-in Hybrid Electric Vehicle).
Estes veículos têm os dois motores capazes de locomover o automóvel por si só e podem trabalhar sozinhos ou combinados. Ou seja, são conectados à transmissão de modo que cada fonte de energia possa funcionar de forma independente. A diferença entre ser ou não plug-in consiste no carregamento da bateria, que pode ocorrer pelo motor a combustão, pela energia regenerativa ou ter (ou não) o dispositivo plug-in.
Já os motores com alcance estendido (EREV, Extended Range Electric Vehicle, Híbrido Elétrico ou Electric Hybrid) e os motores com alcance estendido Plug-In (mesmas designações, com a adição do Plug-In) têm um alcance estendido de autonomia com (ou sem) a possibilidade de se plugarem a rede elétrica para recarregamento das baterias. A energia para a locomoção é fornecida por um motor elétrico que é alimentado por um motor a combustão, ligado em série (não conectado à transmissão), que tem a função de recarregar a bateria.
As células de combustível (FCEV ou Fuel Cell Electric Vehicles, Plug-in ou não) são uma tecnologia de geração de energia elétrica limpa que devem ganhar cada vez mais espaço em automóveis. As células de combustível produzem energia elétrica proveniente de uma reação química. Hoje, é comumente mais utilizado o hidrogênio. No entanto, o Brasil aparece com relativo destaque nas células de etanol, ainda com baixa eficiência. Outras soluções de geração de hidrogênio pelo etanol também são estudados; o que daria, novamente, algum destaque ao nosso país em nível internacional.
Atualmente, os híbridos suaves (híbridos leves, MHEV, ou Mild Hybrid) são carros a combustão equipados com uma unidade elétrica que apoia o motor. A unidade elétrica, por si só, não é capaz de movimentar o veículo e, nesse sentido, alguns analistas de mercado, como eu, não o consideram como híbrido. Há, claro, bastante discordância sobre esta questão.
Atualmente os veículos elétricos representam 2,5% de participação de mercado no acumulado do ano, enquanto os híbridos (todos) possuem números um pouco maiores, 4,5%.