No salão de motos de Milão a Honda apresentou um conceito de motor que pode revolucionar as duas rodas: um motor V3 com compressor elétrico
A Honda apresentou talvez uma das novidades que mais chamou atenção no Salão de Motos de Milão, o famoso EICMA (Esposizione Internazionale Ciclo, Motociclo e Accessori).
A foto de divulgação é de um motor V3 que é acoplado a um compressor elétrico para que o mesmo gerencie e aumente a compressão dos gases no coletor de admissão. Basicamente esse é um sistema que permite, eletricamente e sem ligação com a rotação do motor, injetar mais ar na admissão. Assim a injeção pode injetar mais combustível e portanto ter uma maior mistura a ser queimada por ciclo na câmara de combustão.
Os outros dois sistemas mais usados são o turbo tradicional, que usas os gases de escape para acionar uma turbina e comprimir o ar de admissão ou o compressor volumétrico, que é acionado mecanicamente pela rotação do virabrequim (lembram do Fiesta Supercharger?). O turbo gera mais potência mas com menos torque em baixa rotação devido ao “lag” que é o tempo de resposta da turbina quando se pisa no acelerador. Já o compressor volumétrico traz resposta imediata em baixas rotações mas menos potência em alta.
O lançamento deste conceito é uma excelente notícia para os amantes de motores, principalmente das duas rodas.
A primeira imagem que vem à mente quando se fala dos V3 eram as Honda NS500, 2 tempos do mundial de velocidade pilotadas pelo Freddie Spencer. Ok, houve antes as motos DKW RM 350 V3 da primeira metade da década de 50, mas isso é coisa de “baby boomer”. Para os “geração X” como eu, a primeira lembrança que vem à mente foram as Honda NS500 mesmo, que sucederam as NR500 que eram quatro tempos.
Inesquecível a temporada de 1983, com a luta do Freddie Spencer contra o Kenny Roberts de Yamaha. Cada um venceu 6 corridas e Spencer venceu o seu primeiro título por 2 pontos. Na esteira deste sucesso a Honda lançou uma versão de rua, a NS 400R produzida de 1985 a 1987, também 2T. Quem já ouviu um belo motor 2T de moto de corrida sabe a que estou me referindo. O ronco de um motor 3 ou 4 cilindros 2T é tão icônico como um 6 cilindros 4T por exemplo da Honda CBX 1050 da década de 1980.
Infelizmente para muitos amantes das motos, mas como era de se esperar, este conceito lançado pela Honda não é mais 2T, mas sim 4T.
As atuais regras de emissão fazem com que os motores 2T não mais se enquadrem, mas por outro lado esse motor V3 traz consigo uma versatilidade construtiva muito boa, deixando espaço para que o compressor elétrico seja posicionado. Este último, por não precisar estar alinhado ao virabrequim, também traz adicionalmente maior liberdade para projetistas, pois pode ser colocado onde resultar em melhor balanceamento estático e dinâmico possível. Outra característica interessante deste conceito é a possibilidade de se obter torque alto já em baixíssimas rotações, mesma vantagem do compressor volumétrico, porém sem “roubar” a potência para sair da inércia que um “blower” / compressor volumétrico por exemplo “rouba”. Para girar todas as engrenagens de um “blower”, ele precisa de energia, que vem do próprio motor que está sendo comprimido.
Agora é esperar para ver o que os projetistas nos reservam no futuro próximo.