Parece que a Argentina anda com a moral lá em cima. Primeiro a proclamação do Papa Francisco, depois os Hermanos conquistaram a Copa do Mundo, algo que o Brasil não conquista desde 2002 e, por fim, agora colocam um talentoso piloto de Fórmula 1 que já somou 4 pontos em sua 2ª corrida, Franco Colapinto, algo que o Brasil não tem desde o início da temporada de 2018.
A Argentina é um país com um PIB inferior ao do Brasil; são US$ 640,59 bilhões contra US$ 2,17 trilhões do Brasil (3,39 vezes menor – base 2023 segundo World Bank) e um mercado automotivo igualmente menor. Com dados da JATO do Brasil, o ano de 2023 fechou com 424.774 automóveis de passeio e comerciais leves no mercado argentino contra 2.176.645 no Brasil (5,12 vezes menor). Já no 1º semestre de 2024, foram 173.996 contra 1.076.756 (6,19 vezes menor). Historicamente a diferença entre os países é de 3 vezes.
Com respeito as exportações, em 2019 a Argentina exportava 6,3% dos veículos comercializados no Brasil e 2023 fechou com 8,6% representando um aumento em torno dos 18.000 mil veículos entre carros e comerciais leves. Do outro lado da fronteira, em 2019 os veículos brasileiros representavam 44,0% dos veículos argentinos e ano passado apenas 24,6%, uma queda superior a 150.000 veículos na exportação entre os países.
Em paralelo às questões de produção e exportação, é evidente a existência de um plano de desenvolvimento de plataformas para veículos eletrificados de forma antecipada na Argentina em detrimento ao Brasil. Parte se justifica pelo tamanho do mercado conforme anteriormente citado e pelas características dos produtos produzidos em cada país. Enquanto o Brasil prioriza veículos menores com produção em volume, a Argentina tem como foco a produção de veículos com maior valor agregado e, naturalmente, volumes menores.
O mercado argentino atua em nichos diferentes do brasileiro o que justifica alguns modelos existentes lá, não existirem aqui, como por exemplo: Nissan X-Trail, Honda Pilot, Ford F-150 Raptor, Volkswagen Golf GTI, entre tantos outros. Isso é normal; mercados são diferentes e cada empresa trabalha a especificidade de cada mercado adequando o seu portfólio.
Mais recentemente a Argentina também vem sendo anunciada como destino de investimentos para a indústria automotiva, o que não deixa de ser intrigante pois investidores preferem estabilidade e previsibilidade, algo que política e economicamente nosso país vizinho não vem definitivamente entregando nos últimos anos.
Isto não é um problema da Argentina, é mérito deles mas uma questão a ser resolvida no Brasil. Importante recordar que a indústria automotiva Argentina há 10 anos estava defasada em relação a nossa indústria e hoje, muito provavelmente, já nos ultrapassou em função das atualizações recentes. O Mover (programa voltado para apoiar a descarbonização dos veículos brasileiros, o desenvolvimento tecnológico e a competitividade global) traz grandes investimentos com foco na eletrificação em massa dos modelos produzidos aqui, incluindo os de maior volumes.
Abaixo alguns dos investimentos anunciados na Argentina:
・ Stellantis: USD 385 milhões (mar/24)
・ Renault: USD 350 milhões (set/24)
・ Ford: USD 80 milhões (Jun/24)
・ Scania: R$ 2 bilhões na América do Sul, sem definição específica para a planta da Argentina
・ Mercedes-Benz: USD 110 milhões (abr/24 provenientes de um ciclo de investimentos de 2021
・ Honda Motos: USD 15,4 milhões
De qualquer forma, valores muito aquém dos R$ 130 bilhões previstos em investimentos no Brasil até 2033 pelo programa Mover onde se destacam:
・ Stellantis – R$ 30 bilhões (2025/2030)
・ General Motors – R$ 17 bilhões (2021/2028)
・ Volkswagen – R$ 16 bilhões (2022/2028)
・ Toyota – R$ 11 bilhões (2024/2030)
・ GWM – R$ 10 bilhões (2023/2032)
Ao menos em relação aos investimentos, o Brasil indiscutivelmente está muito à frente do país vizinho.
Vamos ver o que o futuro nos aguarda!