Linha Mustang chega aos 60 anos em forma, esbanjando recursos tecnológicos e alta performance… e de olho nos consumidores que apreciam um esportivo raiz
O Mustang é um automóvel em extinção. Tudo nele foi concebido para proporcionar prazer ao dirigir àqueles puristas apaixonados por esportivos brutos. Herdeiro de uma geração de esportivos norte-americanos consolidada nos anos 60, os “muscle-cars”, a receita do Mustang é clara: carroceria cupê, motor V8, tração traseira, inúmeros features para quem guia – em especial o modo Track, de pista –, banco traseiro praticamente impossível de acomodar adultos… e o tal do ronco. Ah, o ronco.
Equipado com um belíssimo sistema de áudio da Bang & Olufsen, marca dinamarquesa das mais prestigiadas do mundo, o fato é que você nem vai usufruir do conjunto refinado de alto-falantes. Sabe por quê? O áudio mais delicioso de ser aproveitado dentro do cupê da Ford é o “tal do ronco” emitido pelo V8 Coyote de 5 litros, com 4 válvulas por cilindro, naturalmente aspirado, que desenvolve 488 cv de potência a 7.250 rpm e 57,6 kgfm de torque máximo – e sem nenhum recurso de eletrificação, é bom que se diga. Os 488 cv são obtidos do modo antigo: na força bruta.
Nada, e eu vou repetir enfaticamente, NADA é mais gostoso do que curtir o ronco desse V8, principalmente na progressão das médias para as altas rotações. Tanto a Ford sabe dessa virtude do Mustang GT que o escape pode ser selecionado com 4 modos: silencioso (não acredite muito nisso), normal, esportivo e pista.
Outros recursos multiplicam-se por quatro no número de regulagens: direção, carga de amortecedores e o mapa do sistema de alimentação, seguindo o mesmo preceito do escape. Por falar em amortecedores, inclusive, um dos grandes destaques do Mustang é justamente esse componente da suspensão, que tem uma função prática de detecção de buracos. Ele “percebe” movimentos bruscos, como a roda caindo em um buraco, e retém o curso do amortecedor para que a roda não seja totalmente pressionada pra baixo. Na prática, você anda em um asfalto como paulistano, repleto de imperfeições, e o resultado é um conforto ao rodar muito acima da expectativa um muscle-car.
Repleto de dispositivos de assistência ao motorista, como o ACC (Adaptative Cruise Control), assistente de permanência em faixa, alerta de ponto cego e alerta de frenagem de emergência, o Mustang traz aqui o seu maior paradoxo. O condutor de um carro como esse, purista como tende a ser, dificilmente vai se apegar a esses recursos. Até porque o mais divertido desse carro é justamente abusar de sua cavalaria dentro de uma pista, quando os quase 500 cv farão diferença. Ele faz 0 a 100 km/h em 4,3 segundos e atinge 250 km/h de máxima (limitada eletronicamente). Os freios Brembo são tão eficientes quanto o motor nessas condições.
Mas possui outros itens bem divertidos para abusar em circuitos fechados – jamais na rua, por favor –, como o Line Lock (trava freio dianteiro e permite que as rodas traseiras girem em falso) e o modo Drift, em que o freio de estacionamento não possui aquela trava convencional, tal qual os carros de rally. E o que você tem com essa mescla: um carro delicioso para brincar de drifting, desligando-se o controle de tração, usando a potência do motor e provocando a traseira com esse freio de estacionamento.
Com câmbio de 10 marchas que aproveita vem o torque do motor, ele tende até a ser econômico, visto que, na estrada, a 100 km/h, é capaz de fazer 11 km/l. Na cidade, bem, aí não passa de 5,5 km/l, principalmente quando você vai testá-lo somente por uma semana e quer usufruir ao máximo do ronco do V8.
Oferecido a R$ 529 mil, o Ford Mustang GT Performance é único. Possui, como se viu, vários atributos que o transformam em um modelo único, que traz muita diversão para os aficionados e, por isso, parece uma ótima pedida. Até porque – e isso vale a pena mencionar de forma muito particular – nenhum outro carro que eu conhecia traz a informação da mistura estequiométrica exposta no quadro de instrumentos. Essa é a relação entre o volume de ar versus o de combustível que está sendo consumido e costuma ser, em modelos a gasolina, entre 14 e 15 para 1. Tá lá. O Mustang, com seus 5 litros de capacidade cúbica, bem, varia de 12 a 13 pra 1. Para que você precisa dessa informação? Para nada. Não há serventia alguma. Mas quem é apaixonado por carro, gosta.