“Meu carro fundiu o motor com apenas 50 mil km rodados”. Já ouvi casos semelhantes em que veículos de diversas marcas tiveram problemas de ter que fazer retífica ou até trocar motor. Como pode um carro relativamente novo fundir o motor? Salvo uma falha de qualidade muito rara, a possível causa é, em quase 100% dos casos, falha na manutenção. Explico.
O óleo do motor tem prazo de validade, que está relacionado a uma determinada quilometragem e/ou tempo. A recomendação da maioria das montadoras é a troca a cada 10 mil km ou 1 ano, mas pode variar dependendo da marca.
Qual a função do óleo do motor? Lubrificar as partes que se movimentam dentro do motor, como virabrequim, comando de válvulas, cilindro, eixo do rotor do turbo, entre outros componentes.
O que acontece se eu demorar muito para trocar o óleo? Se ultrapassar a quilometragem especificada porém dentro de 1 ano, o óleo perderá suas característica de lubrificação e viscosidade. Além disso, a quantidade de resíduos que se solta das partes móveis começam a trabalhar como abrasivo, diminuindo assim a vida útil do motor.
Se, por outro lado, o carro rodar pouca quilometragem – por percorrer trajetos curtos em cidades, por exemplo – e o usuário imaginar que como não atingiu a quilometragem especificada para troca do óleo, não precisa trocá-lo, aí a situação fica crítica.
Nessas condições, o óleo começa a virar “graxa” e, novamente, para de funcionar como lubrificante, gerando atrito enorme entre as partes do motor, aquecimento, excesso de temperatura e finalmente a famosa “fundida do motor”. Nesta condição, a morte do motor é eminente!
“Mas eu conheço uma pessoa que teve que retificar o motor mesmo trocando o óleo”. Verdade, pode sim acontecer. Mas por quê?
As montadoras especificam qual ou quais óleos são recomendados pois eles têm características diferentes entre si. Existem óleos sintéticos, semissintéticos e minerais. Além disso, existe uma especificação de nível de viscosidade que também é indicado pela montadora. Outro detalhe super importante está na troca do filtro de óleo que, preferencialmente, deve ser feita a cada troca de óleo.
O que pode acarretar a utilização de um óleo não especificado? A lubrificação pode ser inferior ao que o projeto foi desenhado, reduzindo portanto a vida útil, podendo ao longo do tempo gerar folgas no virabrequim ou comando de válvulas, ou até mesmo desgaste prematuro das camisas, gerando perda de compressão e, consequentemente, potência.
Caso real que presenciei: um motor de 3 cilindros que teve o eixo de admissão do comando de válvulas quebrado em dois pedaços porque a correia dentada quebrou os dentes, tudo isso dentro do prazo para substituição da correia.
Falha do motor? Falha da correia? NÃO!!! Utilização de óleo não recomendado, com o discurso de que “o óleo recomendado é mais caro, então economizei com este outro que é bom também”!
Nesse projeto, o que acontece é que a correia é banhada pelo óleo do motor para reduzir ruído e vibração do motor. Porém, o óleo tem que ser o correto, caso contrário, ele ataca a borracha da correia, que tem o ressecamento e quebra como resultado, fazendo com que o comando gire em falso – ou, no caso, não gire. A partir disso, o motor ainda girando faz com que os pistões colidam com as válvulas, gerando um estrago enorme. Esse é o típico exemplo de que o barato sai muito caro.
Saindo um pouco do óleo e falando sobre líquido de arrefecimento.
O sistema de refrigeração do motor é constituído por uma bomba de água que faz o líquido circular pelas galerias do motor e na saída, passa pelo radiador para refrigerar o líquido, que está muito aquecido pelo calor do motor. O líquido utilizado é uma mistura de água “desmineralizada” e um aditivo, que tem como objetivo evitar corrosão das partes metálicas, bem como aumentar o ponto de fusão da água.
Via de regra, ninguém substitui o líquido achando que não precisa, o que é um grande erro.
Há também os que substituem e não colocam o aditivo (etileno glicol ou semelhante), e ainda os que substituem mas colocam a água de torneira que, mesmo com o aditivo, gerará problemas a médio ou longo prazo.
O que pode acarretar a não observância desta recomendação? Corrosão das partes metálicas e por consequência, entupimento das galerias, fazendo com que a refrigeração seja deficiente. Isto por consequência, poderá também, em casos extremos, acarretar na perda do motor por excesso de temperatura, o famoso motor fundido.
Caso real que aconteceu comigo: tinha um carro que adquiri com uns 10 anos de uso e 150 mil km. Começou a ferver em marcha lenta, mas andando em estrada a temperatura voltava ao normal. Eu e meu mecânico, que também é engenheiro, ficamos pensando nas hipóteses prováveis. Achávamos que pudesse ser a válvula termostática, mas no fim descobrimos que a bomba de água – que é basicamente uma turbininha de aço que faz a água circular – simplesmente ficou tão corroída que as pás da turbina “sumiram” e, portanto, não fazia circular a água.
Bom, infelizmente pra mim, isto acabou gerando uma pequena fundição do motor quando estava fazendo Track Day em Interlagos. Resumo da ópera: quebrou uma biela e como estava em alto giro, o pistão desta biela, bem como o pistão dela, viraram pedaços minúsculos. O bloco do motor teve 5 buracos abertos pela biela e pistão a ponto de quebrar também o motor de partida, que é fixado no bloco do motor.
A recomendação que deixo é bem simples: siga as instruções dos fabricantes e seja feliz!