Aos trancos e barrancos, e sem direcionamento muito claro, país cria o embrião de um futuro polo de produção de veículos elétricos, baterias e matérias-primas
Enquanto China, Estados Unidos e Europa despertavam para o carro elétrico nos últimos anos, o Brasil parecia dormir em berço esplêndido. Não que o gigante tenha acordado com muito entusiasmo – desculpe pelos trocadilhos infames com o Hino Nacional –, mas é fato que o país, aos trancos e barrancos, parece mais desperto ao tema.
A mais notória das notícias é a de que a BYD deve mesmo assumir o antigo complexo da Ford em Camaçari (BA). Com investimento de R$ 3 bilhões, a gigante chinesa e uma das maiores referências mundiais em produção de veículos eletrificados deve dividir o espaço em três fábricas: de carros híbridos e elétricos; de ônibus e caminhões elétricos; de processamento de lítio para baterias.
A parte não tão boa é que, ao que tudo indica, a mesma BYD desistiu de adquirir também a planta da Stellantis em Campo Largo (PR), que era responsável pelo fabrico dos extintos motores E.Torq e, muito provavelmente, deve ser fechada.
E há outros passos sendo dados. A WEG, empresa nacional já muito bem estabelecida no mercado de motores elétricos, anunciou um aporte de R$ 100 milhões para construir uma unidade de produção de baterias para veículos elétricos em Jaraguá do Sul (SC), mesma cidade de sua sede.
Dentro do mesmo ciclo de investimentos, a marca vai ampliar o atual prédio onde confecciona motores elétricos. O projeto deve ser concluído no primeiro semestre de 2024, e prevê uma capacidade de oferta de mais de 1 GWh de bancos de baterias por ano, incluindo módulos, células de íons de lítio, sistemas de gerenciamento eletrônico, refrigeração e segurança.
São duas etapas dentro do cronograma de investimentos, que somam R$ 100 milhões: a primeira, que envolve a ampliação imediata do prédio de fabricação atual; e a segunda, que prevê a conclusão da nova fábrica de packs de baterias para o 1º semestre de 2024.
Já para este ano deve ficar pronta a fábrica de ônibus elétricos da Eletra em São Bernardo do Campo (SP). São R$ 22 milhões provisionados para criar uma linha capaz de montar até 150 veículos mensalmente, sendo 1.800 ao ano. De lá, sairão produtos da família e-Bus.
Por fim, a mineradora brasileira Sigma iniciará a produção de lítio no Vale do Jequitinhonha em abril, com promessa de extrair 270 mil só este ano. Além disso, já captou R$ 800 milhões para triplicar a capacidade em 2024, chegando a 768 mil toneladas anuais.
“E vamos conseguir escalar nossa produção sem comprometer os padrões rígidos de sustentabilidade: sem uso de químicos poluentes no processo de purificação, com empilhamento a seco e com recirculação da água que captamos e tratamos do rio Jequitinhonha”, promete a CEO da companhia, Ana Cabral-Gardner.
Esses e outros projetos indicam que, sim, a indústria nacional começa aos poucos a acordar para esta nova realidade chamada eletromobilidade. E precisamos, pois a chance de o bonde passar e ficarmos catastroficamente para trás é enorme.