Gibraltar ficou estreito o suficiente para que a seleção de Marrocos atravessasse a fronteira e invadisse a Espanha a caminho de Portugal. Quem derruba prognósticos leva junto tal prerrogativa e deixa a interrogativa nas mentes dos então adversários: “como foi possível?”
Impossível é achar que é impossível quando o jogo parece ser seu. E parecer não é ser. A maior parte das apostas ia para a Espanha. O problema foi que o próprio time espanhol acreditou em sua superioridade, na tradição de mais participações em Copas e…um título, conquistado por uma geração que não joga mais. Tinha a Espanha no banco a prepotência de quem julgava o time uma potência. Luis Enrique esteve em Copas sem erguer a taça. Ajudou a preparar o ambiente para 2010 e creu ser imbatível porque há 12 anos um título foi possível.
E quem era Marrocos? Aquele país do lado de lá de Gibraltar e que, na língua espanhola, sequer encaixa o palíndromo, pois “socorram-me, subi no ônibus em Marrocos” só cabe em português. Marrocos foi quem riu por último depois de mostrar como pênaltis devem ser cobrados em uma decisão. Os marroquinos comem agora um pouco mais de arroz e rumam para Portugal. Parece que lá haverá um duelo de verdade.
E a Espanha que fique para lá de Marrakesh.
Portugal, com certeza e razão
A seleção de Portugal que vai enfrentar Marrocos teve, para chegar às quartas de final, que enfrentar a Suíça, os problemas internos e a desconfiança. Deixar Cristiano Ronaldo no banco de reservas por decisão do treinador parecia, antes do jogo, uma loucura sem precedentes, mas com apoio popular e, provavelmente, de nomes fortes da Federação Portuguesa. A discussão de CR7 com um jogador sul-coreano na última partida pela fase de grupos desagradou o técnico Fernando Santos e rendeu internamente. O comandante, então, resolveu mostrar que ali havia comando e deve ter sido muito bem bancado para não recuar.
Quem bancou sabia que ele não iria recuar o time. Muito pelo contrário. Diante de uma Suíça que fatalmente jogaria fechada e tentaria encaixar uma bola, sistema por vezes eficiente em decisões em jogo único, Portugal não teve a paciência que o jogo poderia exigir e resolveu a questão antes que o primeiro tempo acabasse. E quem tratou de contar essa história foi ninguém menos que o substituto de Cristiano Ronaldo. Gonçalo Ramos não tremeu diante de um estádio lotado, em uma Copa do Mundo e jogando no lugar do maior ídolo do país. Abriu a contagem com um chute espetacular, no único espaço que cabia entre a trave e o goleiro Sommer. A soma aumentou com uma cabeceada (não uma cabeçada, desta vez) de Pepe.
Gonçalo Ramos brilhou de vez no segundo tempo. Marcou mais dois, para levar Cristiano Ronaldo a, enfim, sorrir. Raphael Guerreiro e Rafael Leão fecharam a conta e o gol de Akanji, quando o jogo estava 4 a 0, não fez diferença alguma. Gonçalo Ramos saiu para Cristiano Ronaldo entrar. Já tinha ido além da conta.
O que há agora é uma decisão em aberto. Marrocos iria perder para a Espanha e Portugal teria dificuldades para vencer a Suíça. Ainda bem que o futebol muda tudo em 90 minutos. Ou em 120, mas os pênaltis…