Lionel Messi é camisa 10, nota 100 e foi aos mil. E ainda não falamos de bolas na rede, mas em bolas que rolaram e deslizaram em seus pés, que poucos deslizes cometem. Falar em mil vezes Messi é tão clichê quanto elogiá-lo, reconhecer que seus times são diferentes com e sem sua presença. Só que é necessário lembras disso tudo a todo instante. É inevitável elogiar Messi, mesmo que seja clichê.
Lionel Messi foi a campo pela milésima vez. E não falamos da figura de linguagem que dimensiona um número de ocasiões, mas sim da figura que mudou a linguagem da bola em diversas ocasiões.
Messi veste a camisa 10 e a braçadeira de capitão da seleção argentina, da mesma forma como um certo Diego, há pouco mais de 36 anos, sob o calor mexicano. Se Messi vai pregar no deserto ou voar nas areias ainda não é certo. Se terá em 2022 a Copa de Diego em 1986, o tempo e os jogos 1001, 1002 e 1003 dirão, se é que os dois últimos acontecerão. O fato é que, também pela presença de Messi, a Argentina está nas quartas de final.
O Messi que marcou de pênalti contra a Arábia Saudita também ficou sem entender nada quando a virada aconteceu. Depois, liderou o time nas vitórias sobre México e Polônia, sabendo, inclusive, defender-se quando teve um pênalti defendido pelo goleiro adversário. Tinha a Austrália nas oitavas de final e, com tudo a favor, tornou o cenário favorável no dia em que completou 1 mil jogos na carreira.
O jogo
Era evidente a maioria Argentina no estádio, nos prognósticos e em qualquer banca de apostas. E isso não se devia aos dois títulos mundiais conquistados pela alvi-celeste, mesmo porque aquelas gerações deixaram de jogar futebol profissional há muito tempo. O que a Argentina tinha de vantagem sobre os australianos era um time mais cascudo e experiente. E a Austrália não tinha Lionel Messi; a Argentina sim.
E apostar tudo em Messi vai além do talento do camisa 10. Conta-se com ele também quando o adversário joga por uma bola, ou seja, totalmente fechado em seu campo de defesa, atraindo o time argentino e buscando encaixar um contra-ataque. Esta era a proposta clara do time australiano no primeiro tempo. Com inteligência e sabedora de que no futebol não valem apenas os gols marcados dentro da área, o time argentino começou a arriscar alguns arremates. Quase deu certo, mas precisava de algo a mais. Precisava de Messi. A troca de passes que caiu no pé esquerdo do camisa 10 iria resultar em um bloqueio formado por três australianos. Mas era Messi chutando. Era a bola no canto onde nem os três adversários nem o goleiro alcançariam. Era o canto da torcida argentina logo após a explosão.
O gol que obrigou a Austrália a alterar seu esquema de jogo acabou por favorecer um pouco mais o time argentino. Atrás no placar, a Austrália passou a pressionar a saida de bola adversária e isso já começava pelo goleiro Emiliano Martinez. A Argentina entendeu a mudança e passou a jogar com essa cautela, a mesma que os australianos não tiveram no segundo tempo, quando os argentinos utilizaram-se da mesma artimanha. No erro grosseiro do arqueiro Mat Ryan (e arqueiros remetem ao futebol antigo, em que goleiros jogavam com as mãos), Julian Alvaréz marcou o segundo argentino.
Jogo ganha e dominado até Goodwin arriscar um chute e a bola desviar em Enzo Fernández. A Australia que voltou para o jogo só não marcou porque Lizandro Martínez evitou que o latera-lesquerdo Benich marcasse um gool digno de Maradona contra a Inglaterra em 1986. Não seria igual, mas certamente iria constar nos vídeos dos gols de todas as copas e de todos os tempos. No último lance do jogo, Kuol ainda mandou um chute à queima-roupa, que Martínez espalmou. Um pouco antes, lautaro Martínez havia mandado para as arquibancadas a bola rolada por Messi depois de uma jogada individual, digamos…a la Messi.
Lionel levou a Argentina para as quartas de final no dia em que entrou em campo pela milésima vez. Até um possível tri são mais três.