O maior jogador de futebol de todos os tempos faleceu na tarde desta quinta-feira (29). Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, encerrou às 15h27 a luta contra um câncer de cólon. Ele estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein há rigorosamente um mês, para reavaliação da quimioterapia e tratamento de uma infecção respiratória. O Rei do Futebol tinha 82 anos.
Em boletim médico divulgado no último dia 22, os médicos haviam alertado para a progressão do câncer e afirmaram que o paciente estava necessitando de cuidados paliativos referentes às disfunções renal e cardíaca. Na última quarta-feira (28), os dois filhos de Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto, se juntaram à família e visitaram o avô no hospital. As filhas Flávia Arantes, Kely e o filho, Edson Cholby do Nascimento, o ex-goleiros e atual treinador Edinho, estavam acompanhando o pai.
Pelé foi diagnosticado com câncer em setembro de 2021. Desde então ele realizou sessões de quimioterapia e alternou períodos de internação. No final de novembro, ele foi levado ao Albert Einstein para verificar um inchaço no corpo. Os médicos constataram que Pelé não respondia mais ao tratamento.
A vida
Para entender quem é Pelé e o que ele representa para o futebol mundial sem que seja necessário buscar subjetividade e/ou poesia, os números dão uma dimensão prática e direta de algumas razões para ele ser chamado de Rei do Futebol.
O primeiro índice já é mais que suficiente para tal compreensão. Não há na história registros de algum jogador que tenha marcado mais gols que Pelé. Entre Santos Futebol Clube, New York Cosmos e Seleção Brasileira foram 1.282, número que só teria sido alcançado por Arthur Friedenreich, que jogou no começo do Século XX. No entanto, não há registros mais precisos dos 1.329 gols que ele teria marcado.
Na divisão de gols marcados por camisas vestidas por Pelé, o Santos, obviamente, tem o maior índice. Foram 1.091 gols somente pelo clube da Vila Belmiro. Para dar uma ideia mais precisa, Pepe, segundo artilheiro do peixe (e que se julga o primeiro, porque Pelé não conta) balançou as redes adversárias por 405 vezes, ou seja, menos da metade na comparação com Pelé. Dos jogadores que atuaram pelo Santos depois da Era Pelé, Neymar é o maior artilheiro. Foram 138 gols.
Para “melhorar” esses dados, Pelé chegou ao Santos FC em 1956. Dois anos depois e ainda antes de completar a maioridade, levou a seleção brasileira a conquistar sua primeira Copa do Mundo ao esbanjar seu talento nos estádios suecos. O terceiro gol brasileiro na final, diante dos donos da casa, na partida que terminou com o placar de 5 a 2, é repetido à exaustão até hoje. Naquele mesmo ano de 1958 Pelé marcou inatingíveis e coincidentes 58 gols no Campeonato Paulista. O Santos foi campeão estadual com 143 tentos.
Com a seleção brasileira, em jogos oficiais, Pelé marcou 77 gols, número alcançado somente na Copa do Mundo de 2022, quando Neymar igualou-se ao Rei. Se forem considerados os amistosos da seleção, Pelé tem 95 gols marcados. Outros 64 foram anotados com a camisa do Cosmos. Os 32 restantes saíram em partidas por combinados como seleção paulista, um time misto de Santos e Vasco, seleção do exército e seleção do sudeste.
Se somente no Campeonato Paulista de 1958 Pelé marcou mais gols que muitas equipes inteiras, no ano seguinte, considerando os 365 dias, ele anotou 126 gols. Dois anos depois, em 1961, foram 11 bolas na rede. Em 1965 ele marcou 105 vezes.
Em Copas do Mundo, Pelé é o 5º maior artilheiro, com 12 gols. Fica atrás de Miroslav Klose (16 gols), Ronaldo (15), Gerd Müller (14) e Just Fontaine (13).
O número insuperável de gols é acompanhado por uma lista com dados ainda mais impressionantes. Pelé conquistou 37 títulos como jogador, número igual ao do espanhol Andrés Iniesta e que só é superado por Daniel Alves, que tem 43.
Os principais títulos de Pelé:
Copa do Mundo (Brasil): 1958, 1962, 1970;
Taça Brasil (Santos): 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1968;
Copa Libertadores da América (Santos): 1962 e 1963;
Mundial de Clubes (Santos): 1962, 1963;
Campeonato Paulista (Santos): 1958, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1967, 1968, 1969, 1973;
NASL (NY Cosmos): 1977
Conquistas pessoais
Além das opiniões de jornalistas e milhares de torcedores, Pelé foi escolhido o Melhor Jogador do Século XX pela Fifa. E embora jamais tenha jogado uma Olimpíada, o Comitê Olímpico Internacional o elegeu Atleta do Século. A revista norte-americana Time o colocou entre as 100 maiores personalidades do Século XX.
Pelé só não ganhou a Bola de Ouro (que indica o melhor jogador do mundo em uma temporada) porque a Revista France Football considerava apenas jogadores com atuação na Europa. O reconhecimento veio somente em 2013, quando a publicação entregou a Bola de Ouro honorária ao Rei. Pelé entrou direto para o Time dos Sonhos da Bola de Ouro, ou seja, o melhor time de todos os tempos.
Na Copa do Mundo de 1958, Pelé foi eleito o melhor jovem jogador da competição e ficou com a Bola de Prata. No tri, em 1970, no México, ele foi o Bola de Ouro do torneio.
Pelé é Cidadão do Mundo, prêmio que recebeu da ONU em 1977, e Embaixador da Boa Vontade, iniciativa da Unesco.
História
O fenômeno que Pelé tornou-se passa diretamente pela presença de um dos grandes jogadores do futebol brasileiro. Waldemar de Brito marcou 56 gols com a camisa do São Paulo e esteve com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1934. Após encerrar a carreira de jogador, aceitou um projeto para garimpar talentos no Bauru Atlético Clube. O Baquinho tinha, em seu time profissional, um bom atacante e excelente cabeceador chamado Dondinho. Morador da cidade mineira de Três Corações, havia mudado para Bauru quando assinou com o Baquinho e levou a família consigo. Um de seus filhos, inclusive, estava nas categorias de base do clube.
O garoto tinha até um apelido do qual não gostava. Quando Dondinho jogou no Vasco da Gama de São Lourenço, a equipe tinha um goleiro chamado Bilé, muito admirado pela torcida. O filho de Dondinho assistia aos jogos do pai ao lado do tio, Jorge, e se encantava com as defesas de Bilé. Nas ruas de Bauru ele tentava imitar o arqueiro e, quando fazia uma boa defesa, reproduzia os comentários dos torcedores do Vasco: “Boa, Bilé”; “Segura Bilé”; “Grande Bilé”.
Só que os outros garotos não entendiam direito o que o menino gritava e entendiam aquelas palavras como “Boa Pelé”. E passaram a chamá-lo de Pelé. Ele não achava graça nenhuma com esse nome.
Em 1954, na preliminar de um compromisso da equipe principal, Waldemar de Brito viu o adolescente marcar sete gols de seu time numa goleada por 12 a 1. Foi o suficiente para chamar a atenção do ex-craque. Waldemar de Brito não deixou o Bauru aceitar uma proposta relâmpago do Noroeste por Pelé. Em 1956, levou sua revelação ao Santos e, na apresentação do futuro fenômeno no clube, previu: “Esse será o maior do mundo”.
Em seu primeiro treino, Pelé ocupava espaço no mesmo campo onde estavam Formiga, Zito, Pagão, Pepe e outros. Na edição publicada no Jornal A Tribuna, no dia seguinte, o relato dizia que, em 40 minutos de atividades, Pelé impressionou pelas qualidades técnicas. “Após o coletivo, a reportagem se movimentou e apurou tratar-se do jovem Edson Arantes do Nascimento, com 16 anos de idade, estudante, que procedia de Bauru, sem estar vinculado a qualquer agremiação esportiva. A seguir, o diretor do departamento profissional do Santos iniciou entendimentos com seu progenitor e ainda com o famoso jogador do passado Waldemar de Brito, que é o orientador intelectual da grande promessa futebolística, presente nossa reportagem. Tudo assentado, Edson Arantes do Nascimento (conhecido por Pelé) foi contratado pelo campeão paulista de 1955. Receberá o jovem Cr$ 6.000,00 mensais e estudará em um dos colégios de nossa cidade, às expensas do Santos Football Club em curso ginasial”.
Pelé chegou a Santos graças também à participação do então governador de São Paulo, Jânio Quadros que atendeu a um pedido do presidente santista, Athié Jorge Coury, que na época exercia o mandato de deputado estadual e conseguiu uma transferência no serviço público para o seu amigo Valdemar de Brito, deslocando-o de Bauru para São Paulo. Pelé chegou a Santos em 22 de julho de 1956, acompanhado de seu pai, Dondinho e de Valdemar de Brito.
O nome
Edson foi assim chamado em homenagem a Thomas Edison, criador da lâmpada elétrica. Foi uma gratidão de Dondinho depois a cidade de Três Corações ganhou iluminação.