A Argentina tem Messi. E quem tem Messi está à frente de qualquer adversário, sobretudo quando o oponente não se opõe à própria maneira de jogar. Messi é o cara. Que dribla e desequilibra. Que leva nas costas o time para a frente e deixa seus companheiros na frente do gol adversário. Que não é o único jogador em campo, mas é um jogador único. Que mostra em 2022 o que dele se falava em 2006 e se esperava desde 2010. Que apagou e foi apagado em 2014 para acender e ascender em 2022. Que leva a Argentina a mais uma final de Copa do Mundo. A segunda em oito anos. Falta o último degrau para que esta seja a Copa do Messi. Não falta mais nada para esta ser a Argentina do Messi na Copa. Como foi com Maradona em 1986. Como não havia sido com Messi até 2022.
Lionel Messi dribou até as desconfianças de quem nele não confiava e acreditava ser ele o menos argentino de uma seleção argentina. Da ida precoce e necessária para a Europa ao futebol que encantou o mudo e todo mundo no Barcelona, tornou-se tão excepcional no clube que não era visto como o jogador da seleção. O ouro olímpico em 2008 era considerado de tolo para os que, inocentemente, queriam vê-lo sendo Maradona em todos os jogos pela seleção. Nem o próprio Maradona foi. Exigiam a mesma entrega, enquanto questionavam o que Messi entregava. O Messi de 2022 entrega de bandeja para os companheiros.
A Croácia que eliminiou o Brasil da Copa do Mundo sabia que iria enfrentar Messi, mas acreditou, pelo menos até o pênalti (corretamente marcado) que resultou no primeiro gol argentino, que poderia ir à segunda final consecutiva da maneira como fora em 2018. Como chegou às semifinais em 2022. Como fora o futebol apresentado em duas Copas seguidas. Acreditou a seleção croata que poderia envolver os argentinos com uma marcação mais forte e o mesmo toque de bola rápido que desnorteou o Brasil na última sexta-feira. Nem a seleção brasileira foi totalmente dominada, basta rever o segundo tempo. Não seria a Argentina a cair na mesma armadilha. Não um time sul-americano. Não quem tem Lionel Messi. E a Croácia acreditou na tese de que poderia jogar como fora até agora.
Jogando como fora, está fora.
E como se estivesse do lado de fora do campo, viu a Argentina, esta sim, tocar a bola com rapidez, pelo menos até o momento em que chegasse ao seu camisa 10. Quando Messi parava a bola em seus pés, o time inteiro se movimentava praticamente sem marcação. Pobre Kovacic. Não lhe coube a incumbência de deixar Messi sem espaços. Pobre Gvardiol, que deixou apenas alguns centímetros na linha de fundo para Messi. Jogada concluída e gol de Julián Alvarez. O terceiro, o que selou a vitória e carimbou os argentinos em mais uma decisão de Copa do Mundo.
Diga-se de passagem, Alvarez passou como quis pela defesa croata, ainda tonta e atônita depois do gol de pênalti que sofreu. Parecia não estar nos planos croatas sofrer um gol no tempo normal. O normal seria levar para os pênaltis. A Argentina desconstruiu o sistema croata enquanto Messi ia construindo obras de arte para, quiçá, expô-las na decisão.
Messi decidiu até agora. Terá, no domingo, a última chance igualar-se a Maradona em conquistas de mundiais. E pode ocupar de uma vez por todas um espaço nos corações argentinos. Messi mexe, como Maradona mexeu no México. Falta, ainda falta. Mas de falta Messi também marca. Ainda mais quando só tem uma chance para vencer.