Fosse Croácia x Marrocos a final da Copa do Mundo – e poderia ser – e os europeus ergueriam a taça pela primeira vez. A Croácia de sete Copas do Mundo tinha um vice-campeonato, um terceiro lugar e havia chegado a mais uma semifinal. Marrocos já tinha ido além das fronteiras continentais ao mandar para casa – por sinal, bem perto de sua casa – Espanha e Portugal e tornar-se, desta maneira, a primeira seleção africana a entrar para o Top 4 de uma Copa do Mundo. A Croácia vice-campeã do mundo estava quase toda no Catar, mantendo a base e o comportamento em campo. Seria muito difícil tirar o terceiro lugar do time da camisa xadrez. Será muito difícil tirar da memória a geração marroquina que deixa o Catar com o inédito quarto lugar. É que não deu para ir além, embora já tivesse ido.
Marrocos foi até onde deu. Não deu para ir além. Deu para ir além da própria história e para crescer em dimensões semelhantes às do continente africano. Não faltou vontade de ir além. Faltou o centroavante, aquele que chutasse, concluísse o chute do companheiro, escorasse o cruzamento, finalizasse a jogada, resolvesse o jogo. Talvez esteja explicada a ausência dos gols quando a França suava para conter o ímpeto marroquino na semifinal. Uma boa conclusão de jogada e o ineditismo poderia ser mais significativo.
A tendência e a pendência para o lado croata confirmaram-se durante os 90 minutos de bola rolando. Um time mais sólido e consciente de que atingiria o resultado. Marrocos foi o time que chegou provocando saídas de favoritos e tinha a seu favor a torcida de quem gosta do inusitado, do diferente. Deixou apenas, a partir do momento em que levou o segundo gol, de ser aquele tive das oitavas e das quartas de final. Atacou pouco, quase não ameaçou. A quarta colocação, honrosa em se tratando do histórico de Marrocos em Copas do Mundo, parecia ser o ápice e não havia a necessidade de atingir o Nirvana. A Croácia, sim, demonstrou querer honrar o momento e a história recente. E o terceiro lugar seria o mais decente.
O jogo, diante disso, teve menos de 20 minutos de duração, pelo menos em termos de merecer as atenções. Um gol para cada lado, com dois minutos de diferença e em circunstâncias bastante parecidas, levaram a crer que seria impossível desgrudar os olhos do campo e da tela, sobretudo quando Orsic marcou o segundo gol croata. Foi quando a decisão assemelhou-se mais a um jogo de meio de semana em um longo campeonato por pontos corridos. Marrocos até poderia produzir alguma coisa sem o centroavante, mas parecia sorrir com o honroso quarto lugar.
Sem dúvida, mais honroso que cair nas quartas depois de levar um gol no final da prorrogação.
Foi a primeira Copa em que um africano foi bem longe. Pode ter sido a última Copa de Modric. Já são 37 anos e mais de 160 jogos pela seleção. Terá 41 em 2016. Que dá, dá, mas não deve dar.
Encerra-se a história de uma boa geração croata e, se o país tiver inteligência e boa vontade, forma novos semifinalistas. Quem sabe finalistas? Quem sabe campeões?
Encerra-se a história de um surpreendente time marroquino e, se o país tiver inteligência e boa vontade, novas histórias serão escritas. Para o país não ser lembrado por um só mundial. E até que incomode as chamadas potências do futebol.
Há um terceiro e quarto colocados. Há uma Copa próxima do “havia uma Copa”…