A seleção brasileira caiu nas quartas de final em 2018. A seleção caiu nas quartas em 2006 e 2010. Caiu nas quartas em 1986, nos pênaltis. Em 1990 sequer chegou lá. Em 2014 passou, mas seria melhor ter ficado. Desde as mudanças no sistema de disputa da Copa do Mundo, aplicadas a partir de 1986, foi a quinta vez que o Brasil caiu nas quartas. Pela terceira vez em uma sexta. Todas as vezes perdendo para um time europeu.
O país pentacampeão do mundo não detém a hegemonia do futebol, ainda que acredite ser dela o proprietário exatamente por ser pentacampeão do mundo. Só que a ciência não exata do futebol aponta com exatidão (e não é de hoje) que a potência mundial chama-se Europa. O futebol do Velho Continente é, sim, enriquecido todo o tempo com sul-americanos, africanos e asiáticos, que enriquecem com os milhões pagos na Zona do Euro (ou das Libras) mas, ao mesmo tempo, junta os talentos isolados para formar seleções.
Tite sorriu com a ideia de que a seleção brasileira tinha o melhor futebol da América do Sul. Não tinha. Quando enfrentou aquela que seria a segunda potência do continente, o Brasil foi derrotado em casa e viu o título da Copa América escapar. O jogo contra a Argentina pelo segundo turno das Eliminatórias sequer foi realizado, graças à polêmica da vacina e à falta de necessidade, pois os dois times estavam na Copa, independentemente do que acontecesse em uma eventual partida. Dos sul-americanos classificados para a Copa, só Brasil e Argentina chegaram às oitavas de final.
Quem ficou em 1º e 2º nas Eliminatórias sul-americanas?
A Croácia que tirou o Brasil da Copa do Mundo havia sido adversária somente em fases de grupos e, nas duas ocasiões, a seleção brasileira venceu. A Croácia que enfrentou o Brasil nas fases de grupos em 2006 e 2014 não trazia consigo um vice-campeonato mundial. A Croácia de 2022 não só mantinha tal alcunha como preservava a base que a levou a esta condição. E a Croácia vice-campeã do mundo em 2018 eliminou Dinamarca e Rússia nos pênaltis. A Croácia de 2022 já tinha eliminado o Japão nas oitavas de final. Nos pênaltis.
A Era Tite termia com um “ja era, Tite” e algumas filosofias comuns à prerrogativa da teimosia, à qual treinadores da seleção recorrem. Neymar terá, no mínimo, uma Copa a mais. Muitos rostos estarão em 2026, mas outros não, por opção de quem assumir o comando ou por obrigação da idade.
E que ninguém queira encerrar a carreira de Rodrygo.
O jogo
Era sabido que a Croácia teria em campo uma postura muito mais próxima de Sérvia e Suíça do que de Camarões e Coreia do Sul. Não iria sair estabanadamente para o jogo e se expor. A ideia seria esperar o ímpeto brasileiro e buscar ao menos um contra-ataque. Neste ponto entraram duas surpresas: além de não se limitar a um só contra-ataque, a Croácia tinha uma maneira peculiar de ir para o campo adversário. Diante de um Brasil que tinha ideia da maneira do adversário jogar, os croatas buscaram o gol de Alisson nos toques rápidos e movimentação forte. O sistema deu muito certo no primeiro tempo e, sim, envolveu o time brasileiro. As melhores oportunidades na primeira etapa foram criadas pela Croácia. O Brasil, quando chegou mais próximo do gol adversário, o fez também no toque rápido de bola.
Raphinha e Lucas Paquetá destoaram um pouco. Não estavam nos melhores dias. Estavam um tanto quanto sumidos. Danilo seguiu na lateral-esquerda e até distribuiu algumas bolas, além de acionar Vinicius Jr em diversas ocasiões, mas o improviso, definitivamente, não foi nem para ele, nem para o time.
O Brasil entendeu o recado croata no primeiro tempo e adotou o mesmo sistema de jogo na segunda etapa, mas com um diferencial: tinha mais talentos indiviais que os croatas. A partir daí o time braisleiro criou as melhores oportunidades, algumas claríssimas, mas parou na fortíssima marcação adversária e nas mãos e nos pés de um ótimo goleiro Livakovic.
Justamente por ter menos talentos individuais, a Croácia apostou no conjunto e priorizou a marcação no segundo tempo. O time mostrou se conhecer muito bem, sobretudo seu goleiro. Estava clara a proposta croata de levar a disputa para os pênaltis. Bastava ver a velocidade do time em campo.
A prorrogação parecia ser mais um teste físico do que uma disputa de vaga nas semifinais. A Croácia seguia com a proposta de deixar o tempo passar para levar o jogo para os pênaltis, enquanto o Brasil buscava forças para encaixar algumas arrancadas. Conseguiu no final do primeiro tempo, com Neymar e a tabela deixou o camisa 10 na frente de Livakovic. Então, ele mostrou por que é Neymar. O drible na estrada da pequena área e a conclusão colocaram o Brasil na frente e, enfim, mostraram que a bola do jogo pode, sim, ir para os pés dele.
Era só segurar o jogo no segundo tempo. Faltou só combinar com a Croácia.
O adversário voltou a confiar nos contra-ataques em velocidade. Quando o time caiu pelo lado esquerdo e a bola foi cruzada para a entrada da área, Petkovic empatou. O jogo iria para os pênaltis.
Nesta fase há três fatos primordiais: treino, psicológico e preparo físico. Não se coloca um menino para a primeira cobrança. A cobrança sobre Rodrygo vai ser grande e injusta. Livakovic cresce nessas horas. Os croatas não perderam uma batida sequer. Bateram o Brasil depois de Marquinhos, esse experiente, mandar a bola na trave.
Fica o Brasil pelo caminho. Vai a Croácia novamente. Poderia levar a soberba e ficar o reconhecimento de que há futebol no mundo. E, em muitos lugares, melhor do que o do país pentacampeão.