O Irã não irá a lugar algum na Copa do Mundo. O Irã enfrenta a ira de seu povo, ou parte dele e parte dele vaia o próprio hino, levando o país a ficar à parte no Mundial. Resultado: Irã 2 x 0 País de Gales. O Irã irá, ou pelo menos poderá ir para mais.
O Irã que venceu País de Gales deu de ombros para o turbilhão vivido pelo país dos rostos femininos escondidos, que não consegue mais colocar um véu para esconder atrocidades chamadas de cultura e tradição. A morte de uma mulher levou à discordância em qualquer gênero e levou a números alarmantes: mais de 300 outras vidas ceifadas, só para dar uma ideia de que o time que representa tal nação estaria totalmente fora dos planos.
Quando o hino local foi executado no Ahmed bin Ali Stadium, a parcela do povo que não tolera o totalitarismo lembrou-se das recentes execuções e as lágrimas caíram no deserto do Catar. Quando a bola começou a rolar, os 11 em campo, os 15 no banco e toda uma comissão técnica concentram o universo naquele espaço verde e concentraram-se em superar os adversários de vermelho para honrar o país onde o sangue vem jorrando.
E quem deu sangue desde o início foi o Irã. Aqueles 90 e tantos minutos representavam vidas e vidas importam. Nada mais importava a não ser buscar uma vitória depois dos seis gols sofridos na estreia, contra a Inglaterra. O adversário desta sexta vinha de uma área próxima do país algoz, de um reino mais unido do que o país representado pelo uniforme branco. Tinha força física, melhores resultados recentes e Bale no ataque. O Irã tinha…o Irã.
E foi o Irã quem tomou a iniciativa e martelou, principalmente no segundo tempo. Havia marcado no primeiro, com Gholizadeh, mas o tento foi anulado. O time não parou de tentar. As duas bolas sequenciais na trave (uma em chute de Azmoun e outra em arremate de Gholizadeh) deram, a quem estava de fora, o sentimento de que a consequência deveria ser um pouco mais feliz. Houve ainda uma tentativa que passou a milímetros da trave de Hennessey.
Já se preparavam os textos informativos sobre um empate (ou até vitória de Gales em um contra-ataque rápido e mortal) e opinativos a respeito da crueldade de uma Copa do Mundo e o quanto o futebol pode ser injusto quando Cheshmi chutou de longe para acertar o canto do arqueiro galês. E, nos acréscimos dos acréscimos, Rezaeian mostrou os dentes para sorrir, enquanto deixava o estádio e o mundo de boca aberta.
O Irã estarreceu e estabeleceu justiça em um jogo de futebol, a mesma que talvez falte a um povo impedido de manifestar-se onde o time está. O que não se sabe neste momento é onde o Irã estará. Pode estar mais longe do que se imaginava. E, neste momento, pode se imaginar bem mais adiante.