A Copa é do mundo e o mundo é capitalista. Pode o mundo gritar contra, mas o dinheiro do petróleo abastece os tanques necessários para levar uma Copa do Mundo para o Catar. Então, pouco importam a cultura local, os costumes, o politicamente incorreto no universo ocidental que soa como correto para pessoas que parecem gritar no deserto. Tampouco interessam as vidas ceifadas durante a plantação de um mega evento quando a colheita já mostra sinais de sucesso logo na primeira leva.
E o ineditismo de um Mundial no Catar levou pela primeira vez a seleção local a uma Copa. Não estaria, não fosse a sede. Não estrearia, não fosse a mudança adotada em 2006 e que tirou, em 2022, a França do jogo 1. Talvez não fosse o sonho de quem esperou mais do que os quatro anos habituais por uma Copa ver Catar e Equador se enfrentando. Dado o histórico das duas seleções e, sobretudo, os fatos mais recentes, a esperança estava toda no Equador. Caberia aos sulamericanos o papel de dono da festa, mesmo em uma casa alugada e com o proprietário morando nela. E o que se viu no gramado do Al Bayt foi um Equador que entendeu o recado e cumpriu as perspectivas.
O Equador jogou como quis e determinou o ritmo da partida durante os 90 minutos. Enner Valencia foi o promoter, recepcionista, o segurança e o DJ. Não poderia ser o anfitrião, mas assumiu tal condição também. Só não fez chover por estar no deserto e não chegou ao hat trick porque o VAR estava implacável.
O jogo
Desde que a bola começou a rolar pela primeira vez na Copa do Mundo de 2022 estava claro que o Equador iria comandar os 90 e alguns minutos. O espanhol Félix Sanchez armou um esquema digno de quem imaginava o que estaria por vir. O 5-3-2 levou o Catar a jogar por uma bola que jamais chegou.
O Equador, ao contrário, cumpriu o que o técnico Gustavo Alfaro queria: força na defesa e, a partir do meio de campo, toques rápidos e objetivos. Os laterais até apoiavam, mas as principais jogadas de ataque vinham pelo meio, com posicionamentos rápidos dos jogadores da frente. Valencia alternou um pouco menos, ficando até viciadas suas quedas pelo lado esquerdo, porém, não o suficiente para ele sofrer alguma marcação mais forte, ou seja, a simples presença dele era um perigo para o Catar.
O primeiro gol poderia ter saído aos três minutos, mas a posição irrefular de Felix Torres, que participou da jogada, impediu a abertura do placar. Mas Valencia não desistiu e, ao ser lançado, ia driblando o goleiro Al-Sheeb até sofrer o pênalti que resultou no primeiro gol da Copa de 2022. O segundo veio quando o Equador havia reduzido o ímpeto (e deixado o jogo mais chato), em uma bela troca de passes que acabou num cruzamento certeiro para a cabeçada de Valencia. Era o segundo dele.
O segundo tempo foi administrado pelos donos da festa. Os proprietários da casa subiram a marcação, ciscaram um pouco, mas não foram além disso. O Equador sabia que estava com o jogo nas mãos. Poderia apenas ter tentado aumentar o saldo de gols em um grupo que os prognósticos apontam para Holanda e Senegal como classificados.
E o Catar deve ser a edição de 2022 da África do Sul: o anfitrião que sai na fase de grupos e deixa a festa para os outros. Mas parece que os donos da casa não ligam muito para isso…