Era um Argentina x Arábia. Tudo muda. A preparação fica mais moderna, o equipamento do atleta, os treinos, a bola, os gramados, a alimentação, o ônibus, a estrutura, tudo muda. O futebol não. Ou melhor, as regras universais no futebol não mudam.
No idioma futebolês, favoritismo não é uma condição, mas um status conquistado e sobre o qual quase sempre há méritos. Um time atinge tal condição quando seu histórico, recente ou antigo, é verificado. Dificilmente uma seleção brasileira entra em uma Copa do Mundo sem favoritismo, mesmo quando não vai muito bem. Quando pouca gente acreditou, o Brasil ganhou e retomou as preferências nas bancas de apostas.
A Argentina que chegou ao Catar tinha seu nome em todas as cotações, ao lado da França, do Brasil e até da Alemanha, que passa longe daquele time dos 7 a 1. Só que ninguém ganha jogo por ser favorito. Pode vencer por ter um jogador que desequilibra, por camisa que pesa, mas pela simples condição de favorito, jamais. A Argentina parecia desconhecer tal máxima ao enfrentar a Arábia Saudita. E o apostador que jogou R$ 800,00 e faturou R$ 23 mil poderia ter levado muito mais.
No futebol de momento, a Argentina começa a passar um dos maiores vexames de sua história, com uma possível eliminação na fase de grupos. No futebol analisado com maior ponderação, houve um significativo acidente de percurso, que pode não ter peso algum lá na frente. Basta saber de que maneira os argentinos irão reagir.
A zebra que passeou pelo Lusail andou pelo San Siro (ou Giuseppe Meazza) em 1990 e a massa italiana foi acompanhada por Camarões com Frango a Pumpido. Só que aquela Argentina foi até a final da Copa depois de arrumar a cozinha.
O jogo
Se algumas máximas jamais se alteram no futebol, a Argentina tem um time bastante experiente para saber disso. Ou melhor, para ter pleno conhecimento de que não se ganha jogo com nome, favoritismo e, principalmente, que ninguém entra em campo para vencer na hora em que bem entender. A Argentina parece ter acreditado nisso.
Além de uma certa displicência, como se a preocupação fosse a segunda rodada, mostrou-se o time argentino muito dependente de Lionel Messi, que deu início à sua última Copa do Mundo. Mesmo tendo um Dí Maria em campo, parecia que jogadores e treinador esperavam por uma jogada monumental do astro a qualquer momento. Ele ameaçou ao pegar um rebote logo no início do jogo, bola defendida pelo goleiro Mohammed Alowais.
Messi bateu o pênalti (que foi) marcado pelo VAR. Pronto, o jogo parecia dominado. Quem estava fora do gramado teve certeza disso. Os torcedores também. Os 11 de camisas azuis e brancas não poderiam jamais entrar nesse pensamento. A Argentina passou o restante do primeiro tempo tocando a bola e, embora dominasse todos os setores do campo, tinha a certeza de que marcaria o segundo gol quando bem entendesse, ou quando Messi encaixasse alguma jogada genial. Só que não era o México e o adversário não era a Inglaterra. E havia um adversário.
Foi isso que a Arábia Saudita mostrou no segundo tempo. Hervé Renard armou o time de uma maneira mais ofensiva e fez seus jogadores acreditarem que era possível sair do Lusail com um resultado melhor. O time árabe começou a imprimir velocidade e surpreendeu os argentinos. Levou dois minutos para Saleh invadir a área e bater cruzado, para levar o castelo argentino ao desmoronamento. Os jogadores se olhavam como quem não sabia o que fazer diante de um roteiro que havia saído do “combinado”. O chute no ângulo que determinou o gol da virada (golaço, por sinal), acabou de vez com o time argentino. Atônitos, os sulamericanos não conseguiam sequer confiar em uma jogada de Messi. É, foi dele a bola perdida que resultou no primeiro gol árabe. O tal poder de reação simplesmente não existiu. A Argentina não sabia mais como buscar o empate. Poderia ter conseguido em duas cabeçadas, mas Mohammed Alowais estava lá para não deixar.
É evidente que no dia 18 de dezembro este resultado pode não ter feito muita diferença. Mas pedir para que a quarta vitória árabe em um Mundial e, por consequência, a quebra da invencibilidade argentina sejam esquecidas, é pedir um pouco demais.
E teve mais
Deu a lógica francesa depois de uma quase zebra australiana. E uma França desfalcada.
Dinamarca x Tunísia e México x Polônia. Que chatice!
Ocha e Copa do Mundo, um casamento perfeito…