A história quase centenária da Copa do Mundo reservou para a edição de 2022 uma série de fatos inéditos que, juntos, provocam uma condição de igualdade a praticamente todas as seleções que estão – ou estarão – chegando ao solo do Catar. Se por um lado o dinheiro oriundo do petróleo e do gás teve voz mais ativa do que o romantismo que um dia acompanhou a competição, por outro a mudança de época do torneio mexeu com o calendário do futebol mundial que, até recentemente, funcionava como um carrossel.
É de conhecimento mundial a impossibilidade da prática do futebol durante o mês de junho em um país como o Catar, onde a temperatura média no período torna inviável até mesmo a exposição ao ar livre. Havia, no entanto, uma necessidade – econômica – de levar uma Copa do Mundo para o Oriente Médio. Então, para nenhum jogador terminar uma partida ajoelhado, implorando por água, a solução foi a transferência para novembro. A previsão do tempo indica máxima de 30ºC para domingo, quando a Copa do Mundo tem início.
Com a alteração de datas, a Copa do Mundo provocou um fenômeno inverso entre o Brasil e os países da Europa. Enquanto os campeonatos do Velho Continente foram paralisados, o Brasileiro foi encerrado antes do que acontece normalmente, ou seja, jogadores que atuam no Brasil estão em fim de temporada, enquanto todos os atletas que jogam na Europa (leia-se as principais ligas) jogaram no último fim de semana e deixaram seus clubes para apresentarem-se às seleções.
A igualdade chega neste ponto: os países participantes começaram a formar suas delegações no final de semana e vão chegando aos poucos ao Catar, em datas próximas ao início da Copa do Mundo. Jogadores ingleses, por exemplo, terão um intervalo médio de nove dias entre o último compromisso pela Premier League e a estreia no Mundial, diante do Irã. Lionel Messi, Neymar e Mbappé participaram da vitória do Paris Saint-Germain sobre o Auxerre no último domingo. O argentino e o francês entram em campo na terça, dia 22. O primeiro enfrenta a Arábia Saudita e o segundo joga contra a Austrália. Neymar vai a campo somente na quinta-feira, para pegar a Sérvia.
Esse foi um dos motivos para as poucas surpresas nas listas das seleções que estarão no Mundial. Sem o devido tempo para treinos, os técnicos não têm como preparar muitas jogadas ou esquemas táticos inéditos. Vão jogar com o que têm e da maneira como vinham atuando. Pegam os jogadores em meio de temporada e sob os olhares dos clubes, que querem seus atletas inteiros em dezembro para a continuidade dos trabalhos.
E se uma seleção não muda a maneira de jogar, melhor para os adversários, que já devem (ou deveriam) sabe como neutralizar as principais investidas.
Resta saber se há material humano suficientemente capacitado para isso.