Quando Argentina e México se enfrentam em uma Copa do Mundo, a vitória da seleção sul-americana parece certa. Basta pegar o histórico. Quando a Argentina enfrentou o México em 2022, o futuro silenciou o passado. Às favas com a história quando 90 minutos poderiam decretar a saída prematura do time argentino do Mundial disputado no Catar. Só que a escrita foi mantida e o mesmo desfecho de um novo capítulo mostrou que esta história não tem fim imediato.
Não foi a Argentina o time que dominou a partida, mas a superioridade era visível diante de um México que sequer ameaçou a permanência adversária na Copa do Mundo. O controle do jogo estava do lado azul e branco da força, mas faltava justamente a potência necessária para que as coisas caminhassem de uma maneira mais rápida e suave. Faltava alma ao time argentino. Houve, durante boa parte do confronto, a sensação de que os homens em campo não tinham dimensão do perigo que um revés poderia representar. Era como se o primeiro gol saudita, marcado na terça-feira passada, ainda pairasse sobre as cabeças dos atletas, que pareciam não saber como superar um adversário que nem era mais o mesmo da primeira partida. Precisou a Argentina da genialidade de seu principal jogador. Messi marcou o primeiro gol argentino e, no dia em que igualou-se a Diego Armando Maradona em número de jogos em Copas do Mundo, também alcançou o maior ídolo do país em gols anotados em mundiais. Agora, cada um tem oito. Enzo Fernández marcou o segundo. A Argentina está viva na Copa do Catar.
O jogo
Estava a Argentina longe de ser um time que apresentasse um futebol digno dos nomes que tem em seu time titular. A pressão por uma vitória que mantivesse as chances de classificação e o risco de queda vexatória em caso de derrota entraram em campo junto com os jogadores e o que se viu no primeiro tempo foi um time que não percebeu o controle da partida em suas mãos. Os mexicanos não souberam explorar o nervosismo adversário e em momento algum ameaçaram o gol de Emiliano Martinez. O 5-3-2 montado por Tata Martino não tinha um elemento surpresa, alguém que puxasse um contra-ataque rápido. O México tinha um esquema tático e uma postura de defesa, possivelmente imaginando que o adversário, em um 4-3-3, fosse mais agressivo. Sem esse ímpeto argentino nem a percepção mexicana, o que se viu no primeiro tempo foi um jogo lento e sonolento, que deve ter dificultado a vida de quem encarou uma feijoada no horário de França x Dinamarca.
O segundo tempo parecia repetir o roteiro da etapa anterior. Mas é neste momento que a genialidade grita. Messi havia tentado encaixar umas jogadas, mas era, obviamente, o jogador argentino a sofrer a maior marcação. Então, ele resolveu surpreender ao receber uma bola na entrada da área e mandar dali mesmo. Um chute rasteiro, mas vindo de Messi, é forte e colocado o suficiente para tirar das mãos do goleiro Ochoa, que tem por hábito se sobressair em Copas do Mundo. Aos 42 minutos Enzo Fernandez recebeu um passe após cobrança de escanteio e, com um toque magistral, encobriu Ochoa. Aos 21 anos, o jogador recebeu seu nome graças a uma homenagem que seu pai quis prestar a Enzo Francescoli, uma das maiores lendas do futebol e que, embora uruguaio, brilhou com a camisa do River Plate.
A Argentina está viva e agora tem Messi x Lewandowski. O México não está morto, mas poderia ter matado.