Roteiro de filme… Um filme preto e branco! O enredo dessa história não poderia ter mais a cara do Corinthians. Foi daqueles clichês que surpreendem, prendem a atenção e provocam um misto de emoções no fim.
A trama tem contexto que não pode ser ignorado. Passados exatamente 10 anos e um dia da memorável conquista da Libertadores, Corinthians e Boca voltaram a se enfrentar numa decisão continental. Foi o quarto encontro das equipes nesta edição da competição, e o confronto decisivo foi na La Bambonera.
O Boca, com força máxima. O Corinthians, com o mais alternativo dos times. O alvinegro começou o jogo com sete desfalques e dois titulares já negociados, João Victor e Mantuan, que se lesionaram no decorrer da partida. O time de Vitor Pereira terminou o jogo assim: Cássio, Bruno Mendez, Gil, Raúl Gustavo e Fábio Santos; Roni, Cantillo, Bruno Melo; Lucas Pitón (como ponta-direita), Róger Guedes e Giovani.
O Corinthians entrou em campo para não perder — a estratégia era nítida desde o minuto inicial. O Boca pressionava, e procurava armar suas jogadas pelo lado esquerdo do ataque, aproveitando que a dupla Rafael Ramos e João Victor não estava nada inspirada; mas foi pelo outro lado, que armou sua melhor jogada em toda a partida: Zeballos cruzou na medida para Benedetto, na cara do gol, isolar. O camisa 9 ainda perdeu um pênalti, decisivo para que o Corinthians se mantivesse vivo na disputa — assim como Guedes desperdiçou em Itaquera e deu ânimo aos argentinos.
O Corinthians se armou num 5-3-2. Fábio Santos fez uma partida formidável como terceiro zagueiro, e Piton fechava a linha como quinto homem. Depois da entrada de Gil, no final do primeiro tempo, o Corinthians melhorou. Na etapa complementar, Vitor Pereira colocou Bruno Mendez no lugar de Rafael Ramos. A defesa ficou ainda mais sólida.
Era um jogo de ataque contra defesa. Quem atacava ia ficando cada vez mais afobado com o passar do tempo, e quem se defendia se sentia mais seguro. O Corinthians não tinha jogador criativo para produzir no ataque. Dos 10 de linha, oito eram de defensivos. Como exigir finalizações de uma equipe assim?
Por outro lado, também é preciso dizer: foi um dos piores Bocas que já vi. Histórico, por sinal, pois essa foi a segunda vez que o time argentino foi eliminado por uma equipe brasileira na Libertadores. Antes, somente o Santos de Pelé, na decisão de 1963.
Por fim, assim como toda boa trama, essa história também seu herói: Cássio. Seguro no tempo normal, brilhou nos pênaltis. Pegou duas cobranças. Sorriu no fim.
O mais corintiano dos finais foi feliz. Numa história que teve a raça de Willian jogando no sacrifício, um time completamente desfalcado e o brilhantismo de seu ídolo no último ato.
E assim o Corinthians, mesmo jogando mal em 180 minutos, superou todas as adversidades que surgiram no meio do caminho e chegou às quartas de final da Libertadores.