Ah, se meu Fusca falasse….. Os mais antigos com certeza vão saber do que estou falando, os mais jovens, talvez não, mas recomendo buscarem o filme “Se Meu Fusca Falasse”. No caso acima, Jesse Koz e seu cão Shurastey encerraram de forma dramática uma linda e longa jornada onde, só quem tem o privilégio de amar e ser amado por um cão, sabe que emoção é essa. Eu, como mãe de duas filhas maravilhosas, digo com propriedade que, o único amor incondicional que conheço além do amor maternal é o de um cachorro para com seu tutor.
Somos para eles o ponto de referência, a sustentação, o apoio, o carinho, o salvador em caso de cães resgatados (como são os meus) e eles nos devolvem a alegria mais pura que existe em formato de total gratidão, parceria e felicidade. Chegar em casa depois de um dia tenso e ser recebido por um ou mais seres que explodem de tanta felicidade pelo simples fato de te ver, faz desse mundo um lugar muito melhor ao lado deles.
Disse tudo isso para explicar que, escolher um “aumigo” para longas jornadas é, sem dúvida, uma escolha incrível, que vai marcar a vida e a memória de todos que a compartilharem. E assim foi com Jesse Koz, o tutor de Shurastey, um Golden Retriever que o acompanhou por sete anos a bordo do Fusca 1978 apelidado de “Dodongo” ao longo de mais de 85 mil km e de 17 países, entre eles, Guatemala, Costa Rica, Panamá,Colômbia, Equador, Peru, Chile, Bolívia, Uruguai e anteontem, estavam nos Estados Unidos indo em direção ao Canadá quando uma fatalidade interrompeu essa jornada.
Um acidente numa estrada do Estado do Oregon, assim que começou a viagem, pôs fim ao sonho de passarem pelo Canadá e chegarem juntos ao Alasca. Segundo testemunhas que viajavam numa van à frente de Jesse, ele não conseguiu frear a tempo quando um carro parou na rodovia para virar à esquerda e bateu de frente com um Ford Escape que vinha em sentido oposto. Jesse tinha 29 anos e Shurastey, seu cachorro, ia completar 7 anos em 21/11/2022 conforme publicação do Instagram do tutor.
Essa viagem fazia parte de um projeto batizado de “Shurastey or Shuraigow?”, uma adaptação de uma música que traduzida do original, “shoud I stay or should I go?”, significa “devo ficar ou devo ir?”. E o destino quis que eles fossem juntos, completar essa jornada em outro plano. Jornada essa que começou em 2017, oriundos de Balneário Camboriú, Florianópolis (Santa Catarina) e começaram o projeto indo até o Ushuaia, na Argentina. Depois, exploraram a América latina até chegar à América do Norte, tendo como meta final o Alasca.
Se o Fusca de Jesse falasse, teria contado em detalhes cada peripécia que viveram juntos, cada emoção e cada perrengue pelo qual passaram, como por exemplo quando voltaram ao México depois de um ano e meio para resgatar o “Dodongo”. Em sua página do Instagram (@jessekoz), ele publicou em 18 de janeiro desse ano:
Muito triste para todos nós que aqui ficamos. Os amigos da dupla criaram uma vaquinha virtual que em pouco tempo arrecadou a verba para trazer os corpos dos dois para o Brasil.
Que suas jornadas continuem num lugar muito mais bonito que esse mundo em que estamos vivendo. RIP Jesse e Shurastey!