Foi em dezembro de 2019 que descobri, ainda na Quatro Rodas, a existência de um projeto chamado A0 SUV ou VW246, que geraria um SUV de porte menor que o T-Cross. Na época, nem o Nivus havia sido lançado e, enquanto este era chamado de “Polo CUV”, aquele recebia o singelo apelido “Polo SUV”, em menção ao entre-eixos mantido em 2,56 metros.
Na época, ainda não se fazia uma associação desse modelo com o Gol, mas já se sabia que ganharia vida em um processo transitório que marcaria a morte quase simultânea de Up!, Fox e do próprio Gol.
Dois meses mais tarde, em fevereiro de 2020, chegou até mim a primeira informação de que o projeto vinha sendo chamado internamente de “novo Gol”, denotando que existia uma ligação entre ele e o nome carro mais comercializado na história da indústria automobilística nacional.
A Volkswagen, inclusive, preparava um conceito seu para apresentar no Salão do Automóvel de São Paulo daquele ano, que acabou cancelado em meio a uma debandada de várias outras fabricantes. Curiosamente, a marca alemã foi a última a abandonar o barco, justamente por ser a que mais estava interessada na realização da mostra.
Veio a pandemia do novo coronavírus e o projeto foi congelado. Segui apurando de perto o caso e descobri, em setembro de 2020, já na Mobiauto, que sua reativação, bem como a de outros investimentos previstos para a região, dependia de um acordo coletivo com os sindicatos de todas as fábricas no país para flexibilização de jornadas e benefícios.
A negociação foi bem sucedida e, em julho do ano passado, noticiei que o projeto VW246 havia sido tirado da gaveta, já como sucessor de fato do Gol. Em novembro, a VW confirmou um plano de investimentos de R$ 7 bilhões para a América do Sul até 2026, contemplando quatro novos modelos. O primeiro e único confirmado até o momento é o Polo Track, outro carro que tive o privilégio de revelar ao mundo em primeira mão, em setembro de 2020.
No entanto, este colunista pode afirmar que o sucessor do Gol está no pacote, assim como uma nova geração da picape Saveiro, projeto de código VW247, e que será derivada diretamente do 246. O quarto carro será a picape compacta-média Tarok, já apresentada em fase conceitual no ano de 2018 (projeto VW317).
Mas voltemos a falar do sucessor do Gol. Ao que tudo indica, os projetos 246 e 247 manterão os nomes Gol e Saveiro, mas não haverá um sedã na família para substituir o Voyage. O 246 será uma espécie de SUV em miniatura, com cerca de 4,10 metros de comprimento. O 247 será uma picape compacta cabine dupla com quatro portas para encarar a nova Fiat Strada.
Quanto à nova geração do Gol, sua chegada está prevista para 2024 (com possível avant première no segundo semestre de 2023), enquanto a nova Saveiro só deve ser lançada em 2026. A Tarok virá entre elas, no ano de 2025, com boas chances de trazer um motor híbrido flex.
O mais curioso, contudo, é entender como será posicionado esse novo Gol em uma gama na qual a VW já tem Polo, Nivus e T-Cross, e terá ainda o Polo Track a partir do ano que vem.
Minha aposta é que ele ficará entre o Polo Track e o novo Polo (a ser reestilizado neste ano) no catálogo. Seu foco será brigar com as versões mais baratas do Fiat Pulse. Por isso, seu motor 1.0 turbo flex talvez venha em uma calibração mais mansa, chamada 170 TSI, a mesma usada tempos atrás pelo Up!.
Entregará pouco mais de 100 cv de potência e pouco menos de 17 kgfm de torque. A grande sacada é que, no novo Gol, viria casado não apenas com o câmbio manual de cinco marchas, mas também com a caixa automática de seis velocidades da Aisin, usada atualmente junto aos propulsores 200 TSI (o mesmo 1.0 turbo, porém com 128 cv e 20,4 kgfm) e 1.6 MSI.
Para conseguir ser competitiva em termos de preço, a VW utilizará, conforme noticiei lá no começo de 2020, uma versão simplificada da plataforma MQB A0, chamada MQB A0 IN. A sigla “IN” é na verdade uma apócope de Índia, país que vem liderando o projeto de simplificação da matriz junto com o Brasil.
Em comum com os velhos Gol G1, G2, G3, G6 e afins, o novo Gol só terá, basicamente, o nome. Mas a VW tentará transferir para o SUV a boa reputação de todas as gerações do hatch, conhecida como carros robustos e versáteis.
Só não dá para cravar que o futuro modelo será necessariamente popular – aí é até forçar um pouco demais. Afinal, em tempos nos quais um Gol atual, com plataforma PQ24 do final dos anos 90, está custando quase R$ 100.000, todo brasileiro bem sabe que carro popular, por aqui, é espécie em extinção.