É início de temporada, reforços chegaram, jogadores estão readquirindo ritmo de jogo e entrosamento, mas uma coisa não é novidade nem serve de desculpa: o Corinthians segue carregando defeitos da temporada passada.
O Corinthians parece um quebra-cabeça incompleto cujas peças foram postas à força nas posições erradas. Houve insistência e defesa para mantê-las assim, mesmo com o erro evidente aos olhos de todos que o veem.
Na estreia pelo Paulista, contra a Ferroviária, o quarteto de reforços esteve em campo. Havia uma expectativa muito alta para que tivesse uma boa performance, mas o desempenho não foi bom.
Sylvinho até mudava as peças de lugar, mas não era o suficiente porque o desenho tático da equipe era o mesmo. O que chamava a atenção é o número de jogadores improvisados em outras funções e o sistema tático sem sofrer variações.
Renato Augusto jogou de primeiro volante, aumentando a qualidade da saída de bola e distribuindo passes, mas o Corinthians seguiu com dificuldades para criar, porque o desenho do time era o mesmo. Esse foi o maior motivo — além do festival de quase gols — pelo qual o placar se manteve inalterado na estreia.
No segundo jogo, contra o Santo André, o Corinthians conquistou sua primeira vitória na temporada e encerrou um jejum de nove jogos sem vencer como visitante. Ganhou, mas foi jogando mal — graças a um pênalti questionável marcado pela arbitragem.
Novamente, o Corinthians jogou mal por não apresentar variações no desenho tático. Jogadores atuaram fora de posição porque o treinador é fiel ao 4-1-4-1, que exige um centroavante de ofício — Roger Guedes fez a função na maior parte do jogo, e só melhorou na partida quando foi jogar aberto pela esquerda.
O Corinthians não jogou mal só porque não tinha um centroavante. Faltava um jogador de aproximação, que desse ritmo à equipe no meio-de-campo. Poderia ser Renato Augusto, mas ele foi poupado. Poderia ser Giuliano, mas ele jogou muito recuado, quase como um primeiro volante, se dedicando mais à marcação. Seria Gabriel Pereira, que foi testado como meia centralizado e por mais que tentava preencher espaços, não respondeu à altura.
Luan entrou no segundo tempo, e conseguiu desempenhar bem esse papel, mas só depois dos 40 minutos, quase nos acréscimos; mas teve uma cena que chamou muita atenção. No último lance do jogo, o camisa 7 alvinegro partiu em velocidade num contragolpe promissor do Corinthians. Pela esquerda, Roger Guedes estava livre, com liberdade para sair cara a cara com o goleiro. A orientação dada foi para que Luan segurasse a bola no campo do adversário e, assim, o alvinegro garantisse a vitória simples. E foi isso.
Depois do jogo, Sylvinho concedeu entrevista coletiva. O treinador é pressionado pela torcida a deixar o cargo, e uma fala dele incomodou os torcedores: “o time é muito ofensivo”.
O Corinthians terminou o jogo com 54% de posse de bola e apenas 8 finalizações — o Santo André teve 14 chutes, a maioria deles no segundo tempo. O time alvinegro trocou 617 passes na partida, ou seja, finaliza uma vez a cada 77 passes trocados. Não é característica de um time ofensivo.
Os defeitos do Corinthians são evidentes. É um time muito improvisado. Neste momento, por mais que tenha limitações no elenco — como a falta de um centroavante, visto que Jô ainda recupera a forma física depois da Covid-19 —, é preciso se readaptar às condições da equipe. O que o treinador mais tem feito é exatamente o inverso.
Pelo menos consegue resultados mínimos.