Por: Marcos Gonzalez
Para o setor automotivo está claro que o mercado, tanto nacional como internacional, passava por um excelente momento de recuperação até o final da década passada. Se esta década se inicia marcada pelo trauma da pandemia, especialistas entendem, e nós concordamos, que este será o período de ouro para o setor. Até 2030 muitas inovações tecnológicas serão implantadas em um ritmo frenético e teremos, certamente, veículos mais sustentáveis, seguros e conectados.
Vamos passar por uma grande revolução automotiva nos próximos anos que vai trazer mudanças no jeito de se desenvolver, produzir, vender e, até mesmo, utilizar os automóveis. Mas, por ora, o setor precisa lidar, de maneira emergencial, com um problema colateral causado pela Covid-19: a falta de semicondutores que já abala a produção, vendas e exportação de veículos em todo o mundo.
A demanda está alta, mas não há como dar conta dela pois a capacidade das fábricas está limitada com a falta crônica destes componentes. Só no Brasil estima-se que mais de 100 mil veículos deixaram de ser produzidos. De acordo com dados da Anfavea, a média diária de licenciamentos de automóveis em julho deste ano foi de 5,6 mil unidades, um número inferior à média diária de julho passado, em plena pandemia, que já acusava recuperação com 5,9 mil unidades/dia quando, sabemos, que a média normal e saudável, gira em torno de 10 mil unidades por dia (em 2019 girou em torno de 9,4 mil unidades/dia).
Esse índice já teria superado a média de 2019 não fosse a falta de semicondutores. A demanda está aquecida e, sem conseguir atendê-la, a indústria vem perdendo vendas para o mercado de seminovos cujos preços, nos últimos 12 meses, já aumentaram em média, 16% considerando veículos de 2018 a 2021. Usados com mais de sete anos tiveram aumento ainda maior: 21%. Enquanto os veículos zero km ficou com aumento médio de 8,3%.
Além da falta de componentes, outro problema aflige toda cadeia automotiva: o peso dos custos nos últimos 12 meses. Segundo pesquisa feita pelo IBGE, insumos que estão presentes em todos os veículos como resinas e elastômeros tiveram aumento de mais de 100% em apenas um ano, materiais siderúrgicos (aço, alumínio e ferro), subiram 84,5%; plásticos, 43,3% e borracha, 16,9%. A indústria até poderia minimizar essa alta dos custos ganhando com recuperação de volume, mas isso não aconteceu em função da falta de semicondutores.
Por isso temos um mês de julho com demanda aquecida, mas com 175,5 mil automóveis emplacados amargando queda de 3,8% comparado com junho, quando foram licenciadas 182,5 mil unidades. No acumulado de janeiro a julho deste ano foram contabilizados 1,25 milhão de unidades (naturalmente maior que o mesmo período do ano passado quando foram vendidos 983 mil automóveis) mas ainda bem distante dos 1,55 milhão de carros licenciados em 2019.
O problema dos semicondutores deverá ser resolvido até meados do próximo ano, mas o prejuízo, como visto, será de grande vulto. Que essa dor sirva como um importante aprendizado já que, como sabemos, nesta década a engenharia automotiva transformará carros praticamente em computadores ambulantes e isso fará com que a demanda por semicondutores cresça exponencialmente.
É preciso, contudo, que toda cadeia automotiva, particularmente a nacional, triplique a atenção agora no planejamento, busque uma estratégia fiscal e tributária mais eficiente e colaborativa para contornar as inevitáveis altas nos custos de insumos porque, como mencionei acima, o jeito de se produzir carros vai mudar radicalmente e quem não se preparar corre o risco de não conseguir tirar proveito algum dessa década dourada que tem início neste ano.
*As opiniões manifestadas nesse texto são de responsabilidade exclusiva do autor.