∙ Confusão de conceitos, erros, pouca amplitude e até “greenwashing”
∙ Etapas para as empresas do setor automotivo adotarem de vez essa prática
Ter um programa ESG tornou-se necessidade para empresas de todos os tamanhos. Indústrias, prestadores de serviços, mineradoras, montadoras, comércio, redes de concessionárias, agronegócio, todos os setores estão, agora, inseridos em um ambiente socioeconômico que valoriza e cobra práticas ESG nas organizações.
Algumas empresas do setor automotivo implementaram ótimas ações sob o guarda-chuva do ESG e nem por isso fizeram espetáculos pirotécnicos para obter publicidade. É um bom começo para solidificar o conceito como propósito e não como instrumento de propaganda. Quando me refiro ao setor automotivo incluo a cadeia logística, fornecedores, montadoras e redes de concessionárias.
Contudo, é comum encontrarmos empresas que tentam navegar na onda do ESG com pequenas ações isoladas em gestão ambiental, alguma inclusão social e quase nenhuma prestação de contas. Só nessa frase você encontrará itens que fazem parte dos três pilares do ESG (ambiental, social e governança), mas não os compõe por inteiro. É na falta de compreensão do conceito que estão as falhas e pouca amplitude do ESG em empresas no setor automotivo e às vezes, resultam em interpretações e divulgações equivocadas.
Carro elétrico não é base de programa ESG
Algumas montadoras de veículos utilizam o desenvolvimento de carros elétricos como sendo a base de seu “programa ESG”, um erro involuntário de conceito ou, então, “greenwashing”, uma prática de promover discursos e propagandas de atitudes ambientalmente ou socialmente responsáveis, mas que não ocorrem na prática, induzindo o consumidor a um erro de juízo em relação ao produto e a marca. Desenvolver e produzir carros elétricos não pode ser considerado base para um programa ESG, mas apenas um novo negócio a participar do processo da gestão ambiental, ainda que limitado.
Praticar ESG exige muito mais do que isso. Os carros elétricos não representam uma tecnologia amiga do meio ambiente e mesmo utilizando-se de eletricidade gerada por fontes limpas e renováveis, a produção de baterias “íon de Lítio” é extremamente danosa ao ambiente em seus processos de extração de metais nobres e em alguns casos, na utilização desregrada da mão de obra e mineração tóxica e rudimentar.
As atuais baterias carregam em seus produtos e processos, lítio, cobalto, níquel, magnésio, manganês e vanádio. O desenvolvimento de novas gerações de baterias pode incluir nióbio, grafeno e até alumínio em um futuro não muito distante. Assim como o gás natural e o petróleo, esses elementos nobres são finitos e estão concentrados em poucos países. Em adição a isso, os carros elétricos necessitarão, cada vez mais, de metais de terras raras em seus componentes de super conectividade e comunicação extrema. Esses elementos são abundantes no mundo, mas de extração muito difícil e cara, entre eles o térbio, neodímio, gadolínio, lantânio, praseodímio e outros. Esses elementos, com nomes que parecem palavrões, já estão presentes no seu smartphone.
O fato de os carros elétricos não emitirem partículas poluentes durante o uso, não lhes assegura o selo “amigo do meio ambiente”. A boa notícia é que as baterias elétricas serão altamente recicláveis, conforme o mercado crescer e os processos de reciclagem se tornarem viáveis economicamente.
Explicando os conceitos do ESG, de forma resumida
Antes de trazer o tema especificamente para o setor automotivo, quero esclarecer os conceitos do ESG, partindo da distinção entre os termos ‘sustentabilidade’ e ‘desenvolvimento sustentável’, para depois, avançar nos temas de gestão ambiental, responsabilidade social e governança corporativa.
Sustentabilidade x Desenvolvimento Sustentável
A Sustentabilidade é um termo amplo e vai muito além da questão ambiental. Qualquer atividade ou projeto será mais sustentável, quanto mais equilibradas estiverem as dimensões de apoio do conceito (econômica, ambiental e social).
Ao incluir uma agenda econômica de longo prazo, devemos considerar que os recursos naturais são finitos e os ecossistemas possuem capacidade de regeneração limitada face às agressões naturais ou acidentais. As cadeias de produção e consumo serão afetadas em caso de um colapso desses recursos, impactando diretamente a Economia e comprometendo a qualidade de vida das futuras gerações. A expansão econômica é inevitável, mas os passos para que isso ocorra, mantendo o equilíbrio das três dimensões, é o que chamamos de desenvolvimento sustentável.
Assim, sustentabilidade é gestão; desenvolvimento sustentável é processo. Ambos os conceitos têm em comum, o fato de buscarem e difundirem formas de uso dos recursos naturais, de modo responsável, permitindo que as futuras gerações também possam utilizá-los para satisfazerem as suas necessidades econômicas e sociais.
Responsabilidade social
A responsabilidade social se conecta com o conceito de sustentabilidade, quando muitos problemas ambientais e a má utilização dos recursos naturais ocorrem em consequência da pobreza e da deficiência educacional. Assim, atuar e influenciar ações que visem a redução das desigualdades é muito bem-vindo para a identificação de um novo propósito, de modo a promover uma convivência harmônica entre o meio-ambiente, o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social.
Os pilares do ESG e algumas etapas para as empresas adotarem de vez essa prática
Para que as empresas do setor automotivo possam navegar na onda do ESG, deve-se ter em mente que o propósito não pode ser imposto e os líderes precisam se comportar como embaixadores do ESG e combatentes do “greenwashing”. Para isso, é fundamental que todos os conceitos sejam amplamente compreendidos.
Os consumidores estão mais conscientes e críticos em relação às questões ambientais e qualidade de vida, valorizando as empresas que consideram esses temas em seus planejamentos estratégicos, em favor da comunidade e do desenvolvimento sustentável.
Uma empresa socialmente responsável não se restringe a prestação de contas de suas responsabilidades legais, mas em fomentar ações que vão além disso, praticar atitudes que promovam o bem-estar interno (corporativo) e externo (comunidade), apoiar causas sociais, educacionais, combater o trabalho infantil, trabalho escravo e ampliar todo esse conceito para sua cadeia logística.
Do ESG para o E-ESG
Uma das mudanças que propusemos foi em relação ao nome do programa, para E-ESG, onde a primeira letra E refere-se à Educação, que embora esteja contida no S do Social, precisa ter prioridade absoluta e por isso, a destacamos prioritariamente.
A empresa deve fomentar a Educação em todos os níveis, patrocinando programas educacionais na comunidade em que está inserida. Não menos importante, cuidar das pessoas, da gestão dos recursos ambientais, inclusão social, respeitar diversidades, assegurar programas de segurança, saúde, alimentação, bem-estar, justiça social, entre outras demandas básicas para tornar o ambiente melhor, saudável e próspero. Importante lembrar que toda essa responsabilidade cresce conforme o tamanho da organização e deve ser aplicada dentro e fora dos seus limites físicos.
Governança Corporativa
Por fim, o G de Governança. Uma boa governança corporativa deve garantir que a empresa seja ética e não suscetível a corrupção e práticas ilícitas, valorizando a transparência, controle e a prestação de contas. As boas práticas corporativas de gestão ambiental, social e de governança estão associadas a negócios sólidos e lucrativos, seja para fornecedores, montadoras ou redes de concessionárias.
No portal Pensamento Corporativo, há anos desenvolvo estudos sobre esse tema, onde podem ser encontrados artigos e trabalhos publicados.
ESG e “compliance” ajudam a criar Valor para a empresa. Imagem de marca e reputação são ativos muito importantes que devem ser bem gerenciados e preservados, com visão de perenidade e sustentabilidade.