Por: Marcos Gonzalez
O maior problema da indústria automotiva no momento não é a falta de demanda, como aconteceu tragicamente durante a longa crise econômica que abateu o Brasil entre 2015 e 2017, mas sim falta de insumos em decorrência de dificuldades logísticas e operacionais causadas pela pandemia.
Ou seja, a demanda até vem subindo, o que por si só seria algo promissor, mas a produção da indústria automotiva esbarrou em uma espécie de “teto técnico” para cima do qual não consegue mais se projetar especialmente devido à falta de componentes, particularmente os de alta tecnologia, como os semicondutores.
Desde janeiro deste ano, segundo dados da Anfavea, a produção oscila entre 190 a 200 mil unidades por mês. Com demanda aquecida, inclusive nos mercados de exportação, esse volume poderia estar bem acima deste patamar, mas os carros evoluíram com muita eletrônica embarcada e, agora, em média, cada automóvel chega a ter mais de 500 semicondutores em seus sistemas que atuam para fazer funcionar desde a multimídia até, inclusive, freios, motor, transmissão etc.
Ocorre que a indústria automotiva está sofrendo agora as consequências de ter sido obrigada a frear abruptamente a produção entre abril e maio do ano passado. Ao interromper, de maneira global, as compras de semicondutores, por conta das linhas de montagem paradas, as fabricantes desses processadores repassaram esse volume para outros segmentos que tiveram a demanda superaquecida como telecomunicações, computadores, eletroeletrônicos e fabricantes de celulares. Se por um lado a pandemia derrubou as vendas de automóveis em um primeiro momento em todo o planeta, por outro, expandiu rapidamente e com força incomum a procura por computadores, games e internet mais potente.
É preciso se levar em conta que o setor automotivo global responde por apenas 10% das vendas de semicondutores. Isso significa que os poderosos clientes dessa indústria de alta tecnologia não são as montadoras e sim as grandes fabricantes de celulares, computadores e games.
A Bosch inaugurou recentemente, na Alemanha, com investimento de mais de um bilhão de Euros, nova fábrica de semicondutores. Outras iniciativas como essa certamente virão, uma vez que, a indústria automotiva também precisa ser tratada como prioritária e os automóveis, de agora em diante, serão, cada vez mais, computadores sobre rodas.
Mas isso tudo leva tempo. Neste ano a indústria ainda vai ficar espremida entre a pressão da demanda e o teto técnico para produção. Executivos da indústria preveem normalização, ainda que gradual, só a partir do ano que vem. Ao mesmo tempo a sociedade e os consumidores pedem veículos mais eficientes sob o ponto de vista ambiental e social, e a resposta, por ora, são os veículos elétricos que, por sua vez, exigem ainda mais tecnologia embarcada.
Portanto, essa será a década em que, inevitavelmente, toda cadeia automotiva nacional (desde pequenos fornecedores aos grandes sistemistas) vai precisar, mais do que nunca, de importações de componentes eletrônicos, inclusive semicondutores.
Com 14 anos de atuação, a Becomex, que já reduziu mais de R$7 bilhões em custos e mais de R$9 bilhões de carga tributária para mais de mil clientes entre os maiores grupos econômicos do país sabe que o Brasil, historicamente, não é exatamente um país amigável às importações. Há excesso de burocracia e as mais diversas tributações.
É preciso entender que o maior benefício de se facilitar as importações é, em contrapartida, poder gerar um aumento nas exportações.
*Marcos Gonzalez é o diretor responsável pelo segmento automotivo da Becomex. Formado em Engenharia, com pós-graduação em Administração e MBA em Gestão Fiscal e Tributária, o executivo acumula mais de 35 anos de experiência profissional em empresas do setor automotivo. Gonzalez tem sólida carreira desenvolvida em empresas multinacionais com forte experiência na prospecção e desenvolvimento de novos negócios e habilidade multicultural adquirida no desenvolvimento de atividades comerciais junto a clientes no exterior.
*As opiniões manifestadas nesse texto são de responsabilidade exclusiva do autor.