Quem achava que os SUVs dominariam o mercado nos próximos anos e engoliria todos os outros segmentos sem nenhuma concorrência esqueceu-se de um detalhe. Nos últimos anos as picapes surgiram com uma força que ninguém esperava e já comprovam ser muito mais do que uma modinha passageira.
Você duvida? Então responda: que outro segmento vive uma efervescência no mercado que combina crescimento das vendas no presente com uma enxurrada de novidades no futuro?
O carro mais vendido do mercado hoje é uma picape, a compacta Fiat Strada. Assim como o terceiro colocado também, a médio-compacta Fiat Toro, segundo o ranking de abril. Verdade que a interrupção da produção da linha Onix por falta de componentes eletrônicos deu uma ajudinha, mas mesmo no acumulado do ano as duas ainda estão muito bem: Strada continuaria líder e a Toro ficaria em 8º lugar.
Mas não é apenas isso. Dê uma boa olhada no gráfico abaixo e veja a participação nas vendas internas dos dois segmentos nos últimos anos. A curva de crescimento de ambos é bem parecida. Em 2019, os SUVs abocanharam 22,6% do mercado de veículos e, neste ano, já detêm 30,7%. As picapes tinham 12,8% das vendas antes e agora dominam 17,7%.
Fazendo as contas para calcular a taxa de crescimento, descobrimos que a participação das picapes aumentou em 38% (de 12,8 para 17,7) contra 36% dos SUVs (de 22,6 para 30,7). Em resumo, as picapes têm um mercado menor, porém crescem mais rápido.
Até aqui o placar é de 2 a 0 para as picapes. Porém ainda tem mais. Com as lojas já tomadas por dezenas de modelos de SUVs, o segmento das picapes ainda tem pouca oferta, que vai crescer absurdamente dentro de pouco mais de um ano. Eu contei mais de uma dezena entre certezas e grandes probabilidades. Vamos a elas.
• Nova Fiat Toro: foi lançada no Brasil no fim de abril e, mesmo com poucas mudanças estéticas, já é um sucesso – sua fila de espera chegou a três meses. As maiores novidades ficaram por conta do novo motor 1.3 turbo flex, do nível de equipamentos e da conectividade (agora tem wi-fi para até 8 celulares).
• Nova picape da Chevrolet: a GM confirmou no início de maio que o modelo será produzido em São Caetano do Sul (SP) compartilhando a mesma plataforma do novo Onix e Tracker. Deve estrear no início do ano que vem para disputar o mesmo segmento da Toro.
• VW Tarok: enfim a picape-conceito mostrada no Salão do Automóvel de 2018 vai virar realidade. Feita na plataforma modular MQB (a mesma de Polo e T-Cross), ela deve começar a ser produzida no fim de 2021 em São José dos Pinhais (PR) e lançada na virada do ano para enfrentar a Toro.
• Renault Alaskan: essa novela remonta desde 2018, quando apareceu no Salão do Automóvel com a confirmação das vendas para o mesmo ano. Mais tarde a marca descartou o lançamento da picape média, que compartilha sua base com a Frontier. Agora o presidente da Renault Argentina, onde ela é fabricada, deixou escapar durante uma entrevista que deve mandá-la para o Brasil.
• Ford Maverick: é a variação picape do Bronco Sport, o SUV que acabou de ser apresentado no Brasil. Como começa a ser vendido nos EUA no fim do ano, virá do México apenas em 2022 para complementar a oferta de importados da Ford.
• Nova Nissan Frontier: será apenas uma reestilização, já apresentada em países asiáticos, mas que traz um sopro de novidade para um visual já desgastado. A previsão é que seja importada da Argentina no segundo semestre.
• Peugeot Landtrek: é a estreia da marca francesa do segmento das picapes médias, com a missão de enfrentar a Toyota Hilux – por isso terá capacidade de carga acima de 1 tonelada. Vai ser fabricada no Uruguai e deve desembarcar por aqui no início do segundo semestre.
• Ford F-150: a picapona com motor V8 tem grandes chances de ser importada para o Brasil, mesmo chegando com um preço elevadíssimo, pois viria dos EUA. Porém, como disputará o mesmo público da Ram 1500, igualmente grande, cara e americana, o custo não seria um grande problema. A empresa até registrou a patente no INPI de várias peças estéticas da F-150.
• Nova Renault Oroch: é tão apagada no mercado que muitos nem perceberam que ela ainda não recebeu a mesma reestilização adotada pelo Duster em março de 2020. Deve recebê-la, enfim, no ano que vem. Mas dificilmente fará frente à Toro, já que a Oroch vende hoje quase sete vezes menos que a rival da Fiat.
• Jeep Gladiator: prometida desde meados de 2020, o dólar em alta tem postergado sua importação porque o suprassumo do off-road custaria mais que os R$ 440 mil do Wrangler Rubicon, no qual ela é baseada. No entanto, por ser um veículo de imagem, bastaria trazer um lote reduzido para ser vendido apenas em um número restrito de concessionárias da Jeep.
• Hyundai Santa Cruz: feito sobre a base do novo Tucson, o modelo de design ousado (tem oito pequenos faróis na dianteira!) foi apresentada lá fora em abril. Como é fabricada nos EUA, sua importação para o Brasil seria inviável se quisesse concorrer na mesma faixa de preço da Toro. A solução será produzi-la localmente, o que pode se tornar uma realidade se esse segmento continuar a crescer no ritmo atual.
Dessa maneira, a partida SUVs x picapes termina com um 3 a 0 para a portadoras de caçamba, ao unir vendas em alta, crescimento acelerado e uma enxurrada de lançamentos. Mas calma lá, pois ninguém está dizendo que o reinado dos SUVs está ameaçado, ao contrário. A diferença é que eles agora têm um rival à vista que ninguém esperava.
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