Dobradinha com Jack Miller e Pecco Bagnaia levam a marca italiana ao topo
Tudo fazia parecer que o francês Fabio Quartararo (Yamaha) venceria mais uma etapa (a tarceira) e sairia do GP da Espanha ainda mais líder na categoria rainha da MotoGP. O roteiro foi muito bem elaborado: ele largou na pole-position, largou mal, recuperou, assumiu a liderança e colocou 1,7 segundo de vantagem sobre o segundo colocado Jack Miller (Ducati). Mas na metade da prova o rendimento do Quartararo foi piorando, começou a ser ultrapassado por quase todo mundo e terminou a prova em um inexplicável 13º lugar. Na Moto 2 vitória do experiente italiano Fabio Di Giannantonio (Gresini); na Moto3 outro show do espanhol sensação Pedro Acosta (KTM) e na MotoE o brasileiro Eric Granado caiu quando liderava, deixando a vitória no colo do italiano Alessandro Zaccone (Pramac).
O nome em inglês é “arm pump”, quando os antebraços ficam endurecidos pelo esforço excessivo. Além da dor, as mãos perdem sensibilidade e a capacidade preênsil. Também conhecida como síndrome compartimental, ataca pilotos de moto, tanto de velocidade quanto de motocross. Foi essa reação física que fez Fabio Quartararo perder uma vitória certeira em Jerez da La Frontera e despencar para a 13a posição. Foi um golpe duro para este jovem francês que venceu duas etapas em seguida. Após a chegada o mundo viu pela câmera on-board o choro dele, que sabia que seu futuro dependia de resolver um problema físico.
Melhor para a Ducati que conseguiu uma dobradinha nas mãos do esforçado australiano Jack Miller, escoltado por Pecco Bagnaia, que assumiu a liderança do mundial na categoria MotoGP. O italino Franco Morbidelli (Yamaha) conseguiu um excelente terceiro lugar, seguindo uma série de resultados convincentes.
A etapa espanhola também marcou a segunda participação do espanhol Marc Márquez (Honda). O piloto teve uma queda no treino, mas não comprometeu fisicamente. Marcou o 13º tempo atrás dos seus companheiros de equipe Pol Espargaró e Stefan Bradl. Na corrida as posições se inverteram e Márquez foi o piloto oficial Honda mais bem colocado, em nono lugar. Depois da corrida ele declarou que sentia dores em todo o corpo. Mas que estava achando o ritmo.
É cada vez mais melancólica a situação de Valentino Rossi. O italiano multicampeão mundial não consegue encontrar um ritmo veloz na sua Yamaha. Largou na 17a posição e não passou disso na corrida, terminando na mesma posição. Para piorar viu seu companheiro de equipe, Franco Morbidelli subir ao pódio. Em uma corrida sem muita emoção, destaque para Takaaki Nakagami (Honda) que largou em quinto e terminou em quarto, colado em Morbidelli.
Parece que depois do ano esquisito de 2020, o mundial de Motovelocidade começa a voltar ao normal, sem os resultados inesperados do ano passado. A Suzuki parece ter perdido o desenvolvimento, enquanto a Aprilia subiu muito de rendimento, mais equilibrada e repetiu seu melhor resultado com Aleix Espargaró, terminando no sexto lugar, depois de ocupar a quarta posição por muitas voltas.
A tabela ficou mais equilibrada, com Bagnaia liderando apenas dois pontos à frente de Quartararo, que disse em entrevista coletiva não saber qual será seu futuro na categoria. Na verdade a síndrome compartimental pode ser tratada com cirurgia. Mas que deveria ter sido feita antes da temporada começar, claro. Agora é tarde demais.
Moto 2, um baile de Diggia
Depois de zerar na etapa de Portugal, o inglês Sam Lowes (Marc VDS) parece que esfriou a cabeça a fez uma corrida bem controlada, visando o máximo de pontos. Soube esperar o momento de atacar e controlar os adversários, especialmente o estreante Raul Fernandez (KTM), o italiano Marco Bezzecchi e o australiano Remy Gardner (KTM).
A meta foi comprida à risca e Lowes conseguiu um ótimo terceiro lugar, atrás de Bezzecchi e do vencedor Fabio Di Giannantonio (Gresini). Diggia fez uma corrida perfeita, abrindo mais de dois segundos de vantagem sobre os demais, o que é uma enormidade na motovelocidade. Gardner terminou em quarto e passou a liderar a categoria com três pontos a mais sobre Lowes, em segundo, e Raul Fernandez em terceiro com 63 pontos.
Moto3, histórica
Ninguém mais duvida que o espanhol Pedro Acosta (KTM) é a sensação da temporada. Pela primeira vez em 73 anos de existência da motovelocidade nenhum outro piloto estreante tinha alcançado quatro vezes o pódio nas quatro primeiras corridas. A forma como ele partiu do 13º lugar para chegar na liderança foi tão limpa, calma e precisa que já pode se considerar um artista e absoluto favorito ao título.
A corrida foi a emoção de sempre. O turco Denis Oncu (KTM) teve a chance de conquistar a primeira vitória, mas nas últimas curvas da última volta errou e acabou levando Jaume Masia (KTM) e Darryn Binder (Honda) juntos. Com essa lambança o segundo lugar caiu no colo de Romano Fenatti (Husqvarna) e o terceiro lugar ficou para Jeremy Alcoba (Honda).
Agora Pedro Acosta, de apenas 16 anos, lidera o mundial com 95 pontos dos 100 possíveis e três vitórias consecutivas. Sim, ele já é comparado a fenômenos como Marc Márquez e Valentino Rossi.
MotoE, quase Eric
Emoção não faltou na abertura do mundial de MotoE. Para nós, brasileiros, era esperado um show do paulista Eric Granado (One Energy) porque ele foi sempre o mais rápido nos treinos desde as seções pré-temporada. Na Espanha fez a pole-position com três décimos de vantagem, o que é uma eternidade nesta categoria. Mas veio a corrida!
As corridas da MotoE são curtas, apenas oito voltas, por isso não permitem erros. Eric largou bem, estava na liderança, mas errou. Caiu, voltou pra pista e terminou em 13º. Deixou o caminho livre para a vitória apertada do italiano Alessandro Zaccone (Pramac), seguido do veterano Dominique Aegerter (Dynavolt) e do campeão de 2020, Jordi Torres (Pons Racing). Se fizer tudo calculado como no ano passado, Torres já é o favorito para 2021!
Depois da corrida Eric admitiu o erro e prometeu se controlar nas próximas. Ninguém dentro do circuito mundial da motovelocidade tem dúvidas quanto à capacidade e velocidade do brasileiro. Só precisa um pequeno ajuste fino no temperamento para ser imbatível nesta categoria.