∙ Mobilidade inteligente, veículos autônomos, comportamento dos consumidores
Ao longo do último mês de fevereiro, conduzimos mais uma pesquisa nacional sobre o efeito das novas tecnologias na vida das pessoas. É o quarto ano que realizamos essa pesquisa e os resultados são riquíssimos em conhecimento e direcionamento para o planejamento estratégico da indústria, principalmente para o setor automotivo.
Entre os dias 1 e 26 de fevereiro de 2021, mais de 1.700 pessoas responderam às trinta e quatro perguntas sobre o tema e quero aqui destacar aquelas que mais se relacionam com o setor automotivo, a mobilidade e o comportamento das pessoas. O objetivo dessa pesquisa foi mapear as expectativas dos consumidores, quanto a chegada das novas tecnologias e os benefícios que isso pode representar para a sociedade e para qualidade de vida. É a primeira pesquisa com essa abrangência, realizada durante o período da pandemia e após a divulgação do plano de vacinação, o que confere um horizonte de recuperação da economia e retomada da vida normal, em algum momento não muito distante.
Confiança das pessoas na inteligência artificial
A pesquisa revelou que 59% das pessoas utilizam assistentes virtuais, regularmente ou esporadicamente (Alexa, Siri, Google Assistant, Bixby, Google Home, Cortana, outros), mas apenas 16% dos respondentes confiariam completamente a gestão da sua vida pessoal (finanças, agendas ou outros controles) a uma inteligência artificial e 48% confiariam parcialmente. Trazendo para o mundo automotivo, os carros elétricos e autônomos são grandes computadores sobre rodas, super conectados e orientados por inteligência artificial. Com o passar dos anos e a adoção regular da comunicação 5G (a China já está testando o 6G), a independência do condutor em relação às decisões dos veículos tende a aumentar e isso exigirá que o grau de confiança das pessoas, na inteligência artificial, também aumente consideravelmente.
Tecnologia, carros elétricos e equipamentos autônomos
Para 57% das pessoas o futuro com robôs ou veículos autônomos, no Brasil, ainda levará, no mínimo, 10 anos para acontecer. Dentro do total, há 19% dos respondentes que acreditam que esse cenário levará, no mínimo, 15 anos para chegar e para 7% das pessoas, mais de 20 anos. Na parte referente ao setor automotivo, há vários fatores que influenciam essa percepção de tempo para o Brasil acompanhar os países mais desenvolvidos, tais como atraso logístico, restrições orçamentárias, baixo nível educacional, ausência de política crível para o desenvolvimento tecnológico e turbulência econômica, que desmotivam grandes empresas do setor a investirem e projetarem retorno adequado sobre os investimentos no país. Tudo isso apareceu claramente nas respostas livres dos participantes.
Perguntamos a eles sobre a confiança nos carros autônomos e comparando a questão com a mesma pesquisa do início de 2020 (antes da pandemia), os índices pouco mudaram. A pergunta é: “Se você for convidado, agora, para fazer uma viagem de 400 km de São Paulo a Curitiba, em um carro totalmente autônomo (sem motorista e mais ninguém no veículo, além de você), em que você irá sentado confortavelmente no banco traseiro, você aceitaria o convite?”. 43% dos respondentes não aceitariam de forma alguma e 20% aceitariam, dependendo da marca do carro. Apenas 26% disseram que aceitariam sem objeções e os dois índices são similares aos obtidos na pesquisa do ano anterior. Com relação a aceitar o convite dependendo da marca do carro, podemos identificar uma oportunidade para novas marcas tecnológicas, desconhecidas do consumidor brasileiro, ou então, uma barreira instransponível para elas. Comunicação corporativa, inteligência e estratégia de mercado precisarão ser muito bem conduzidas.
Subimos um degrau para mapear o conhecimento e confiança das pessoas na mobilidade autônoma e perguntamos se o participante aceitaria deslocar-se em um “drone” completamente autônomo, em uma grande cidade no Brasil, levando-o de um bairro a outro. 31% dos respondentes aceitariam o transporte autônomo e 28% disseram que só aceitariam se pudessem ter algum controle sobre o “drone”; 29% não aceitariam em nenhuma hipótese e 12% não souberam responder. Contudo, nas respostas livres, surgiram os mais diversos questionamentos sobre esse tema, entre eles, a questão da regulamentação das vias aéreas e uma dúvida recorrente: “se as autoridades não conseguiram regulamentar a utilização de patinetes elétricos em São Paulo, ou não conseguiram viabilizar as empresas que alugavam bicicletas, fazendo com que esses negócios não prosperassem, como imaginar que conseguirão implantar com sucesso, as novas tecnologias e os novos negócios da mobilidade inteligente?”. Certamente, algo para ser considerado.
Ainda com relação à percepção das pessoas, perguntarmos para quais finalidades a utilização de “drones” autônomos poderá ser melhor sucedida nos próximos 5 anos no Brasil, em que os participantes eram encorajados a assinalar até 3 alternativas. Monitoramento ambiental foi a alternativa que 94% dos participantes escolheram, além de outras duas. Transportes de medicamento e monitoramento social foram as outras alternativas mais assinaladas. A quarta opção ficou com “equipamento militar” e a alternativa menos assinalada foi “transporte de pessoas”.
Entre outros destaques dessa importante pesquisa, vale ressaltar que para 62% dos participantes, as novas tecnologias, de certa forma, aumentarão a distância entre os países desenvolvidos, os países em desenvolvimento e os países do chamado 3° mundo, em um tipo de segregação social tecnológica. Por outro lado, a pesquisa revelou que 39% dos respondentes comprarão um carro elétrico nos próximos dez anos; 78% afirmaram que os carros elétricos são uma tendência irreversível e 47% acreditam que os carros híbridos são tão interessantes quanto os carros puramente elétricos, abrindo aqui um bom espaço para o desenvolvimento de uma tecnologia brasileira, que pode mesclar o etanol combustível com a geração de eletricidade na mobilidade, energia limpa e renovável.
O “Big Brother” tecnológico
Por fim, mas não menos interessante, para 76% das pessoas que participaram da pesquisa, o seu telefone celular “escuta” as conversas no ambiente, regularmente ou ocasionalmente e essas informações poderiam estar sendo armazenadas para utilização de uma Inteligência Artificial. Estendendo para os carros conectados, se isso for real, talvez seja mais difícil, no futuro, manter uma conversa sigilosa ou uma reunião de negócios dentro de um veículo em um simples trajeto entre as Avenidas Paulista e Faria Lima. Em tempo, apenas 10% dos respondentes não acreditam que os smartphones possam ouvir as conversas no ambiente e armazenar os dados.
A pesquisa está disponível, na íntegra e gratuitamente, no Portal Pensamento Corporativo, incluindo outros temas como comportamento das pessoas em redes sociais, LGPD, disputas de poder internacional, robôs e aspectos da Sociedade 5.0.
*As opiniões manifestadas nesse texto são de responsabilidade exclusiva do autor.