Após a I Guerra Mundial, a Europa vivia uma crise financeira e humanitária e o automóvel era um artigo de luxo destinado a poucos privilegiados. Neste cenário surgiram várias oportunidades de transporte individual e assim nascia, em 20 de março de 1921, em Gênova, a empresa “Società Anonima Moto Guzzi”, sediada nos escritórios do tabelião Paolo Cassanello na rua Corso Aurelio Saffi. Segundo dados do cartório de registros, o objetivo era “o fabrico e venda de motociclos e todas as outras atividades pertinentes ou correlacionadas com a metalurgia e indústrias de engenharia mecânica”.
Os criadores da companhia eram os prestigiados mercadores de navios genoveses Emanuele Vittorio Parodi, o filho Giorgio e seu amigo Carlo Guzzi. Guzzi era um ex-colega de Parodi na Italia Air Corps, assim como outro amigo, Giovanni Ravelli, um aviador – como Parodi – que infelizmente não viu o fruto dessa união porque morreu durante um voo de teste antes do lançamento da primeira moto. Em homenagem ao amigo o logotipo Moto Guzzi recebeu uma águia, que permanece até os dias de hoje.
A primeira moto da empresa foi a lendária 8 HP Normale era pouco mais que uma bicicleta motorizada e ainda não tinha a águia no logotipo. Foi só em 1928 que as motos Guzzi começaram a ganhar notoriedade, com o lançamento da Guzzi GP, 1928, apelidada de “Norge” (Noruega) para comemorar a expedição bem sucedida ao Círculo Ártico Polar. O nome GP veio em homenagem aos amigos Guzzi e Parodi e não tinha ligação com o mundial de motovelocidade, que só iniciaria em 1950.
O segundo grande sucesso da casa genovesa foi o Airone 250 (em 1939), que permaneceu como a moto de média capacidade mais vendida de Itália, por mais de 15 anos. Sua principal característica era a mecânica simples e robusta, com motor de um cilindro horizontal e comando de válvulas no bloco.
Quem conhece um pouco da história da indústria de motos e carros sabe que mal inventaram a roda e o motor para começarem as corridas. A Moto Guzzi não ficou de fora, e começou a disputar corridas logo no ano da inauguração, obtendo uma importante vitória no prestigiado Targa Florio, em 1921, que marcou o início de uma impressionante sucessão de vitórias: até a sua retirada do motociclismo em 1957.
A maior contribuição para o sucesso nas corridas foi a construção do primeiro túnel de vento da indústria de motos, em 1950. Graças aos estudo aerodinâmicos, a Moto Guzzi foi pioneira nas carenagens integrais e isso deu tão certo que a marca conseguiu vitorias no recém criado mundial de motovelocidade e nas competições estilo Tourist Trophy, disputadas em ruas e estradas. A marca abandonaria as competições em 1957 para se dedicar exclusivamente à produção em série.
V de Vitória
Os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial geraram modelos como o Guzzino 65 (“Cardellino”, pintassilgo, em italiano), com motor dois tempos, de um cilindro 65 cc que foi o mais vendida da Europa por mais de uma década. Isto foi seguido pelo lendário Galletto (1950) e Lodola 175 (1956). Em 1950, a Moto Guzzi instalou um túnel de vento de última geração em Mandello del Lario, tornando-se o primeiro construtor mundial a fazê-lo. A divisão de corridas da empresa era uma equipe de mentes brilhantes, com engenheiros como Umberto Todero, Enrico Cantoni e o milanês Giulio Cesare Carcano, que em breve alcançariam o status lendário de romper a barreira dos 285 km/h com a Guzzi Otto Cilindri.
No final da década de 1960, a Moto Guzzi apresentou o motor de 90° V-twin que se tornaria o símbolo da própria Moto Guzzi. Este motor foi usado como base para modelos como o Guzzi V7, o V7 Special e ainda outro ícone, a Guzzi V7 Sport. O glorioso V-twin também foi produzido como base para as variantes V35 e V50. Essa configuração é adotada até hoje mantendo a marca ainda em operação apesar de todo poderio da indústria japonesa.
A versatilidade desse motor impulsionou vários modelos como a definitiva Gran Turismo – a Moto Guzzi Califórnia, que evoluiu para incluir injeção eletrônica e um sistema de freios a disco. Dedicada ao mercado dos EUA, juntamente com as variantes Ambassador e Eldorado, a Califórnia ostentava a capacidade clássica do motor de 850cc, uma cilindrada que foi redescoberta e trazida de volta para a linha atual.
Modelos como Le Mans, Daytona, Centauro e Sport 1100 mantiveram viva a herança desportiva da marca. O estilo inconfundível e o caráter destas motos foram atualizados nos anos 90 com as novas séries California, Nevada e V11 Sport. Em 30 de dezembro de 2004, a Moto Guzzi foi comprada pelo Grupo Piaggio (presidente e diretor executivo Roberto Colaninno), líder europeu no mercado de veículos de duas rodas e um dos maiores construtores do setor no mundo.
Para expressar o espírito deste renascimento foi apresentada a Breva 1100 a março de 2005, uma nova e bem sucedida oferta italiana para o segmento naked. Em setembro do mesmo ano, foi lançado o amplamente aclamado modelo Griso 1100, uma moto com soluções originais de engenharia e estilo único. A partir de abril de 2006, a Breva e o Griso passam também a ser comercializadas com o motor de 850 cc.
Ainda em 2006, a Norge 1200 marcou o retorno de Guzzi ao estilo Gran Turismo: uma moto criada para concorrer com a BMW e que oferece carenagem integral, o novo motor V-twin 1200cc e equipamento de série generoso para devorar quilômetros em total conforto. A Norge conquistou a admiração dos 14 jornalistas que, em julho de 2006, conduziram juntos 4.429 km até ao Cabo Norte, seguindo o percurso feito em 1928 pelo antecessor da moto – a GT 500 criado por Giuseppe Guzzi.
A injeção de capital da Piaggio deu um enorme impulso na marca Moto Guzzi e a salvou de desaparecer como tantas outras marcas históricas. A exemplo de Ducati e MV Agusta, a Moto Guzzi se tornou icônica e atraiu uma legião de admiradores no mundo inteiro.
Esta paixão que une todos os anos proprietários de Moto Guzzi, com dezenas de milhares de Guzzistas de mais de 20 países diferentes reúnem-se em Mandello del Lario para o GMG (Giornate Mondiali Guzzi). Supervisionadas pelo Clube Moto Guzzi, as inúmeras associações de proprietários Guzzi em todo o mundo contam com um público leal inigualável. Há mais de 25.000 membros do clube de motos Motor Guzzi em todo o mundo (o maior grupo dos quais nos EUA, com 52 clubes no país), e mais de 70 sites da internet dedicados à marca.
Já de espírito renovado e inspirada no sucesso das provas da categoria Battle of Twins (categoria destinada ás motos com motores de cilindros gêmeos, a Moto Guzzi lançou a 1200 Sport, uma naked com inspiração totalmente esportiva. Apresentada em outubro de 2006, a 1200 Sport é uma naked sofisticada, repleta de personalidade em todos os aspectos do seu design, arquitetura de chassi e ergonomia, e impulsionada pelo icônico motor de 1200 cc do 90° V-twin.
O sucesso desse modelo fez nascer um novo produto que igualmente emplacou imediatamente. Na 64ª edição do EICMA Show de Milão, no final de 2006, a Moto Guzzi apresentou a Griso 8V – uma evolução da hipnotizante máquina da marca, movida por um novo motor, capaz de desenvolver mais de 110 cv – e a Bellagio, com motor de 940 cc.
Durante a convenção global Piaggio Dealer, realizada em Berlim em fevereiro de 2007, o projeto para uma nova Moto Guzzi foi revelada – uma grande enduro de estrada com um nome evocativo: Stelvio.
A maior prova da qualidade e confiabilidade da marca veio neste mesmo ano de 2007, quando a polícia de Berlim, que sempre utilizava motos BMW, assinou um contrato de fornecimento dos modelos Norge. Estava garantido o sucesso da marca pelos próximos anos até os dias atuais.
Mesmo mantendo as características que a consagraram como o motor V2 e um estilo único, inimitável. Aos poucos os modelos foram incorporando as tecnologias modernas como sistema ABS inteligente, controle de tração, injeção eletrônica, acelerador eletrônico e a linha atual é capaz de concorrer com as marcas mais tradicionais.
Paralelo ao desenvolvimento das motos, a Moto Guzzi também investiu em nova planta na cidade de Madello del Lario, mais moderna e funcional. Foi desta unidade que saíram os primeiros motores com quatro válvulas por cilindro
Para celebrar os 90 anos da marca, em 2011, a Moto Guzzi lançou o motor de 1.200cc alcançando a mesma cubicagem das principais concorrentes como BMW e Ducati. Este motor equipou a linha dos modelos Californa, nas versões Touring e Custom, capaz de desenvolver um torque de 12 Kgf.m a apenas 2.750 rpm. Era motos destinadas ao mercado americano, em uma tentativa (frustrada) de concorrer com a tradicional Harley-Davidson.
Tudo na California Touring e na California Custom contribui para combinar o melhor da tecnologia moderna e avançada com o estilo clássico e a elegância da marca Moto Guzzi: acelerador multimapa Ride by Wire, cruise control, sistema de controle de tração MGCT e ABS nas duas rodas. Construída à mão na fábrica de Mandello del Lario, onde as Moto Guzzi iniciaram a produção sem interrupção desde 1921, as California 1400 destacam-se pela atenção aos detalhes na montagem de componente. Um nível de cuidado que faz com que cada Moto Guzzi Califórnia fosse uma peça única, com o poder de combinar e acentuar a forte personalidade de uma clientela apaixonada e exclusiva.
Os novos tempos de eficiência energética provocou outra mudança na filosofia da marca. Hoje a Piaggio optou por investir nos motores menores e mais eficientes. A linha atual é baseada nos motores de 850cc, com a mesma arquitetura V2, quatro válvulas por cilindro e arrefecido a ar. Atendendo a moda da customização, são vários modelos para a motorização 900cc, incluindo as tendências como café-racer e bobber. Além disso ganhou uma versão aventureira para todo terreno, a V 85TT. A linha encolheu em modelos, mas manteve o mesmo charme e tradição que mantém viva a marca fundada por amigos aviadores em uma oficina de Gênova.
Parabéns pelo centésimo aniversário para esta verdadeira macchina italiana!