O mundial de motovelocidade termina como começou: surpreendente. Miguel Oliveira, Remy Gardner e Raul Fernandez foram os vencedores do GP de Portugal.
Que ano, que campeonato e que corridas! Vai ficar para história o campeonato de motovelocidade de 2020. Teve de tudo: etapa com apenas duas categorias, interrupção por conta de pandemia, acidentes apavorantes e todo tipo de zebra. Para coroar um ano tão cheio de surpresas nada como uma etapa de tirar o fôlego em uma das pistas mais lindas e desafiadoras do calendário.
Desde os treinos de sexta-feira o mundo viu que o circuito de Algarve, na belíssima região de Algarve, Portugal, premiaria os pilotos que tivessem alguma intimidade com a pista. Com uma topografia singular, a pista de 4.592 metros tem subida, descidas, curvas cegas, frenagens em descida, frenagens em curvas cegas, ou seja, um cardápio de tudo que pode complicar a vida de motos e pilotos. Dois pilotos se destacaram na MotoGP desde as primeiras voltas: Stefan Bradl (Honda/Repsol), porque correu lá de Superbike; e Miguel Oliveira (KTM/RedBull), porque já treinou de todo tipo de moto na pista perto de casa.
Por isso não foi surpresa que o piloto português (que é formado em odontologia) fizesse a pole position no sábado. O que assustou foi ver o fraco desempenho da Suzuki que não se acertou na pista e seus pilotos ficaram no fim do pelotão. Mais uma vez Franco Morbidelli (Yamaha/Petronas) foi o que conseguiu melhor defender a Yamaha e o agressivo (mas gente boa) Jack Miller (Ducati/Pramac) foi o melhor de Ducati. Na corrida de despedida Cal Crutchlow (Honda/LCR) surpreendeu e conseguiu a melhor posição de largada no ano em quarto.
Na corrida da MotoGP Miguel Oliveira partiu em primeiro e simplesmente ignorou os adversários, colocando mais de oito segundos de vantagem na bandeirada. Fez a pole, vitória e melhor volta, bem diferente da primeira vitória (na Estíria) que caiu no colo na última curva. Jack Miller ficou a prova inteira colado em Franco Morbidelli e só garantiu a segunda colocação na última volta. Franco fechou o pódio e conquistou um heróico vice-campeonato, com três vitórias, usando a moto de 2019. Triste a situação da Yamaha oficial que só andou para trás. Mais ainda quando se sabe que a marca recusou uma moto 2020 para Franco Morbidelli.
Muitos pilotos deixarão suas equipes e alguns até se despediram da categoria, como foi o caso de Adrea Dovizioso (Ducati) e Cal Crutchlow.
Moto2, o revés
Até a etapa de Teruel tudo levava a crer que Sam Lowes (Marc VDS) seria o campeão da Moto2, principalmente depois de três vitórias seguidas. Mas uma queda do GP da Europa jogou areia nos planos. Pra piorar caiu novamente nos treinos do GP da Comunidade Valenciana e aí a maioneses desandou de vez porque machucou o punho direito e marcou apenas dois pontos numa corrida heróica.
Com isso o italiano Enea Bastianini (Italtrans) somou pontos importantes e assumiu a liderança do mundial de forma mineira, somando pontos e com três vitórias. Nesta última etapa, em Portugal, precisava apenas ficar perto de Lowes e Luca Marini (Sky/VR46). Fez a lição de casa, terminou em quinto e deu mais um título mundial para a Itália.
A surpresa positiva da corrida foi a pilotagem madura e equilibrada de Remy Gardner (SAG Team) que largou na pole, mas passou quase a corrida toda em segundo, comboiando Marini. A duas voltas do fim partiu para o ataque e conquistou a primeira vitória na categoria, que teve um pouco de Brasil: o dono da equipe é o brasileiro Eduardo Perales. Luca Marini terminou empatado em pontos com Sam Lowes e só prevaleceu o critério de desempate porque teve um terceiro lugar a mais.
Moto3, decisão na última volta
Como sempre a Moto3, categoria mais equilibrada e emocionante, abriu a programação com uma corrida de acabar com os nervos de qualquer torcedor. Três pilotos tinham chances matemáticas de título: Albert Arenas (KTM), Ai Ogura (Honda) e Tony Arbolino (Honda). E até a última volta não houve refresco.
Alheio a tudo isso e já com o pé na Moto2, Raul Fernandez (KTM) fez a pole, largou bem e sumiu na frente até a bandeirada, algo raríssimo de acontecer na Moto3. Ogura até conseguiu sair na frente de Arenas, mas aos poucos foi perdendo ritmo. Enquanto isso, Tony Arbolino foi escalando o pelotão e apareceu na frente no terço final da prova. Mas as emoções estavam reservadas para as duas últimas voltas.
Albert Arenas começou a ter problemas no pneu traseiro, deu uma desgarrada assustadora, recuperou mas foi parar na 12ª posição. Já Ogura conseguiu se livrar do tráfego e se colocou em oitavo. Se estas posições se mantivessem na chegada Arenas seria campeão por dois pontos de vantagem. Mas na última volta Ogura colou no sétimo, Celestino Vietti (KTM) que estava grudado no Darryn Binder (KTM), que vinha colado em Arbolino. Se Ogura conseguisse passar os três seria campeão. Mas não foi!
Ogura terminou em oitavo, Arenas em 12º e conquistou um título mais que merecido com três vitórias no ano. Detalhe curioso da carreira desse espanhol: ele estreou no mundial substituindo Eric Granado no GP de Valência em 2014.
Agora só teremos mais mundial de motovelocidade em março de 2021, com transmissão ao vivo para o Brasil pela ESPN/FoxSports. Até lá!