No GP da Europa finalmente Joan Mir (Suzuki) vence na MotoGP e coloca a mão na taça. Bezzecchi (VR46) confirma favoritismo na Moto2 e finalmente Raul Fernandez (KTM) vence na Moto3.
Que campeonato este de 2020. Antes de comentar a corrida, vamos analisar o campeonato todo. Havia muitos anos que não se via um campeonato tão equilibrado em todas as categorias. Desde a segunda etapa começou a chiadeira sem sentido de “ah, sem Marc Márquez perdeu a graça”. Sério mesmo? Ano passado ele foi campeão com tanta antecedência que as últimas seis etapas poderia ter tirado férias.
Agora estamos a duas provas do fim e não tem nada definido em nenhuma das três categorias. Quem poderia ter esperado mais emoção? E 2020 ainda guardaria uma surpresa para os apaixonados pela Moto Velocidade: a FoxSports comprou os direitos de uso de imagem dos treinos de sexta-feira, algo inédito na TV brasileira. Então, quem gosta de moto e de corrida de moto tem sexta, sábado e domingo pra ficar grudado na TV. Quer mais?
Pela primeira vez na história deste país temos uma equipe de comentaristas que sabe tudo e mais um pouco. Principalmente o ex-piloto e vencedor de seis provas do Mundial, Alexandre Barros, que nesta etapa de Valência deu uma verdadeira aula de técnica de pneus, amortecedores, gerenciamento de equipe etc. Não há do que reclamar.
Chove, seca, molha & cai
Os treinos de sexta e sábado foram em clima de muita chuva e umidade, normal nesta época do ano na região. Tempo nublado significa asfalto frio e pneus de corrida simplesmente odeiam asfalto frio. Pneu gosta de calor, muito calor e isso causou um festival de quedas nos dois dias de treino, causando algumas baixas.
Passado o susto dos treinos, domingo a programação começou com a Moto3 ainda sob céu nublado e trechos da pista com umidade. O pole-position (de novo) foi Raul Fernandez (KTM), mas as primeiras voltas foram aquele conhecido arranca-toco, com tantas trocas de posições que o locutor pira. Dava pinta que Albert Arenas (KTM) ficaria “cozinhando” para atacar nas voltas finais. Ele só precisava marcar o japonês Ai Ogura (Honda) e terminar na boa.
Estava dando tudo certo até que Celestino Vietti (KTM) derrapou, voou e Albert Arenas teve de frear para não atropelar o italiano. Pena que Alonso Lopez (Husqvarna) não conseguiu desviar e estampou a traseira de Arenas, caindo e arrancando o escapamento da KTM. Era tudo que o líder da Moto3 não podia esperar, porque mesmo sem cair teve de voltar aos boxes para tentar consertar. Ainda voltou para a pista mas recebeu bandeira preta por ter desrespeitado a bandeira azul. Na verdade ele quis, espertamente, ajudar a tirar pontos do Ai Ogura, mas não deu certo…
A partir daí vimos uma cena rara na Moto3: o líder Raul Fernandez conseguiu uma diferença de dois segundos e despachou todo mundo, obtendo sua primeira vitória no Mundial. Ai Ogura fez de tudo para conseguir o máximo de pontos e arrancou um ótimo terceiro lugar, logo atrás do surpreendente espanhol Sergio Garcia (Honda). Ao final, Raul declarou que “se conseguir um pódio já foi ótimo, vencer foi maravilhoso, na volta final eu vi toda a minha vida pela frente”.
Arenas ainda lidera o mundial, com 157 pontos, apenas três a mais que Ai Ogura. Ainda tem 50 pontos em jogo e tudo pode acontecer.
Marco histórico
O treino de classificação mais maluco dos últimos tempos foi na Moto2. Os minutos finais foram de enfartar, quando Sam Lowes (Kalex) tinha a pole-position parcial, mas faltando menos de dois minutos o espanhol Xarvi Vierge (Kalex) apareceu com um tempo absurdo e cravou a pole. Joe Roberts (Kalex) brigou por mais uma pole mas no final teve de se contentar com o segundo lugar no grid de largada.
No momento da largada da Moto2 já dava para ver um fiapo de sol. A temperatura subiu um pouco e isso dava um pouco de tranquilidade para os pilotos. Mas foi só até apagarem as luzes vermelhas. Logo na largada Vierge perdeu a posição e Joe Roberts surgiu como um foguete cheio de apetite. Pena que durou pouco. Logo após assumir a ponta e parecer se distanciar Roberts caiu na segunda de 25 voltas, jogando um balde de água fria na prova.
Bezzecchi assumiu a ponta com Sam Lowes dando impressão de ter a corrida sob controle. Lego engano! Na décima volta foi a vez do inglês escorregar a sair da pista. Ainda tentou voltar mas não deu. Foi um momento decisivo porque Enea Bastianini (Kalex), que saiu na 15a posição estava em segundo na tabela do mundial a apenas sete pontos do britânico. No momento da queda Bastianini estava lutando pela oitava posição e isso reduziria um pouco os danos para Lowes. Mas nas últimas duas voltas “La Bestia” conseguiu se livrar do tráfego, ultrapassar Lorenzo Baldassarri (Kalex) na última volta e terminar em uma ótima quarta posição, o que lhe rendeu a liderança temporária do mundial de Moto2, com 184 pontos, seguido por Lowes com 174. Completou o pódio Jorge Martin (Kalex) e o surpreendente Remy Gardner (Kalex) que ao final se dizia feliz, mas triste, vai entender…
Ficou só a sensação de que Marco Bezzecchi , o piloto mais veloz do domingo, poderia estar lutando por este título se não tivesse tido dois acidentes em duas provas seguidas. Mas em corridas “se” é uma possibilidade que simplesmente não existe.
Mirlagre!
Durante metade do campeonato o espanhol Joan Mir (Suzuki) teve de aguentar o mundo todo comentado a possibilidade de ele ser campeão mundial sem nenhuma vitória. Pronto, acabou. Ele conseguiu em Valência sua primeira vitória na MotoGP, disparou na liderança do mundial, calou a boca de muita gente e pôs fim ao mimimir.
E foi uma vitória maiúscula, construída já no grid de largada quando optou por pneus médios. Depois da impressionante largada de Pol Espargaró (KTM), que fez a pole-position, seguido de Alex Rins (Suzuki), Mir ficou num ritmo bem tranquilo só vendo o circo pegar fogo. As duas Suzuki estavam muito bem no miolo do circuito, enquanto a KTM chegava melhor no final da reta.
Depois de estudar com cautela, Rins assumiu a liderança e na volta seguinte foi a vez de Mir também passar o piloto da KTM. Tudo caminhava para uma dobradinha da Suzuki com Rins em primeiro. A equipe já tinha avisado que deixaria os dois pilotos livres para decidirem o título. Não haveria favorecimentos. E não houve mesmo! Só que Rins errou uma marcha, alargou a curva e viu Joan Mir passar para abrir quase um segundo de vantagem.
Joan Mir é um piloto com histórico de pressionar muito no terço final da prova e mostrou isso abrindo uma confortável distância. Rins e Espargaró fecharam em segundo e terceiro lugares. Festa da Suzuki e alívio enorme para o super gente boa Joan Mir, que declarou no final da prova: “acho que continuo sendo o mesmo cara, mas muito mais feliz”. Ele foi o nono piloto a vencer na categoria no ano e a Suzuki lidera o mundial com dois pilotos entre os três primeiros algo que não acontecia desde 1986!
Ótimo quarto lugar do japonês Takaaki Nakagami (Honda) que ultrapassou o português Miguel Oliveira (KTM) na última volta!
A casa da Yamaha caiu de vez mesmo. O piloto mais bem colocado da marca foi Franco Morbidelli (Petronas) que terminou em 11º. Fabio Quartararo (Petronas) caiu logo no começo. Valentino Rossi teve de abandonar pro problemas mecânicos e Maverick Viñales largou do box para terminar em penúltimo. Climão ruim também na Ducati, que viu no Jack Miller seu melhor resultado, chegando em sexto e Dovizioso pode realmente preparar para as férias, porque este final de ano está horrível para o italiano.
Más notícias vindas da família Márquez, dando conta que Marc reclamou muito de dores no braço fraturado e poderá ser submetido a uma nova cirurgia para trocar a placa do úmero. Se isso se confirmar pode ficar de fora até mesmo dos testes pré-temporada. Vamos torcer para ser só uma suspeita.
O mundial tem novo encontro no domingo, 14, com o GP de Valência, no mesmo circuito Ricardo Tormo.