Que domingo, que alegria fazer parte disso e quanta emoção! O que foi essa etapa do mundial de Motovelocidade! Danilo Petrucci (Ducati) foi o sétimo vencedor diferente até o momento. Sam Lowes (Marc VDS) manteve a fleuma britânica para vencer na Moto2. Celestino Vietti (KTM) venceu mais uma vez nas últimas voltas. E Jordi Torres conquistou o título mundial na MotoE em mais uma corrida desastrada para Eric Granado.
Como sempre vou começar pelos bastidores. Desta vez correu tudo certo na transmissão. Em um dado momento o microfone do Alexandre Barros deu pau, depois foi com o Edgard de Mello Filho, depois com Hamilton Rodrigues e só eu escapei ileso. E de novo pude acordar um pouco mais tarde porque a programação foi atrasada novamente por causa da F-1, mas dessa vez fomos avisados com bastante antecedência. Ainda fico meio nervoso antes de começar, mas pelo menos já consigo dormir bem na noite anterior. O aquecimento de voz ainda é um problema porque ficar fazendo ruídos assustadores às 5 da manhã incomoda os vizinhos, cachorros, gatos e acho que até os pernilongos!
A primeira prova do dia foi a Moto3 já pra acordar ligado em 220V. Antes da largada eu tinha previsto que Albert Arenas (KTM) faria uma corrida pensando no título. Principalmente porque seu adversário direto, Ai Ogura (Honda) estava largando em 17º lugar. Era controlar a emoção e chegar inteiro ao final. Dito e feito. Largou na frente que nem um míssil, se manteve sempre entre os quatro primeiros e só foi surpreendido pelo Celestino Vietti porque o italiano percebeu – a cinco voltas do fim – que poderia vencer. E venceu mesmo! Arenas conseguiu cumprir o objetivo de terminar inteiro em terceiro, com Tony Arbolino (Honda) em segundo.
Ai Ogura fez uma estratégia de marcar o máximo de pontos e ficou lá atrás, terminando em nono. Falando em nono, a presepada do dia ficou por conta do vecchietto Romano Fenati (Husqvarna) que estampou a traseira do seu companheiro de equipe Alonso Lopez. Fenati, que já tem uma extensa ficha corrida, ficou ainda mais queimado na categoria.
Arenas saiu de Le Mans num baita lucro com seis pontos de vantagem sobre Ogura, mas ambos viram um Celestino Vietti chegar a apenas 16 pontos do líder. Ainda tem 125 pontos em jogo!
Mamma mia
O box da equipe Ducati emudeceu por quase 46 minutos. Nem mosca circulava naquele ar carregado. Durante metade da corrida da MotoGP os três primeiros colocados eram pilotos Ducati: Danilo Petrucci, Andrea Dovizioso e Jack Miller. Com o asfalto molhado, pneus de chuva e temperatura congelante tudo podia acontecer com estes três cascas-grossas liderando o pelotão. Especialmente Jack Miller que já tem um currículo extenso de destruição de motos.
Fabio Quartararo (Yamaha) percebeu que não era hora de se arriscar e se preservou pensando no título. Em compensação os franco-atiradores, sem chances de grandes classificações no campeonato, partiram pra cima que nem vikings numa aldeia de virgens. Dois deles se destacaram: Alex Rins (Suzuki), que chegou neste bloco, passou Miller e Dovizioso, se preparava pra dar o bote em cima do Petrucci mas caiu (de novo). Outro foi Alex Márquez (Honda), que já estava devendo uma boa atuação desde a primeira etapa e viu uma chance de ouro. Largou em 18º e chegou em segundo a 1,3 segundo do vencedor! Ganhou o respeito do mundo todo.
Láureas também para Pol Espargaró que levou a KTM ao pódio, em uma corrida segura. Andrea Dovizioso preferiu salvar os pontos do quarto lugar em vez de arriscar marcar nenhum. E Johan Zarco (Ducati) fez uma manobra imcrível ao ultrapassar Miguel Oliveira (KTM) na última curva da última volta para terminar em quinto. Grande pecado para Valentino Rossi (Yamaha), que tinha tudo para fazer outra grande corrida, graças à vasta experiência na chuva, mas caiu na segunda curva!
? @ValeYellow46's race only lasted three corners at Le Mans!
The Doctor was left to rue another missed opportunity! ?#FrenchGP ?? pic.twitter.com/1gjpUvbYKt
— MotoGP™? (@MotoGP) October 11, 2020
O campeonato ainda está sorrindo para Fabio Quartararo e na próxima etapa, na Espanha, comenta-se que Marc Márquez poderá voltar. Pena para Stefan Bradl que conseguiu sua melhor colocação no papel de substituto, ao finalizar em oitavo. Mas ótimo para dar ainda mais emoção e este já eletrizante campeonato.
Fleumático
De todos os temperamentos da psicologia – sanguíneo, colérico, melancólico e fleumático – o que melhor traduz o inglês Sam Lowes (Marc VDS) é fleumático. Ele desce da moto depois de 25 voltas e um quase tombo com aparência de quem chegou de um chá das cinco. E limpo, ainda por cima! A Moto2 começou quando a pista já formava um trilho seco. É a pior condição de asfalto para os pilotos. A chamada nem-nem: nem seco, nem molhado. Alguns pilotos saíram dos boxes com pneus lisos (slicks) e outros com intermediários (mais ou menos de chuva). E deixaram para decidir a escolha na hora da largada.
Foi aquele festival de trocas de pneus. Mas uma equipe vacilou: a Tennor American Racing do simpático Joe Roberts. Quando o fiscal de pista levantou a placa de 3 minutos a roda traseira da moto dele ainda estava fora. O fiscal mandou todo mundo da equipe pros boxes e Joe Roberts teve de deixar a pole-position livre para largar em último.
Aí aconteceu a segunda grande presepada do dia, essa muito mais perigosa. As motos estavam alinhadas no grid e nada de Joe Roberts chegar. O fiscal de grid acenou a bandeira verde mas Roberts ainda estava chegando. Resultado: quando deram a largada Joe Roberts estava saindo da curva e atrás do carro de segurança, o que é absoluto e totalmente proibido pelo regulamento. A largada deveria ter sido anulada, mas… fingiram que nada aconteceu! Eu dei um grito na transmissão e acho que acordei muita gente!
O líder do campeonato, Luca Marini (VR 46) achou melhor se preservar, pensando que tem cinco corridas encavaladas pela frente, e decidiu aliviar tanto que nem sequer marcou pontos, terminando em 17º. Mas esquece ele. O pau comeu foi lá na frente.
Primeiro o inglês Jake Dixon (Petronas) assumiu a ponta e foi embora, levando junto outro inglês, Sam Lowes. Os dois se isolaram na frente. Logo atrás o trio formado por Marco Bezzecchi (VR46), Remy Gardner (TKKR) e Augusto Fernandez (Marc VDS) se atracou até a bandeirada. Foi o duelo mais emocionante da prova, tanto que o diretor de imagem esqueceu dos líderes e focou nestes três. Mas… eu ouvi o som de uma queda pelo áudio original e ficamos esperando pra ver quem tinha sido a vítima: Jake Dixon, simplesmente perdeu a frente e viu o que seria a primeira vitória no mundial escorrer pela caixa de brita. Uma grande pena porque colocaria o piloto em evidência e dificilmente teria outra chance. Mas pista úmida é traiçoeira mesmo.
Com Sam Lowes seis segundos à frente o mundo grudou o olho naquele trio. Quando entraram na última volta Remy estava em terceiro e mostrou muita precisão para dar o bote faltando duas curvas para o fim, de forma inesperada e milimétrica. Bezzecchi terminou em terceiro, desapontado, mas num tremendo lucro porque Luca Marini nem pontuou.
A TV mostrou o choro do Dixon ao chegar nos boxes. Achei ótima essa demonstração de humanidade para que o mundo saiba que por trás daqueles capacetes vivem heróis sim, mas que sofrem como todo ser humano. Eu já perdi uma corrida na última curva mas só fui chorar quando cheguei em casa…
MotoEeeeee…
É um campeonato curto, com provas curtas e, desculpe o trocadilho, sujeito a curto circuito! O campeonato mundial de MotoE teve duas etapas em Le Mans, encerrando a segunda temporada. No sábado, com a pista seca, mas gelada, vimos um festival de absurdos. Primeiro com a queda de Matia Casadei (SIC 58), quando a moto ficou parada no meio da pista e a prova teve de ser interrompida. Os fiscais não podem encostar nas motos elétricas sob risco de esturricar numa descarga elétrica. Só os “minions” devidamente preparados podem remover a moto e isso demora.
Na segunda largada outra pancadaria, dessa vez com Dominique Aegerter (Dynavolt), meu professor Nicolò Canepa (LCR) e Xavier Simeon (LCR), logo em seguida o líder Mateo Ferrai (Gresini) também foi catapultado da moto. Como as motos não ficaram na pista a prova não foi interrompida. Mas para desviar da confusão Eric Granado (Avintia) caiu para última posição. Remou uma barbaridade para conseguir o sexto lugar.
Lá na frente Jordi Torres ignorou tudo e todos e venceu, colocando uma mão na taça. Depois vieram Mike Di Meglio (Marc VDS) e Niki Tuuli (Avant Ajo).
No domingo foi a última e decisiva prova. Dessa vez com a pista úmida e Jordi Torres só precisava o oitavo lugar para ser campeão. Cumpriu a tarefa, terminou em sexto e levou o caneco. A prova foi vencida pelo finlandês Niki Tuuli (que foi o primeiro vencedor desta categoria), com o francês Mike de Meglio logo atrás e o australiano Josh Hook (Pramac) em terceiro.
Eric Granado teve uma corrida pra esquecer. Largou muito bem, mas na segunda curva perdeu o ponto de frenagem e escorregou, levando junto Alejandro Medina (Aspar). No balanço o brasileiro teve um ano difícil. Começou muito bem com uma vitória na primeira etapa, mas na segunda foi abalroado quando estava em segundo brigando pela vitória. Daí em diante muitas provas difíceis e acidentes o fizeram despencar na classificação para o sétimo lugar. Para 2021 ainda não tinha uma equipe definida, mas com chances de voltar para a Moto2. Vamos torcer!