Dovizioso na MotoGP, Jorge Martin na Moto2 e Albert Arenas na Moto3 foram os vencedores
Parece que uma luz divina pairou sobre o circuito Red Bull, em Spielberg, na Áustria neste domingo (16). Dois acidentes pavorosos poderiam ter tido consequências bem mais graves. Na Moto2, Enea Bastianini escorregou na saída da curva 1, conseguiu sair correndo mas a moto ficou no meio da pista. O piloto malaio Hafizh Syahrin não conseguiu desviar, acertou em cheio a moto do italiano e caiu apagado. Um tremendo susto que só acalmou quando veio a notícia de que estava consciente e fazendo exames na clínica.
Menos de 45 minutos depois foi a vez de Franco Morbidelli e Johan Zarco protagonizarem um acidente assustador. Zarco mudou a trajetória de repente, foi atingido por Morbidelli. A Ducati do Zarco recuperou o equilíbrio e saiu desembestada como um foguete, sem piloto, bateu no airfance e atravessou a pista a centímetros da cabeça de Valentino Rossi. Novamente foi acionada a bandeira vermelha e mais uma vez os pilotos saíram bem depois da chacoalhada.
A programação começou como sempre pela Moto3, a categoria mais equilibrada do fim de semana. Durante os treinos livres e na classificação dois pilotos se destacaram pela velocidade e regularidade: os espanhóis Raul Fernandez e Albert Arenas. Do primeiro ao 16º colocado a diferença era de menos de um segundo, o que já previa uma corrida de fortes emoções.
De fato, da primeira à última volta não era possível prever quem venceria. Nesta categoria é normal ter várias trocas de posição em cada volta. O narrador não pode nem piscar que perde lances importantes. Na metade das 23 voltas um pelotão se destacava com os espanhóis Arenas, Jaume Masia, o turco Deniz Oncu, os italianos Celestino Vietti, Toni Arbolino e o sul africano Darryn Binder. De repente surgiu no meio desse povo o japonês Ai Ogura e esse grupo ficou embolado até a última curva da última volta, quando Albert Arenas conseguiu sair do terceiro para o primeiro lugar praticamente na linha de chegada.
Pecado a punição para Celestino Vietti, que fez treinos consistentes, estava com ritmo para vencer, mas na última volta passou o limite da pista para cruzar em terceiro e foi punido com acréscimo de tempo, caindo para a sexta posição. Melhor para John McPhee, que deixou para atacar nas voltas finais e foi premiado com a terceira posição. Vietti chegou a ser entrevistado no final da prova, mas não subiu ao pódio. Excelente segundo lugar para Jaume Masia que tem um estilo muito agressivo, principalmente nas ultrapassagens, e liderou até quase a última curva. Mas deixou o recado pra todo mundo.
O campeonato viu Albert Arenas abrir uma enorme vantagem de 28 pontos sobre John McPhee (95 a 67), mas tem muita água ainda pra passar por baixo dessa ponte.
Moto2
A maior surpresa do treino foi a pole do Remy Gardner. Esse piloto é filho do campeão mundial Wayne Gardner (1987) mas parece que não recebeu muito do DNA campeão. Ele comete muitos erros, cai muito e nunca é uma aposta. Dito e feito: ficou pra trás logo na largada e depois caiu! A corrida estava super equilibrada até a abertura da quarta volta quando Enea Bastianini escorregou de traseira na saída da curva 1 e caiu, deixando sua moto no meio da pista. Os pilotos passaram muito perto, mas o turco Hafihz Syahrin acertou em cheio. O piloto caiu já apagado e pregou um susto em muita gente. A prova foi interrompida para limpeza da pista e feita uma nova largada com a ordem que as motos estavam na volta número 3.
A crash for @eneabastianini triggered chaos in #Moto2! ?
Thankfully, @Hafizh_pescao55 avoided serious injury after striking the bike! ?#AustrianGP ?? pic.twitter.com/X7Aihnr7Wu
— MotoGP™? (@MotoGP) August 16, 2020
Nesta nova largada Jorge Martin partiu muito bem e sumiu na frente de todo mundo, com Luca Marini o tempo todo na cola e Marcel Schrotter em terceiro. Seguiram assim até a bandeirada. O inglês Sam Lowes se atrasou, corroeu o pneu traseiro em derrapagens insanas, mas conseguiu cruzar em quarto, com Xavi Vierge em quinto. Estes dois se enroscaram a partir da metade dessa prova, chegaram a bater carenagens, mas terminaram inteiros.
Para o campeonato o tombo do Bastianini não poderia ser melhor. A liderança passou ao mezzo-fratello Luca Marini com 78 pontos, seguido por Bastianini, com 75 e a dupla Jorge Martin/Sam Lowes com 59.
MotoGP: o milagre
“Esta noite vou rezar”, assim Valentino Rossi, 41 anos, desabafou depois de ver a cena do terrível acidente entre Johan Zarco e Franco Morbidelli. Como explicado no primeiro parágrafo, Zarco mudou de trajetória de repente e Morbidelli não teve como desviar. Na pancada Zarco foi arrancado da sua Ducati, que continuou sozinha até bater na proteção e atravessar a pista bem entre Valentino e Maverick Viñales. A prova foi interrompida e isso foi decisivo para o resultado.
Até o acidente tudo caminhava para uma grande atuação de Pol Espargaró com a KTM. A marca austríaca vinha de vitória na prova de Brno e corria em casa, porque a pista de Spielberg é sede da equipe. Desde o começo do ano, o piloto de teste da KTM, Dani Pedrosa, já deu mais de 300 voltas nesta pista, desenvolvendo a moto nova que não tem um parafuso da versão 2019. Mudou tudo: motor, quadro, suspensão, rodas e pneus.
OMG that crash and lucky #rossi #MotoGP pic.twitter.com/aS0gN6Ykz0
— Indian ASAC Schrader (@ventdeInde) August 16, 2020
Mas veio o acidente e a prova foi interrompida. Enquanto os fiscais limpavam a pista a geradora de imagens mostrou a expressão do Valentino Rossi ao ver o quanto ele ficou perto de uma lesão muito mais grave. Acho que ele não teve uma noite de sono muito tranquilo nesta noite de domingo.
Para a segunda largada alguns pilotos aproveitaram a colocaram pneus macios na roda traseira, sabendo que seriam apenas 20 voltas. Esse foi o pulo do gato para as motos Suzuki e a Ducati de Andrea Dovisioso. Jack Miller disparou na frente na largada, trazendo Dovizioso na cola e Pol Espargaró conseguia um ritmo muito forte, junto o português Miguel Oliveira. Mas as duas Suzuki começaram a aparecer, ganhar posições e numa manobra fantástica Alex Rins ultrapassou a Ducati de Dovi assumindo a primeira posição. Nem teve tempo de comemorar, porque logo em seguida forçou demais e caiu, deixando o caminho livre para Dovizioso.
Pol Espargaró até assinalava para uma chegada no pódio, porém preferiu largar com os pneus médios, errou uma curva, perdeu a trajetória e, ao voltar, acertou Miguel Oliveira. Duas KTM abandonaram na mesma curva! Na casa da KTM… O Pol Espargaró é um caso à parte: o que tem de veloz tem de desequilibrado e deixou escapar dois grandes resultados pelo excesso de afobação.
A prova caminhava para um final com Dovizioso, Miller e Joan Mir até a última curva, quando Miller alargou demais e Mir conseguiu roubar a segunda posição numa manobra de levantar a plateia (se existisse). Foi o primeiro pódio de Mir e serviu para também apresentar o cartão de visitas da Suzuki. Equipada com motor de quatro cilindros em linha, é uma moto que vai bem nas pistas de alta velocidade.
As Yamaha e as Honda novamente decepcionaram. A melhor Yamaha foi a de Rossi, em quinto lugar. Fabio Quartararo ficou sem freios nas primeiras voltas e só conseguiu o oitavo lugar porque conseguiu arrumar a moto pra segunda largada. E Maverick Viñales teve problemas com a embreagem logo após a largada. Teve de esperar esfriar para voltar a atacar, encerrando em 10º. Já as Honda oficiais é só tristeza: Alex Marques até conseguiu fazer treinos convincentes, mas na corrida ficou sempre de 14º pra trás. Stefan Bradl já deve sonhar com a volta de Marc Marquez porque seu desempenho é sonolento. Terminou em último entre as motos que cruzaram a chegada.
Esta vitória de Dovizioso sela uma curiosa coincidência. Em 2019 na semana que a Ducati anunciava a despedida de Jorge Lorenzo o espanhol foi pra pista e venceu. Hoje, horas depois de anunciar a demissão de Andrea Dovizioso o piloto italiano foi lá e venceu também. Jeito estranho de estimular os pilotos!
O campeonato ganhou mais equilíbrio, com Quartararo ainda em primeiro, com 67 pontos, seguido do “rei de Spielberg” Andrea Dovizioso, com 56 e Viñales com 48. No próximo domingo, dia 23 terá mais uma etapa em Spielberg e Marc Marques ainda não estará no grid de largada.
Tite Simões, especial para o portal do Claudio Carsughi.