Estava tudo bem encaminhado para o futebol do Rio voltar. Vão ter que esperar.
Ontem, a pedido do Ministério Público e da Defensoria Pública, o juiz Bruno Vinícius da Roas Bodart da Costa, da 7ª Vara de Fazenda Pública do TJ do Rio de Janeiro, concedeu liminar que suspende alguns trechos da flexibilização feita a partir do decreto feito pelo governador Wilson Witzel e pelo prefeito Marcelo Crivella, na última sexta-feira. Um dos pontos suspensos foi a volta da realização de atividades esportivas de alto rendimento sem público. Quem descumprir a determinação estará sujeito a uma multa de R$ 50 mil.
Até ontem, segundo o informe da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, já 6.781 mortes e quase 70 mil casos confirmados de Covid-19. E ainda assim, os clubes insistem com a volta do esporte.
Rodolfo Landim deu uma entrevista, ontem, ao programa Bem Amigos, do Sportv. O presidente do Flamengo reafirmou seu desejo pela volta do futebol e disse que a maioria dos clubes da Série A do Rio compartilha a mesma opinião – somente Fluminense e Botafogo são contra a volta das atividades esportivas. Ele também afirmou que há um grupo em que os dirigentes alinham a comunicação, definem protocolos de segurança e se mobilizam pelo retorno dos campeonatos. Isso é preocupante.
Landim ignora a atual situação do país, a curva ascendente de casos e de mortes confirmadas por coronavírus, além do fato do Governo Federal não apresentar nenhuma medida efetiva de combate à pandemia. Em meio a uma era turbulenta, o presidente do Flamengo contribui para a desinformação da população ao argumentar que a volta do futebol deve servir de exemplo para a sociedade. Eu questiono: como?
As medidas propostas pela Organização Mundial da Saúde se referem ao isolamento social. O retorno dos campeonatos de futebol remetem à “normalidade da rotina das pessoas”, como ocorreu na Alemanha, por exemplo. Na Alemanha, houve uma queda no número de casos. No Brasil, o índice não para de crescer – praticamente mil mortes por dia.
Retomar o futebol é uma atitude irresponsável tão irresponsável quanto reabrir shoppings. Por mais que hajam protocolos, é óbvio que nenhum deles é seguido à risca. E pior: segundo a fala do presidente do Flamengo, o tal ‘protocolo’ protege os jogadores e suas famílias, mas ignora-se que para realizar uma partida de futebol se envolvem muito mais do que jogadores.
O futebol não é um ambiente seguro, e estamos muito – mas muito mesmo – distantes da volta à normalidade.