No linguajar jornalístico a palavra “furo” indica uma notícia dada em primeira mão. E foi isso que eu consegui, quando da morte de Ayrton Senna. Um “furo” doído, que gostaria de nunca ter dado.
Naquele dia 1º de maio de 1994 eu estava na rádio Jovem Pan, comentando pela TV o GP de Imola com o nosso Nilson Cesar transmitindo ao vivo do circuito quando, na curva Tamburello, ocorreu o acidente que tirou a vida do ás brasileiro. No momento não se percebeu totalmente a gravidade do fato, a ponto de Nilson Cesar falar em possibilidade de recuperação do piloto e pedindo a Deus que não ocorresse nada de mais grave.
Eu, logo após o acidente, vendo o corpo do piloto sendo levado para a ambulância com um grande pano branco ocultando a visão dos espectadores presentes e dos que estavam assistindo pela televisão, tive a sensação que o momento era muito grave.
Decidi então ligar para meu chefe no jornal italiano La Stampa, do qual era correspondente no Brasil, para buscar mais notícias.
Ao atender, meu chefe me disse textualmente: “Claudio, fica na linha que estou tentando falar com a médica que cuida do caso no pronto socorro do hospital onde Senna foi levado”. E logo após, ouvi a médica afirmando textualmente: “l´encefagalogramma é piatto”, isto é “o encefalograma é plano”.
Não era necessário ser um profundo entendedor de medicina para deduzir que Senna estava morto, embora algumas de suas funções vitais pudessem estar ativas por um tempo.
Então fui ao microfone e chamei o Nilson Cesar para afirmar: “Senna morreu”. E insisti nessa afirmação, explicando brevemente como tinha chegado a essa triste conclusão.
Infelizmente, eu estava certo…
Aliás, essa foi a segunda vez, em minha carreira jornalistica, que me encontrei em situação parecida. A primeira vez foi num sábado, em que estava apresentando um programa esportivo na rádio Bandeirantes, e me jogaram na mesa uma singela notícia de agência com apenas 3 palavras: “Christian Heins morreu”.
Estava sendo disputada a “24 Horas” de Le Mans e Heins, conhecido entre os amigos como Bino, era um piloto de 28 anos que já tinha em sua carreira uma série de belas vitórias, sobretudo em provas de subida de montanha na Itália. Eu privava da amizade dele e senti um choque com a notícia, acumulando ainda a necessidade de imediato dar a notícia e acompanha-la com um comentário relativo ao piloto e sua carreira.
Foram instantes que almejaria muitíssimo não ter nunca vivido…