No próximo fim de semana, será reprisada a final da Copa do Mundo de 1994, em que o Brasil faturou o tetra, nos pênaltis, sobre a Itália. Há quem diga que aquele foi o duelo mais duro do Mundial; mas, antes, acontecera um confronto bem mais complicado, que foi fundamental para o crescimento da equipe de Parreira na competição.
Pelas oitavas de final, o Brasil encarava os Estados Unidos, donos da casa, num feriado de 4 de julho, Dia da Independência do país. Diante de 85 mil torcedores presentes no estádio Stanford, em San Francisco, a Seleção Brasileira venceu a partida por 1 a 0, mesmo com uma série de fatores adversos.
Faremos uma viagem no tempo e relembraremos os fatores que fizeram com que os Estados Unidos, país onde o futebol não tinha muito investimento e pouca prática profissional, fosse o mais duro e surpreendente adversário do Brasil daquele Mundial.
A formação da seleção norte-americana
Ao final da década de 1990, veio a confirmação de que os Estados Unidos seriam o país sede da Copa de 1994. Se tratando de questões de estrutura, isso não era um problema na época, visto que o que tinha a se fazer seria adaptar os estádios para receber eventos de futebol. O maior desafio, portanto, era o esporte local mesmo.
Naquele tempo, a NASL (North American Soccer League) havia falido e, com isso, gerou um grande impacto no esporte do país. Sendo assim, o tinha para contribuir ao futebol norte-americano eram clubes amadores, equipes universitárias e os jogadores que atuavam na Europa. Diante disso, era preciso montar um projeto firme, e assim começaram a montar uma seleção do zero.
Passada a Copa de 1990, a federação dos EUA contratou 22 jogadores semiprofissionais para formar uma “seleção”. Ali, na nova academia de futebol, firmava o projeto para a Copa do Mundo. Os jogadores tinham contrato e trabalharam juntos na Califórnia por um ano. O treinador era o experiente sérvio Bora Milutinovic, que já havia dirigido as seleções do México (1986) e da Costa Rica (1990) em Copas do Mundo.
No Mundial
O novo projeto para a Copa de 1994 colhia bons frutos e surpreendia torcedores de todo o mundo. Logo na estreia no Mundial, os norte-americanos empataram em 1 a 1 contra a Suíça no Pontiac Silverdome, nos subúrbios de Detroit. No duelo seguinte, tinham como adversário a temida Colômbia (de Valderrama, Freddy Rincón e Asprilla), no Rose Bowl. Venceram por 2 a 1, graças a um gol contra de Andrés Escobar – o zagueiro foi assassinado 10 dias depois do erro que culminou a eliminação da Colômbia da Copa. No jogo derradeiro da fase de grupos, os EUA foram derrotados por 1 a 0 para a Romênia, mas mesmo assim chegaram à fase eliminatória, pela primeira vez desde 1930, e se depararam de cara com o Brasil nas oitavas de final.
Contra o Brasil
Como fora dito anteriormente, o Brasil tinha uma série de fatores adversos para encarar os EUA. Entre eles, tinha o de jogar na casa do adversário. Cerca de 85 mil torcedores lotavam o estádio Stanford, em San Francisco, em um dos feriados mais festivos do país. Além disso, conforme foi contextualizado, é extremamente importante destacar a ascensão dos norte-americanos no esporte (depois da Copa de 1990, construíram uma série invicta e conquistaram Copa Ouro da CONCACAF de 1991, além de outros títulos de menor expressão), e novamente reforçando que esse time de semiprofissionais venceram de forma surpreendente a seleção colombiana.
O duelo entre Brasil e Estados Unidos era visto como promessa de bom espetáculo. O Brasil dependia dos talentos de Bebeto e Romário para concluir as chances criadas em gols; mas isso foi sendo dificultado com o passar do tempo. A Seleção de Parreira chegava com mais perigo: Romário perdia chance atrás de chance – parou na trave, e ainda teve um emblemático lance em que chegou a driblar o goleiro adversário e errou o alvo.
O Brasil estava nervoso com o placar zerado. Leonardo foi expulso ainda no primeiro tempo, o que foi a maior adversidade na partida. Mesmo assim, na volta do intervalo, a Seleção seguia a maior parte do tempo no ataque. Logo no início, o zagueiro adversário tirava, em cima da linha, o gol que seria de Romário.
De tanto insistir, o gol brasileiro saiu. Numa jogada construída por Romário na intermediária, ele lançou na direita para Bebeto que definiu a vitória brasileira. À frente no marcador, o Brasil conseguiu tranquilidade, e os ânimos se acalmaram mais ainda no fim, quando os EUA também tiveram um jogador expulso e o jogo ficou 10 contra 10.
No sufoco
Foi, sim, o jogo mais difícil do Brasil na Copa. Embora tenha vencido o jogo, é preciso considerar as situações adversas aos brasileiros para que este duelo fosse encarado como o mais difícil do torneio. O Brasil venceu no sufoco, assim como foi diante da Holanda (vitória por 3 a 2, nas quartas), da Suécia (1 a 0, na semifinal) e contra a Itália (empate sem gols, decidido com fortes emoções nos pênaltis, e com o final da história conhecido por todos brasileiros).
Depois da Copa de 1994
Os EUA, renasceram no esporte: se classificaram para todas as edições de Copas até o Mundial de 2018. Em 2002, tiveram o seu melhor desempenho em copas, perdendo para a Alemanha nas quartas de final. Recentemente, falharam ao não se classificar para a Copa da Rússia, mas o futebol cresceu e se popularizou entre os norte-americanos, que trabalham em uma reformulação visando a disputa de Catar-2022 e da Copa de 2026, que eles mesmo sediarão junto de México e Canadá.
Quanto ao Brasil, conhecemos bem a história: uma final perdida para França, em 1998, na casa do adversário, e a conquista do penta em 2002. Desde 2006, tivemos muitas reformulações, decepções e lições tiradas de cada participação em copas, mas poucas aprendidas.