A quarentena nos deixou mais nostálgicos. As atrações esportivas, nas programações de televisão, passaram a ser reprises de jogos históricos. Isso fez com que muita gente discutisse nas redes sociais o motivo da seleção de 2006 ter caído precocemente no Mundial daquele ano. Para muitos nascidos nas décadas de 1980 e 1990, aquela foi a melhor seleção que já viram; mas será que foi mesmo?
Para chegar a uma conclusão, é preciso desmistificar alguns fatos que envolvem aquele esquadrão comandado por Parreira: 1) o nível técnico de uma equipe não se mede pela soma do talento individual dos atletas; 2) a partir dali, recebíamos uma das maiores lições que um Mundial já nos ofereceu, e que até hoje não foi aprendida pelos brasileiros; 3) a decepção gerada por essa Seleção não tem como ser comparada às quedas dos times de 1950 ou de 1982.
A começar pelo ponto inicial. Em 2006, o brasileiro estava vivendo uma era mágica. O Brasil vinha de três finais consecutivas de Copas e dois títulos mundiais. A Seleção daquele ano, de fato, reuniu uma quantidade absurda de astros do futebol mundial. Dida, Cafú, Lúcio, Juan e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Zé Roberto, Kaká e Ronaldinho; Ronaldo e Adriano – isso sem contar que ainda contava com um banco de reservas invejado, com Cicinho, Juninho Pernambucano e Robinho. No papel, uma “panela” de apavorar qualquer rival. Na prática, apresentava um futebol bem comum.
O maior problema daquela seleção era tático. Poucos passes e jogadores mal posicionados. Ronaldinho era o principal articulador de jogadas da equipe, mas rendeu abaixo por dois motivos: faltava mobilidade dos homens de frente e, de acordo com Parreira, o então craque do Barcelona chegou desgastado no Mundial devido ao empenho na Liga dos Campeões daquele ano.
A dupla Adriano e Ronaldo não se encontrava na melhor forma física. Além disso, outros atletas estavam prestes de se despedir das copas – casos de Cafú, Roberto Carlos e Emerson. E por que Parreira não fez as manutenções necessárias na equipe principal? Essa, em minha opinião, é a maior dúvida relacionada a esta Seleção.
Havia o famoso quadrado mágico, que funcionou magnificamente bem em 2005; mas o que poucos treinadores levam em consideração é que, em um ano, muita coisa pode mudar em uma equipe. Cicinho e Gilberto viviam melhores momentos em relação a Cafú e Roberto Carlos, mas não tinham o mesmo prestígio que os dois campeões mundiais de 2002. Robinho vivia excelente fase no Real Madrid, e na Seleção era uma peça importante para o ataque brasileiro, devendo atuar ao lado de Ronaldo ou Adriano (estes dois juntos, pesados e isolados no ataque, já não davam mais certo). Além dele, Kaká foi o melhor brasileiro naquela Copa – em ascensão, se tornaria melhor do mundo no ano seguinte.
Contra a França, Parreira até optou por um trio de meias com Kaká, Juninho Pernambucano e Ronaldinho Gaúcho, para dar mais criatividade no meio-campo. Não deu certo. Há quem justifique que o Brasil foi eliminado somente porque do outro lado havia um tal de Zinedine Zidane, que novamente, relembrando a atuação em 1998, fez o que quis contra os brasileiros; mas, realmente, o time verde-amarelo não fez muito esforço para parar o camisa 10 adversário.
Isso explica o segundo ponto que mencionei anteriormente, referindo-se a uma das maiores lições que um Mundial já nos ofereceu, e que não foi aprendida até hoje pelos brasileiros: as manutenções na equipe, tanto de atletas quanto na forma de jogar, devem ser previstas, muito bem observadas e aplicadas no momento ideal.
Além do exemplo da queda de rendimento do Brasil entre 2005 e 2006, temos o da Seleção na Copa das Confederações de 2013, que seria irreconhecível no Mundial de 2014. Também tem o de 2017, quando Tite atribui à Seleção um dos melhores níveis que já vistos no século, mas que seria derrotado em 2018.
Parece que, para nós, a Copa acontece no ano errado. “Se acontecesse um ano antes, teríamos sido campeões”. Errado! O Brasil vive em alta um ano antes do Mundial porque àquela altura já existe um time praticamente definido e se vive um período mais cômodo para manutenções. Em época de Mundial, há o receio de mexer no que foi construído um ano antes e acabar com projeto concluído para aquela temporada.
E, finalmente, o terceiro ponto do texto: a decepção gerada por essa Seleção não tem como ser comparada às quedas dos times de 1950 ou de 1982. Em 2006, era o Brasil com muitos craques reunidos em uma única relação, mas que apresentava um nível de futebol muito abaixo do esperado.
Em 1950, a Seleção tinha um favoritíssimo ao título inigualável, com um futebol que estava muito à frente dos demais países – sem contar que tinha o fator casa a seu favor. Na final, frente ao Uruguai, abriu o placar e esteve muito próximo de sua primeira taça. Por detalhes, sofreu a virada.
Já em 1982, vem o maior sentimento de injustiça: víamos a Seleção Brasileira mais emblemática e, talvez, a última que encantou gerações em todo o planeta. Aquele Brasil era lendário, mas não só pela quantidade de excelentes jogadores que integravam o grupo, mas também pela forma de jogar. Sob a batuta de Telê Santana, os brasileiros apresentavam ao mundo um futebol revolucionário, de muitos passes, movimentações e velocidade, estilo coletivo que viria a ser referência até os dias atuais.
E como essa Seleção perdeu por 3 a 2 para a Itália e foi eliminada da Copa, na Espanha? Carsughi explica no vídeo abaixo: