Segundo a Liberty Media, o grupo que atualmente controla a Fórmula 1, as sessões de tomada de tempo para definição do grid de largada vão sofrer alterações para a temporada de 2020, com a possibilidade até de contarmos com uma corrida de classificação aos sábados. Enquanto equipes e alguns pilotos têm críticas quanto a esse sistema, não seria a primeira vez que o final de semana da categoria sofreria mudanças. Vamos voltar ao passado e ver como a luta pela pole position se transformou ao longo das décadas.
Duas sessões em dois dias, 1950-1996
Acreditem ou não, nas corridas anteriores a Segunda Guerra, portanto, pré-F1, era comum decidir a ordem do grid por sorteio – mas desde que o campeonato mundial começou em 1950, a pole position (um termo que tem suas origens nas corridas de cavalos) era decidida pelo piloto mais rápido na qualificação.
Até 1996, a qualificação seguia um padrão – haviam duas sessões para definir os tempos, uma na sexta-feira e outra no sábado, e nenhuma restrição de combustível de qualquer tipo. É claro que cada década tinha suas particularidades – desde pneus e motores especiais de qualificação para uma única volta nos anos 80 até a pré-qualificação no final da década de 80 e início dos 90, devido ao grande número de equipes – mas essencialmente o sistema permaneceu o mesmo, com o tempo mais rápido nos final dos dois dias garantindo a pole.
Esse formato, no entanto, passou a ter uma grande desvantagem – significava que um clímax emocionante não era garantido, especialmente se tivéssemos o clima seco na sexta-feira, mas depois chovesse no sábado…
Uma hora para a decisão, 1996-2002
A fim de garantir que todas as sessões de sábado tivessem potencial para serem emocionantes, as regras foram aprimoradas antes da temporada de 1996, com o grid sendo decidido por uma única sessão de uma hora, na qual os pilotos tinham no máximo 12 voltas para definir o resultado, ficando com melhor tempo que fizessem.
Essa abordagem “feita para a TV” durou até o final de 2002, antes que as regras fossem alteradas novamente, desta vez, porque as equipes, ansiosas por aproveitar as melhores condições da pista, costumavam passar longos períodos na garagem esperando que outros ‘limpassem’ a parte do traçado onde os carros passavam.
Uma volta e nada mais, 2003
A solução para as equipes não ficarem muito tempo em suas garagens? Qualificação em apenas uma volta, que foi vista como a maneira perfeita de garantir ação na pista, bem como um meio de fazer com que as equipes menores tenham mais exposição na televisão. Na sexta-feira de cada fim de semana de corrida, os pilotos iam à pista um de cada vez na ordem em que estivessem classificados no campeonato mundial, completando uma única volta antes de retornar aos boxes.
No dia seguinte, o processo seria repetido novamente para decidir a ordem final do grid, desta vez com o piloto mais lento da sexta-feira sendo o primeiro a ir para a pista e o piloto mais rápido por último – teoricamente com pista mais limpa. Para trazer um pouco mais de dificuldade, apimentar as corridas aos domingos e levar a mais imprevisibilidade aos sábados, os pilotos tinham que dar a volta com o nível de combustível que largariam na corrida.
O problema com esse sistema, é claro, era que pelo menos um piloto quase sempre seria prejudicado, em virtude das condições da pista ou do tempo instável. Mesmo assim, a qualificação de uma volta permaneceria por vários anos, embora com alguns ajustes…
Sábados mágicos, 2004
Com um pequeno ajuste em relação a 2003, as duas sessões de uma volta passaram a realizadas no sábado, desde o início da temporada de 2004, com a ordem da primeira parte da qualificação agora determinada pela classificação da corrida anterior.
Como antes, o piloto mais lento dessa sessão inicial sairia primeiro na segunda parte, mas com os dois segmentos agora tão próximos, o sistema poderia ser manipulado mais facilmente – especialmente quando a previsão do tempo era de instabilidade.
A prova disso veio em Silverstone, quando Michael Schumacher admitiu ter rodado sua Ferrari deliberadamente na primeira sessão, a fim de fazer uma volta lenta e ter uma posição vantajosa para a segunda sessão, quando os corredores que viessem depois provavelmente seriam comprometidos pelo mau tempo.
Qualificação agregada, 2005
Sem surpresas, foram feitos outros ajustes e, em 2005, foi decidido que o grid seria decidido juntando os tempos de duas classificatórias de uma volta – uma no sábado à tarde com pouco combustível e outra no domingo pela manhã, quando os carros precisariam ser abastecidos para a corrida.
No entanto, essas mudanças se mostraram bastante impopulares entre as equipes e os fãs, especialmente porque as sessões de sábado agora careciam de um drama real – e o novo formato caiu depois de apenas seis corridas em favor de um sistema mais simples.
Nas 13 corridas restantes da temporada, cada piloto faria uma única volta voadora com o combustível para a corrida na tarde de sábado, com a ordem determinada pela chegada da posição na corrida anterior. Sem dúvida, isso foi uma melhora em relação a antes, mas o caso de amor da F1 com a qualificação de uma volta estava em declínio e um novo formato emocionante esperava nos bastidores…
Eliminando os mais lentos, 2006-2007
Após três anos de confrontos de uma volta para decidir o grid, a F1 voltou às suas raízes com a qualificação de várias voltas em 2006, embora com uma nova e empolgante reviravolta.
Foi elaborado um novo sistema de qualificação em três partes, com os pilotos mais lentos sendo progressivamente eliminados de cada segmento até restarem 10 para lutar pela pole position. Esse emocionante sistema de nocaute provou ser um sucesso instantâneo – em grande parte por causa do potencial de transtornos ou surpresas – mas em sua forma original não estava isento de falhas.
Infelizmente, ainda foi negado aos fãs o espetáculo dos carros com o combustível baixo – porque os pilotos que chegavam ao Q3 tinham que se qualificar com os tanques cheios. Além disso, um sistema de crédito de combustível complicado – projetado para garantir que cada carro fizesse muitas voltas – significava que os pilotos muitas vezes ficassem simplesmente “queimando combustível” na última parte da qualificação.
… E um pequeno ajuste, 2008-2009
Para 2008, o sistema de três partes foi ajustado para que as equipes não pudessem mais reabastecer após o Q3, eliminando assim a fase desagradável de “queima de combustível”. No entanto, os críticos argumentaram que a parte final da qualificação era agora tanto sobre quem estava carregando mais combustível quanto sobre quem conseguiria a pole position.
Q1, Q2 e Q3, 2010-Hoje
A proibição de reabastecimento em 2010 significava que os pilotos andariam com pouco combustível durante a qualificação, efetivamente recuperando as sessões com pouco combustível que eram tão populares no passado.
Esse estilo, com a qualificação composta por três sessões e uma luta final de 10 pilotos pela pole – permaneceu inalterado por seis temporadas. Mas, para 2016, as regras mudaram mais uma vez. Os pilotos tinham uma janela de cinco minutos no Q1, Q2 e Q3 para definir um tempo – mas após esse ponto, o mais lento seria eliminado a cada 90 segundos. Após apenas duas corridas, esse sistema se provou falho com carros mais lentos não voltando a pista para disputa e o formato anterior voltou, perdurando até hoje.