Recentemente fui convidado para apresentar uma palestra para um grupo de mulheres scooteristas. Sim, hoje as mulheres já respondem por quase 50% do público consumidor de scooters. Dependendo da cidade essa proporção pode ser ainda maior.
E por que as mulheres escolherem o scooter, afinal?
No meu curso de pilotagem ABTRANS, recebo diariamente mulheres interessadas em pilotar scooters. Ao contrário do que se pensa, elas não estão buscando lazer, independência ou qualquer motivo hedonista, na verdade querem mesmo é mobilidade!
Só para citar um exemplo, uma dessas alunas é enfermeira de um grande hospital no bairro do Morumbi, zona sudoeste de São Paulo. E ela mora em Itaquera, zona leste, diametralmente oposto. Pelos meios de transporte público ela passava cerca de 4 horas por dia se deslocando no ir e vir do trabalho. Até que um dia, de dentro do ônibus, viu uma moça passando de scooter e foi aí que decidiu melhorar a mobilidade.
– Eu quase não passava mais tempo com a família, nem tinha tempo para lazer, era só trabalhar, dormir, acordar e trabalhar – explicou a enfermeira.
Com o uso do scooter ela reduziu em dois terços o tempo de deslocamento. Isso permitiu realizar o desejo de passar mais tempo com a família, além de poder dormir uma hora a mais!
O segundo motivo alegado ao escolher scooter é a facilidade de pilotagem. Graças ao câmbio CVT automático e a ausência de tanque na frente do corpo, os scooters são efetivamente mais fáceis de pilotar do que uma moto e ainda permite que pessoas de baixa estatura possa se sentir seguras. Aqui vale uma explicação específica com relação às mulheres.
Aqui no Brasil a maioria das mulheres são mais baixas do que os homens da mesma idade. Além disso as mulheres geralmente tem pés pequenos. Quando um home de 1,70 que calça 40/41 fica na ponta dos pés, ele “cresce” quase 5 cm. Uma mulher de 1,65 que calça 35/36 quando fica na ponta dos pés não ganha mais do que 3 cm de altura.
O scooter facilita a vida dos mais baixos porque o banco tem um formato de funil, com a parte mais larga no meio e mais estreita na ponta mais perto do guidão. Ao parar, basta deslocar o corpo para a frente. Quando se posiciona mais perto do guidão as pernas ficam menos fechadas e isso faz “ganhar” mais altura. Com as pernas abertas perdemos altura, portanto quanto mais fechadas estiverem as pernas mais “alto” é como se as pernas “crescessem”.
Um terceiro motivo aparece nas estatísticas é a diferenciação para os motoqueiros profissionais (motoboys). Principalmente nas grandes cidades, as motos pequenas ficaram mais restritas aos motociclistas profissionais de entrega e nem sempre essa associação de imagem agrada o público feminino. Daí a escolha pelo scooter que ainda traz outras vantagens “femininas” como pilotar de saia e não destruir os sapatos.
Por fim, o que as mulheres adoram nos scooters (e os homens também) é o porta objetos sob o banco. É perfeito para guardar capa de chuva, estojos diversos e ao estacionar pode deixar o capacete sem ficar com esse acessório pendurado no cotovelo como se fosse uma bolsa.
Conheça mais sobre scooters
Tudo começou depois da Segunda Guerra Mundial, que deixou a Europa arrasada e com necessidade de se locomover. Na Itália, uma fábrica chamada Piaggio fez o esboço de um veículo pequeno, fácil de pilotar, de mecânica simples, econômico e resistente. Como tinha uma traseira grande, que lembrava uma vespa, ganhou o nome de Vespa. Daí em diante virou História.
A Vespa chegou a ser um dos veículos motorizados mais vendidos no mundo, hoje está por toda a parte e virou quase uma religião. Só que tinha alguns problemas práticos de projeto, como o câmbio no punho esquerdo e a assimetria do conjunto motor/câmbio que a deixava muito instável. Quando os japoneses transformaram a Vespa nos atuais scooters a febre se espalhou pelo mundo como catapora em jardim da infância.
Só que scooter não é moto e depois de três anos ministrando aulas para motociclistas iniciantes identifiquei uma grave distorção: fazer moto escola com uma moto de 125/150cc para depois pilotar um scooter!
Primeiro saiba as principais diferenças entre os dois veículos:
– Moto tem pedaleiras, scooter tem assoalho.
– Moto tem o tanque de gasolina na frente do piloto; no scooter fica embaixo do banco ou no assoalho.
– Moto tem câmbio seqüencial; scooter tem câmbio automático por variador.
– Moto tem rodas de grande diâmetro; scooters tem rodas pequenas.
– Moto tem distribuição de peso equilibrada; scooter tem concentração de peso na traseira.
– Moto tem embreagem; scooter não tem embreagem.
– Moto se pilota montado; scooter se pilota sentado.
– Na moto a suspensão tem grande curso; o scooter tem curso de suspensão pequeno.
A partir destas diferenças é preciso entender como é a melhor forma de pilotar um scooter, que exige uma postura diferente da pilotagem de moto.
Em primeiro lugar a frenagem: como nos scooters a distribuição de massa é acentuada no eixo traseiro, é preciso usar e abusar muito do freio TRASEIRO. Além disso, o efeito redutor do câmbio é muito discreto e quando está em desaceleração ele entra em uma espécie de ponto-morto, liberando o motor. É preciso ficar esperto especialmente nas descidas. Deve-se usar sempre os dois freios ao mesmo tempo, mas ao contrário das motos, usa-se o freio traseiro com mais intensidade. Seria algo como 50% em cada manete, enquanto nas motos o freio dianteiro é bem mais solicitado. Ah, parece uma enorme bobagem, mas no scooter o freio dianteiro é o da mão direita e o traseiro é o da mão esquerda. Muita gente confunde por causa das bicicletas que tem os freios posicionados exatamente ao contrário!
Curvas – Scooter não tem o tanque de gasolina entre as pernas, como nas motos, por isso não dá para usar a pressão das pernas para auxiliar nas curvas. Pra complicar, também não tem pedaleiras. Por isso a pilotagem do scooter é 100% no guidão. O uso do contra-esterço é fundamental, porque o guidão assume quase o mesmo papel de um volante do carro.
Além disso, como o efeito redutor do câmbio é quase nulo, nas curvas o scooter passa uma sensação de que está “solto”. Para reduzir essa sensação é bom manter uma aceleração constante durante a curva ou desacelerar só quando já inserido na curva.
Garupa – Se na moto, que tem suspensão e rodas maiores, levar alguém na garupa já causa um desequilíbrio, nos scooters é um tremendo desastre! Eu recomendo nem sequer levar ninguém em scooters pequenos (até 150cc), porque desestabiliza ainda mais. Se a massa já é concentrada no eixo traseiro, com garupa fica mais ainda e o freio traseiro torna-se mais atuante. Reduza a velocidade e prepare-se para frear mais nas valetas e lombadas! Nos scooters de roda grande (a partir de 16 polegadas) esse desequilíbrio com garupa é bem reduzido.
Buracos e lombadas – As rodas de menor diâmetro (até 14 polegadas) são mais sensíveis aos buracos. Por isso olhe bem por onde passa. Se perceber que vai impactar no buraco ou lombada levante um pouco (só um pouquinho mesmo) do banco e apóie o peso nos pés. Isso alivia a pancada especialmente na roda traseira.
Tipos de scooter
Hoje já surgiram segmentações dentro da categoria de scooters. Inclusive a moda agora é dos scooters tipo motoneta, com rodas de 16 polegadas, assoalho plano e um grande pára-brisa, como a Dafra Cityclass 200 e os Honda SH 300i e SH 150. Em uma viagem à Itália usei a versão 150 desse scooter da Honda e viajei por quilômetros com a namorada na garupa. É mais estável e confortável que um scooter normal. E passa mais sensação de segurança.
O mais importante sobre scooters é entender que ele não é igual a uma moto e que deve ser usado, respeitado e entendido como um veículo que tem aspectos particulares de pilotagem. Ah, também não é brinquedo! Apesar de pequenos e fáceis de pilotar deve sempre ser pilotado com equipamento de segurança e jamais entregar na mão de pessoas não habilitadas.