Parece uma obrigação no Brasil: todo time precisa ser esquematizado com um centroavante. Isso, na maioria das vezes, acontece pela facilidade do treinador em trabalhar assim; mas isso não significa que sempre haverá sucesso nesse tipo de estratégia.
O que tem sido cada vez mais comum é atribuir a atletas, que originalmente não são centroavantes, a função de serem referências no ataque. Só para citar alguns exemplos, Diego Souza, Firmino (na seleção) e qualquer outro atacante recém-chegado ao São Paulo, como Alexandre Pato e Pablo. Exceto Diego Souza, que é meia-atacante, todos os outros são avantes de velocidade, que rendem muito mais fora da área.
Dito isso, trago o seguinte questionamento: por que sempre apostar em esquema com homens de referência? Há muito tempo não vejo uma dupla de atacantes no futebol brasileiro, sem posicionamento fixo, nem mesmo na Seleção — em seu último amistoso, frente à República Tcheca, ficou nítido que Firmino rendeu mais enquanto esteve lado a lado com Gabriel Jesus no ataque.
É claro: isso deixa a equipe ainda mais ofensiva, mas expõe ainda mais a equipe e, de certo modo, perde poder de marcação em setores importantes.
Hoje, eu não imagino a seleção uruguaia, por exemplo, tendo que optar entre Cavani e Suárez para um dos dois ser referência no ataque celeste. Eu também não imaginaria a mesma situação para o Brasil de 1994 — Bebeto sempre ressaltou que um dos maiores trunfos para o sucesso da dupla com Romário naquela Copa é que Parreira dava liberdade para ambos se movimentarem à frente.
Tudo isso, a meu ver, significa abrir mãos de alguns hábitos em busca de inovações e adaptações no futebol nacional. O Barcelona, por exemplo, alterna varia esquemas táticos ao longo de todas as suas partidas — uma hora, Messi faz dupla de ataque com Suárez, e instantes depois forma o trio com Dembelé ou Coutinho, mas ambos atuam soltos fora da área. São alternativas para confundir o adversário.
Talvez falte isso para o futebol brasileiro. Sair um pouco mais do comum e apostar no que pode ser irreverente, em busca de proporcionar surpresas.