Quando recebi, para o costumeiro teste, o Chery New QQ imediatamente me ocorreu fato semelhante, ocorrido em Paris no já longínquo ano de 1968. Naquele tempo, indústria automobilística existia na Europa e na América. Falar de carro japonês era, no mínimo, estranho. E ainda mais estranho se esse carro fosse produzido por uma fábrica de moto, com uma divisão automobilística iniciada 6 anos antes mas ainda com apenas 0,33% do mercado interno do Japão.
Foto cortesia: Mikeal Martin
Assim, quando sentei ao volante do minúsculo Honda N 600, recém apresentado ao público europeu e constituindo, no fundo, uma cópia em tamanho menor do clássico Mini fabricado na Inglaterra, tive uma sensação estranha. Não sabia se estava num carro de brinquedo ou num minúsculo carro de verdade! Pois o N 600 não só media apenas 2,9 metros de comprimento como tinha somente 1,2 metros de largura, contra os 3,05 de comprimento e 1,40 de largura do Mini, já por si só, um carro bem pequeno. E, ainda por cima, este Honda N 600 era fabricado num País sem a menor tradição de indústria automobilística.
Com o passar das décadas, a indústria japonesa se firmou e hoje é um testemunho de qualidade mundialmente reconhecido.
Fato semelhante, ocorreu anos depois com a indústria sul-coreana (lembro-me de ter testado o primeiro Hyundai exportado para os Estados Unidos), que, num prazo menor do que os japoneses, conseguiu se consolidar como indústria de reconhecida qualidade.
Agora parece ter chegado a vez da China. Apareceu por aqui, com certo destaque com a JAC e a ela se soma, com renovado vigor, a Chery. Trata-se de uma montadora que começou em 1999 construindo na China algumas versões da espanhola Seat Toledo, e que desde 2015 está presente no Brasil, agora com fábrica própria. Respaldada pela Caoa, que espera repetir com a Chery o sucesso alcançado com a Hyundai, ela tem como um de seus principais produtos o pequeno New QQ, o mais barato carro presente atualmente no mercado brasileiro.
Com efeito, a versão básica, denominada Smile, custa R$ 27.490 enquanto a intermediária (Look) sai por R$ 31.490 e o tope (ACT) custa R$ 33.190, sendo que nestas duas últimas existe um opcional (pintura metálica) que encarece o preço final em 1 mil reais.
Este carro, que mede 3,56 metros, tem, na sua versão mais luxuosa, um bom pacote de componentes que vão do ar-condicionado aos espelhos retrovisores e vidros acionados eletricamente, à regulagem também elétrica de altura dos faróis, ao sensor de estacionamento traseiro e às rodas de liga leve.
Seu motor é um 1.0 de 3 cilindros de curso longo (o que privilegia o torque) que fornece 74,4 cv (74,8 com etanol) a 6.000 rpm e apresenta todas as características modernas, tais como duplo comando no cabeçote, que é de alumínio, 4 válvulas por cilindro e injeção indireta multiponto sequencial.
Ao rodar com ele deve-se lembrar a faixa de preço em que está colocado e o julgamento não pode prescindir deste importante fator.
Assim os engates do câmbio (mecânico, de 5 marchas) lembram caixas de câmbio antigas, em que era necessário “dar um tempo” na passagem ascendente de uma marcha para outra para que os sincronizadores pudessem atuar a contento. E, na hora de reduzir, uma “dupla debreagem” embora não imprescindível é sempre bem-vinda para os engates ocorrerem sem qualquer problema.
Paralelamente deve-se observar o curso longo do pedal do freio, que requer acostumar-se para evitar desagradáveis surpresas, embora em nível construtivo, isso possa ser facilmente modificado. Mas, do lado positivo, o carro não apresenta desvios de trajetória na frenagem.
Quanto ao consumo, os dados oficiais do INMETRO assinalam 12,9 km/l na cidade e 14,37 km/l na estrada (com etanol as marcas são,respectivamente, 8,93 e 9,91 km/l) o que, conjugado ao tanque de 35 litros, garante boa autonomia.
Embora, como é de praxe, as marcas que o usuário deve esperar na utilização diária sejam inferiores a essas. E quanto à velocidade máxima, ela é, de acordo com a montadora, de 150 km/h, mais do que suficiente para ser multado em qualquer rodovia brasileira.
A visibilidade geral é muito boa, seu reduzido tamanho o torna ideal para o confuso trânsito urbano, a facilidade de estacionamento é um de seus pontos altos e o conforto é o esperado de um carro desta faixa de preço.
A grande dúvida que fica refere-se a seu valor no pós-venda e de como o mercado de semi-novos e usados vai recebê-lo. Disso dependerá seu sucesso comercial.