Fotos: Lucas Henk e divulgação
Há algumas semanas, o Site do Carsughi publicou sua avaliação sobre o Volkswagen Golf Variant, um provável viés para quem não pretende ser dono de algum SUV. Do contra ou não, faz parte da missão de um jornalista do setor automotivo mostrar que, sim, há alternativas que fujam das tendências impostas pelas massas.
Quem está com a bola da vez, sem dúvida, é o segmento dos SUVs. Em sua maioria, são montados sobre a plataforma de modelos de entrada (o que barateia o custo do projeto), como, por exemplo, o Renault Duster que usa uma alongada do Sandero. Jogadas das montadoras, é lícito.
Eles proporcionam boa dose de sensação de segurança, elevada posição de dirigir e excelente espaço interno, para cinco ou sete pessoas. Sabendo desses trunfos, as minivans exploram outro lado. Além do amplo espaço, traz ainda inúmeros porta-objetos e mimos que serão descritos ao longo desta matéria.
E, assim sendo, chegou a vez do Citröen C4 Picasso mostrar que também merece o seu lugar ao sol. Lançada em março de 2012, para rivalizar com o arquirrival Renault Scénic, a minivan de médio porte foi batizada pelo nome de Xsara Picasso, descendente da família Xsara e que logo caiu na graça do consumidor brasileiro. Mas, com a chegada da minivan compacta C3 Picasso e do AirCross, foi apenas questão de tempo para que a marca decretasse a descontinuação do modelo que fora fabricado na planta de Porto Real, RJ, por onze anos.
Mesmo ciente dos baixos números de vendas – em 2016 foram apenas 218 unidades do C4 Picasso –, a Citröen confia que o mercado nacional mostre, e está fazendo, vontade de se reerguer. Só nos oito meses deste ano, foram 305 modelos.
Prova disso é que só nos oitos meses deste ano, foram 305 minivans vendidas, fabricadas no Centro de Produção da PSA em Vigo, na Espanha. O modelo está ofertado em duas configurações: C4 Picasso, com capacidade para cinco ocupantes, e Grand C4 Picasso, para sete pessoas, ambas disponíveis nas versões Seduction e Intensive, com preços a partir de R$ 121.400 e R$ 131.400, na mesma ordem. A versão avaliada foi a de cinco lugares Intensive.
Visual
Trata-se do primeiro modelo da Citroën a utilizar a plataforma EMP2 (Efficient Modular Platform 2) no Brasil, apresentada em 2013, que estreou no hatch 308 e no C4 Picasso.
Mesmo com o clichê aspecto pão de forma, a minivan traz linhas arrojadas justamente para ter mais um argumento a seu favor contra os SUVs e, ainda, para alavancar as vendas. Em ambas as carrocerias, a frente é a mesma, com iluminação em três fases – LED diurno, lanternas e, por último, os milhas – em três níveis.
Há aplique cromado nos detalhes, principalmente nos faróis de milhas, em formato letra C. Se a dianteira é igual para as duas versões, o mesmo não pode ser dito para a parte detrás.
Menos excêntrica, traz um efeito mais sóbrio com as lanternas posicionadas na vertical. As rodas de 17 polegadas conseguem dar um “quê” de esportividade ao modelo. No mais, a minivan agrada com a sua estética e não passa despercebida.
E por dentro?
Aí é subjetivo. Na mesma proposta da geração anterior, a ampla cabine traz inúmeros porta-objetos e vasta área envidraçada. Já o painel centralizado digital, com 12 polegadas, chegou na segunda geração.
Como dito logo acima, a tela é grande e, teoricamente, deveria ser de fácil compreensão. Mas não é! Logo, pouco intuitiva e com diversas funções, a leitura do layout (ou leiaute) ficou um pouco lenta, da mesma forma para conectar o Bluetooth, este visualizado em um visor de sete pol. que também ajusta a temperatura do ar-condicionado em duas zonas, GPS e algumas tecnologias de auxílio.
Depois de levar certo tempo para absorver a tipologia da tela e do sistema de entretenimento, tudo ficou mais fácil e deu até para notar que a iluminação da cabine é boa, mesmo à noite.
Para o passageiro que viajar na parte da frente, muito do seu conforto é culpa da poltrona com apoio extensivo para os pés, ao estilo dos voos de primeira classe. Além disso, os assentos possuem apoios que envolvem a cabeça e, ainda, sistema de massagem na região lombar para os ocupantes da frente.
Atrás, o que se nota são os apoios do tipo mesa, para comportarem notebooks, livros e coisas do tipo. Os ocupantes têm excelente espaço, mesmo para os três bancos, graças a boa distância entre os eixos, que é de 2.785 mm.
Conjunto mecânico
Longe de ser ineficiente, o motor 1.6 THP (fruto da parceria entre a PSA Peugeot Citroën e o BMW Group) possui injeção direta de combustível, 165 cavalos a 6.000 rpm e 25,4 kgf.m de torque máximo a 1.400 rpm. Contudo, não sobra e nem falta fôlego ao modelo, é na medida certa. Afinal, são 1.405 quilos em ordem de marcha.
O propulsor é administrado pelo câmbio automático de seis velocidades. Ele, por sua vez, é localizado na coluna de direção, próximo aos ajustes convencionais dos limpadores de vidro, como nos modelos da Mercedes. Parece difícil, mas rapidamente você se acostuma.
Segundo dados da fabricante, a aceleração aos 100 km/h é cumprida em 8,4 segundos, com máxima a 210 km/h. Comparado ao antigo C4 Picasso, que era equipado com o motor 2.0 a gasolina de 143 cv, a evolução é nítida: cumpria a mesma tarefa em 12,9 s. O combustível é padrão gasolina, e gastou, segundo medição do computador de bordo, 9,8 km/l na cidade e 12,8 km/h na estrada.
A suspensão é McPherson na frente e anti-torção atrás, com certo teor de desconforto, por não absorver muito bem os buracos das grandes cidades. Sendo assim, é certo que o rolamento da carroceria seja baixo. Sobre a direção, precisa e macia, é boa de guiar tanto em ciclo urbano quanto em rodoviário por ser assistida eletricamente.
O porta-malas tem boa capacidade volumétrica. São 537 litros com os bancos recuados e 630 l com os assentos para frente. Apenas como comparação, o Honda HR-V, um dos líderes do segmento, possui 437 l de bagagem, 100 a menos do que o C4.
Tecnologias empregadas
Um dos quesitos para tentar disputar vendas contra o segmento dos SUVs, que detêm 17,71% de todo o mercado nacional, são as tecnologias empregadas. O Citröen C4 Picasso traz Park Assist, monitoramento de ponto cego, Keyless – destravamento das portas por aproximação –, faróis xenônio direcionais com acendimento automático e limpador do para-brisa automático com detector de chuva.
Conta também com freio de estacionamento elétrico e função Hill Assist – que impede que o carro desça em declives –; controle antipatinagem; Pack Luxe por R$ 20 mil, que acrescenta: leitor de placas de velocidade; comutação automática de farol alto e baixo; retrovisores eletrocromáticos; alerta e correção de desvio involuntário de trajetória; correção de trajetória.
Ainda bancos em couro com encosto de cabeça “super conforto”, o assento do condutor com regulagem elétrica e memória; bancos dianteiros com aquecimento e massagem via acionamento elétrico; banco passageiro dianteiro com apoio de pernas com extensão via acionamento elétrico e teto solar panorâmico.
Vale a compra?
Espaçosa, recheada de tecnologias, anda bem e com forte apelo visual. Sim, a compra é boa se você quiser levar filhos, sogra, sogro, bagagens e afins. Entretanto, não vai ficar atrás dos SUVs, a não ser porque a minivan não se configura como tal. O preço, pelo que oferece, é pareável a muitos SUVs que vêm equipados com motores mais “mancos” e aquém em itens tecnológicos. Mesmo com o Pack Luxe, ele sai mais em conta do que o Jeep Compass Trailhawk, capaz de chegar a R$ 182.530, sem tantos mimos.
Ficha técnica – Citröen C4 Picasso – R$ 133.540 + Pack Luxe, por R$ 20 mil
Motor: dianteiro, a gasolina, transversal, 4 cil, 16 V, Turbo com injeção direta e intercooler
Cilindrada: 1,598 cm³;
Potência: 165 a 6.000 rpm;
Torque: 24,5 kgf.m a 1.400 rpm;
Câmbio: automático de seis marchas;
Direção: elétrica;
Suspensão: McPherson com barra estabilizadora na dianteira e travessa semi-deformável na traseira;
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira;
Pneus: 205/55 R17;
Comprimento: 4428 mm;
Largura: 2117 mm (retrovisor a retrovisor);
Altura: 1625 mm;
Entre os eixos: 2785 mm;
Tanque de combustível: 57 litros;
Porta-malas: 537 litros com expansão para 630 l;
Peso: 1.405 quilos