Há cerca de 20 anos, havia uma crescente empolgação com os modelos de teto estendido, capacidade de bagagem ampliada e espaço para a família. Eram as peruas (station wagon), muito apreciadas pelos brasileiros e que geralmente nasciam de modelos (hacthes ou sedans) aceitos pelo público, como a clássica Volkswagen Parati, Ford Escort SW, GM Corsa Wagon, Peugeot 206 SW, Toyota Fielder e, ainda mais nostálgico, Caravan e Belina.
Bem, eram carros estritamente familiares. Mas porque perderam o seu glamour? A não ser pela boa altura em relação ao solo, as peruas não perdem em nada para os donos de pedaço SUVs e crossovers. Oferecem excelente dirigibilidade, conforto e espaço para o consumidor levar o que desejar. Posto isto, deduzo que os utilitários esportivos fecharam o cerco às peruas pelo simples modismo.
Entretanto, prova de que nem tudo está acabado, existem alguns modelos à venda no Brasil. Sob essa égide, avaliamos o Golf Variant 1.4 Comfortline, a partir de R$ 97.020, que chegou ao Brasil em meados de 2015 vindo do México. Ele é idêntico ao hatch até a coluna B. A partir de lá, ganha-se 307 mm no comprimento (total de 4562 mm).
A linha 2017 do Golf Variant trouxe melhorias em um motor que já era bacana. Segundo a VW, a central eletrônica do propulsor (ECU) traz novo software e hardware. Os pistões e anéis foram redimensionados para os 10 cv de bônus frente aos 140 cv de antes. Portanto, o 1.4 TSI flexível com injeção direta de combustível agora entrega para as rodas dianteiras 150 cv entre 4.500 rpm e 5.500 rpm, com torque máximo de 25,5 kgf.m entre 1.500 e 4.000 rpm.
O torque em baixo regime de rotação é excelente para as grandes cidades, pois com espaço limitado conseguir força em alta rotação seria mais complexo, o que é característico de motores naturalmente aspirados, como é o caso do Ford Focus, Toyota Corolla e Honda Civic Sport.
Claro, não estou falando para você andar feito um alucinado na cidade, mas sentir o corpo prensado no banco ao acelerar é muito bacana. Com os 10 cv a mais, agora o Golf perua chega aos 100 km/h em 9,1 segundos e máxima a 207 km/h, ambos com etanol.
O câmbio, até 2016 sendo o DSG com dupla embreagem e sete velocidades, agora abre espaço para o simples automático com seis marchas e mudanças (tiptronic) feitas por aletas atrás do volante ou por acionamento no câmbio.
Outra alteração que empobreceu a perua foi a suspensão traseira, agora do tipo eixo de torção no lugar da multi-link. Assim como na SW, o Golf hatch também perdeu os itens supracitados quando passou a ser fabricado na planta de São José dos Pinhais, no Paraná, o que a Volkswagen argumentou sendo apenas como adaptação ao asfalto degradado (adjetivo atribuído por mim). Esta justificativa pode ter outro viés, em minha opinião, como forma de baratear o carro.
Ao volante
Dirigir o Variant é a mesma coisa do que guiar o hatch. Prazeroso! Vale-se apenas estar atento com o seu tamanho e profundidade em manobras. Mas, para isso, o sensor de estacionamento conversa bem com você e auxilia, tanto na frente quanto atrás, até onde pode ir.
Perfeito seria mesmo se tivesse acrescido a câmera de ré. No entanto, na parte de configuração do site da VW, não aparece como opcional este item, o que eu achei bastante estranho. Procurada, a marca não respondeu até término desta matéria.
Voltemos. No trânsito, a suspensão absorve muito bem os impactos, não sendo “dura” mesmo com as rodas de 17 polegadas e pneus perfil 45 mm. Menos requintada, a suspensão, antes multi-link, agora do tipo eixo de torção, deixou a perua menos estável do que antes quando com posse deste acessório. O câmbio automático também empolga menos do que o antigo DSG, que oferecia trocas mais precisas. Mas nem por isso o carro deixa de ser divertido.
Por dentro
A versão avaliada, como informada acima, foi a Comfotline e veio configurada com o Pacote Exclusive (R$ 10.261). Mesmo assim não tem bancos em couro e o acionamento e desligamento do motor por botão.
Um ponto que me atrapalhou foi a entrada USB estar localizada dentro de um apertado compartimento abaixo da tela, pois demanda dedos finos e longos para por e tirar o dispositivo.
Em contrapartida, a posição de guiar é agradável e o volante multifuncional possui regulagem de altura e profundidade, mesmo sendo item opcional nesta versão. A ergonomia impera na cabine do Variant, com todas as funções em fácil manuseio, principalmente a tela de 6,5 polegadas, bem intuitiva.
Mercado
Mesmo com números baixos nas vendas, o Golf Variant é uma boa opção para quem busca espaço, dirigibilidade e conforto. Mesmo sendo um pouco cara, a versão avaliada custa R$ 115 mil, bem abaixo de alguns concorrentes importados, como Audi A4 Avant e Volvo V60, que partem, em média, nos R$ 140 mil, ou seja, cobram mais por serem marcas premium.
Sendo estes importados – Golf Variant do México, Audi A4Avant da Alemanha e Volvo V60 da Bélgica -, o número de vendas, evidentemente, são baixos. No acumulado até julho de 2017, na ordem acima, foram emplacados 409, 77 e 39 carros. Diluído nos meses, os números ficam em 58, 11 e 5,5 carros comercializados, em tese, a cada 30 dias.
Afinal, vai ou racha?
Vai, pode ir. É um carro família que não abre mão do desempenho. O visual é bacana e chama a atenção por onde passa (talvez por ter poucos modelos nas ruas). O porta-malas da perua tem 605 litros para as bagagens, com expansão para 1620l com os bancos rebatidos. A título de comparação, o esaço do Honda HR-V, líder na categoria dos SUVs, possui 437 litros sem o rebatimento.
É tecnológico, tem conectividade, anda bem, é estável e tem bastante espaço. Afora a altura em que condutor fica nos SUVs e Crossovers, este segmento foi deixado de lado pela gana das pessoas em se apegarem ao que é tendência/moda. Pode ser que isso acabe. Pode ser que não.
Itens de série na versão Comfortline
Sete airbags, ar-condicionado, bancos dianteiros com ajuste lombar, controles eletrônicos de tração e estabilidade, faróis de neblina com luzes de conversão estática, sistema start/stop, central multimídia ‘Composition Media’, rodas de liga leve de 16 polegadas modelo Dover, assistente de partida em rampas, sensores de estacionamento na dianteira e na traseira, retrovisores externos com ajuste elétrico e aquecimento.
Opcionais
Teto solar: R$ 6.200
Pacote Elegance – R$ 6.066
Keyless – sistema de alarme com comando remoto e chave tipo canivete;
Park Pilot – sensores de estacionamento dianteiros e traseiros;
Quatro alto-falantes e quatro tweeters;
Conexão USB e Aux-In;
Controle automático de velocidade com limitador de velocidade “Speed Limiter”;
Espelho retrovisor interno antiofuscante automático (eletrocrômico);
Espelhos retrovisores externos eletricamente ajustáveis, aquecíveis, com “Side Blinker” e função “Tilt Down”;
Rodas de liga leve aro 17 polegadas com pneus 225/45 R17;
Sensores de chuva e crepuscular com função “Coming & Leaving Home”;
Travamento elétrico central com comando remoto;
Volante multifuncional em couro com comandos do rádio,
computador de bordo, piloto automático e trocas de marchas por aletas.
Pacote Exclusive – R$ 10.261,00
Tudo do Elagance, mais:
Sistema infotainment “Discover Media” com tela touchscreen, Bluetooth, comando de voz, navegação e App-Connect;
Travamento elétrico central com comando remoto.
Ficha técnica – Volkswagen Golf Variant 1.4 TSI Flex Comortline
Preço: R$ 97.020
Motor: 4 cilindros em linha, flexível, 1.4, 16V, turbo e injeção direta
Potência: 150 cv a 4.500 rpm (g/e)
Torque: 25,5 kgfm de 1.500 rpm a 4.000 rpm (g/e)
Câmbio: automático com seis marchas
Aceleração: 9,1 segundos
Velocidade máxima: 207 km/h
Direção: elétrica
Suspensões: McPherson (d) eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d) e disco sólido (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,562 m (c), 1,799 m (l), 1,468 m (a)
Entre-eixos: 2,630 m
Pneus: 225/45 R17
Porta-malas: 605 litros
Tanque: 50 litros
Peso: 1.357 kg
Consumo cidade: 10,3 km/l (g) e 7,2 km/l (e)
Consumo estrada: 13,4 km/l (g) 8,9 km/l (e)
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