Suponho que você, leitor, já tenha tentado erguer um castelo de cartas de baralho. O passatempo serve de explicação para a era de Rogério Ceni como treinador do São Paulo, e a analogia é simples de entender.
Ceni começou a construir seu castelo. No início, foi bem, alcançando bons andares rapidamente. Até que, por um movimento em falso, derrubou parte da estrutura. Assim, precisou recomeçar de onde havia uma base mais firme.
E recomeçou. Pacientemente, ergueu mais dois, três, quatro andares. Até que novamente a estrutura veio a ceder, e dessa vez foi ainda mais grave. Ceni, então, recomeçou a construção de um ponto mais distante que o anterior, mas continuou sofrendo com as quedas das cartas.
Durante o trabalho, Rogério Ceni perdeu boa parte de suas cartas, e aos poucos ganhava outras de um novo baralho, mas que ainda precisaria de tempo para se acostumar com o material; mas ele não desistia. Sobretudo porque contava com o apoio de um homem que pagava pelo seu trabalho. A cada retrocesso, o indivíduo parecia ser ainda mais paciente ao construir uma gigantesca imagem de que o Ceni era intocável.
Resumindo
As quedas de estrutura representam o rendimento do São Paulo na temporada. Alguns estragos eram gigantescos, como foram as eliminações do Paulista, da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, todas em menos de um mês. Além disso, os movimentos em falso de Ceni também correspondem aos conflitos gerados nos bastidores do Morumbi, como, por exemplo, toda a polêmica envolvendo o gesto de fair play de Rodrigo Caio.
As cartas que se mantinham na base eram as que nunca cediam. É o caso de Renan Ribeiro, Junior Tavares, Rodrigo Caio, Maicon, Cueva e Pratto. Eram os únicos absolutos de um time que, em seis meses, não encontrou a sua forma ideal. Ademais, na última semana, Michael Bale, braço direito de Ceni na comissão técnica, se demitiu do São Paulo. Ele alegou que foi por conta da adaptação no Brasil, mas a ESPN informou que os treinamentos não estavam sendo dos mais proveitosos, o que teria incomodado o inglês.
Por fim, Leco, que apunhalou Ceni em seu momento mais vulnerável. Agora, o mandatário vive uma situação em que qualquer tropeço do São Paulo na temporada será motivo para ser crucificado, mas uma reviravolta — somente a classificação à Libertadores — poderá lhe oferecer razões para dizer: “acertei em cheio”.
Rogério Ceni tinha boas ideias. Não teve tempo — seis meses é um período muito curto para uma primeira passagem. Pela preparação precoce na Europa, imaginei que ele estaria ciente de onde estaria se metendo ao retornar ao São Paulo — e estava. Seu maior desafio, porém, não foi concluído com sucesso: separar a imagem do ídolo com a do treinador novato.
Ainda acredito no trabalho de Ceni, e as glórias virão com o tempo. Agora é hora de absorver o aprendizado que o Morumbi proporcionou e de ir atrás de mais conhecimento.